Na vida do pescador Leandro Romão da Silva, 36 anos, o impacto do novo coronavírus se mede em quilos de peixes não vendidos. Morador de Brasília Teimosa, na Zona Sul do Recife, ele está preocupado com o que levar para mesa para alimentar esposa e quatro filhos, um deles um bebê de um ano de idade. Vendia 50 quilos de pescados, agora mal chega a 10. Na vida de Natália de Oliveira Ferreira, 27, foi o contrário. Sem casa para morar, dorme na rua, ao lado do marido, nas proximidades da Praça Maciel Pinheiro, na Boa Vista, área central da capital pernambucana. A pandemia tem proporcionado mais refeições, diz ela. Grupos de voluntários passam diariamente para deixar comida para Natália e tantos outros que carecem de moradia e vida digna na cidade.
Leandro e Natália estão entre os milhares de pernambucanos beneficiados pela campanha Atitude Cidadã - Está em nossas mãos, do Sistema Jornal do Commercio de Comunicação (SJCC), em parceria com o Instituto JCPM de Compromisso Social (IJCPM). Diante dos crescentes números da covid-19 e preocupado com os efeitos da pandemia, sobretudo na população mais vulnerável socialmente, o presidente do SJCC, empresário João Carlos Paes Mendonça, capitaneou uma grande mobilização para estimular empresários, comerciantes e a sociedade em geral a fazerem doações para entidades, projetos e unidades de saúde que necessitam de apoio neste momento difícil que o mundo está passando. A campanha, iniciada 19 dias atrás, em 6 de maio, chega ao fim neste domingo. Mas o apelo é para que a onda de solidariedade permaneça, com ou sem cononavírus.
“Esperamos que as pessoas continuem se incomodando e motivadas a apoiar quem precisa. Durante a campanha tivemos doação de cem reais, de um quilo de arroz, de toneladas de alimentos. Vieram de grandes empresas, de pequenos comerciantes ou de cidadãos comuns. Não importa o tamanho da ajuda, importa buscar fazer o melhor pelo outro”, destaca a diretora de Desenvolvimento Social e Relações Institucionais do Grupo JCPM, Lúcia Pontes. “O balanço que fazemos é extremamente positivo, não só pelos valores arrecadados ou pela quantidade de doações. Mas também pelo envolvimento da sociedade, pela participação dos funcionários do SJCC, do IJCPM e do presidente do grupo, João Carlos”, complementa Lúcia.
Leandro foi um dos que recebeu, anteontem, uma cesta básica da campanha. “Tem muita gente aperreada, preocupada sem ter o que comer. Eu vendia 50 quilos de peixe antes dessa pandemia. Continuo pescando, tirando o peixe do mar. Mas está muito difícil. Porque os restaurantes estão fechados. As pessoas que compravam não saem mais de casa. Temos produto para vender, mas falta quem compre”, conta Leandro. “Para piorar não consegui o auxílio emergencial que o governo deu. Mas vou levando a vida”, comenta o pescador.
Moradores das palafitas que ficam no Bode, no Pina, vizinhos de Brasília Teimosa, onde reside Leandro, também receberam os alimentos, levados em três barcos por funcionários do IJCPM. A Colônia de Pescadores Z-1 colaborou com a organização da entrega. Serão 400 cestas repassadas até os próximos dias. “Essa ajuda é mais do que bem-vinda porque vai diminuir a situação calamitosa que algumas famílias estão passando. Sem renda, o pessoal não tem como sobreviver”, ressalta o vice-presidente da colônia, Augusto de Lima Guimarães.
Beneficiária do Bolsa Família e criando sozinha três filhos (15, 12 e 4 anos) num casebre de madeira fincado no mangue, Tatiane Pereira, 34, disse que a cesta básica chegou em boa hora. “Era para ter recebido a parcela do Bolsa Família deste mês, mas ainda não consegui sacar o dinheiro. Já estava pensando em como compraria comida”, relata. A preocupação agora é como fará para adquirir pomada para passar nas pernas da filha caçula. Alérgica a picada de insetos, a menina sofre com a precariedade da moradia. “A bichinha está com a pele toda estourada. É difícil viver em palafita. Quando chove entra água, ratos passam pelos buracos e passam por cima da gente”, afirma Tatiane.
A campanha do SJCC listou 58 instituições (veja aqui) que desempenham ações importantes nas áreas de educação, saúde, cidadania e assistência social. Uma delas é o Coletivo Unificados pela População em Situação de Rua, que durante a pandemia tem percorrido bairros do Recife e Região Metropolitana levando almoço, todos os dias, para quem sobrevive nas ruas, como Natália. Também são servidos café da manhã e jantar no Armazém do Campo, no bairro de Santo Antônio, área central do Recife. Mas não é só alimento que chega para essa população. Eles ganham atenção em dias que o isolamento social, imperativo para diminuir a contaminação da covid-19, também diminui as chances de aparecer ajuda.
Quem quiser contribuir com a iniciativa do SJCC e IJCPM ainda dá tempo. Doações em dinheiro podem ser feitas até hoje no site do Shopping RioMar, com repasse por meio de cartão de crédito. O valor mínimo é R$ 50. Ao entrar na página, o colaborador deve indicar uma das 10 entidades que pretende ajudar. As doações serão repassadas integralmente às entidades.
Há ações como o Coletivo Unificados pela População em Situação de Rua. Outras são projetos em hospitais, em cidades do interior, voltadas para profissionais de saúde ou para desenvolvimento de pesquisas, entre outras. Outro meio de participar da campanha é fazer a doação diretamente às instituições.
“Vivo na rua há 20 anos. Desde que minha mãe morreu, quando eu tinha sete anos, que não tenho casa. Ainda bem que esse coronavírus não fez com que esse pessoal de bom coração deixasse de nos ajudar. Até apareceram mais grupos”, conta Natália. “Se a gente for nos prédios, nas casas, pedir comida, o povo tem medo e não dá nada. Mas vêm pessoas nos ajudar na rua mesmo. Aí Deus ajuda essas pessoas, Deus multiplica para elas o bem que elas fazem para gente”, afirma Natália.