Profissionais de serviços essenciais enfrentam medo e falta de equipamentos

Somente dos servidores de segurança, 415 pessoas receberam diagnóstico positivo para o novo coronavírus
Amanda Rainheri
Publicado em 27/05/2020 às 21:48
FOTO: WELINGTON LIMA/JC IMAGEM DATA: 26.05.2020 ASSUNTO: Operação TI. Seguro no Terminal Integrado Joana Bezerra. Foto: WELINGTON LIMA/JC IMAGEM


Desde que a pandemia do novo coronavírus (covid-19) começou a fazer vítimas em Pernambuco, trabalhadores de serviços considerados essenciais convivem com o medo. São funcionários de supermercados, farmácias, padarias e segurança, que enfrentam a linha de frente fora dos hospitais, mas que estão igualmente expostos ao vírus, muitas vezes sem a mesma proteção.

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Um policial militar que atua no Grande Recife e terá identidade preservada conta que os kits contendo máscara e álcool em gel não são distribuídos a todos os trabalhadores. "O pessoal tem comprado o material do próprio bolso. Também somos nós que higienizamos com álcool as viaturas para podermos trabalhar. Não vemos uma grande preocupação por parte do comando." Segundo ele, alguns trabalhadores chegam a apresentar sintomas de gripe e não são testados para a covid. "Não temo por mim, mas pelos meus familiares", desabafa. 

Na linha de frente desde o início da pandemia em Pernambuco, um bombeiro militar, que também preferiu não se identificar, chegou a ter febre e inflamação na garganta. Apesar disso, não foi afastado do trabalho. Segundo ele, kits com luvas, máscaras, macacão e óculos de proteção estão sendo distribuídos a todo o efetivo. Ainda assim, muitos trabalhadores adoecem. "Tivemos uma baixa grande de soldados que contraíram a doença. Eu diria que em torno de 20% do efetivo do meu quartel." O bombeiro ainda relata o medo dos colegas de trabalho de depender do Hospital da Polícia Militar. "A situação está difícil por lá, porque não tem estrutura. Muitos preferem ir para uma UPA, porque não confiam no hospital."

De acordo com Secretaria de Defesa Social (SDS), de todo o efetivo da segurança, que compreende cerca de 30 mil servidores das Polícias Militar, Civil e Científica, além do Corpo de Bombeiros, 1.026 pessoas foram testadas e 415 positivaram para a covid-19. Dessas, 70% teriam realizado tratamento, cumprido isolamento domiciliar e retornado às atividades. Ao todo, sete servidores da segurança perderam a vida em decorrência do novo coronavírus. Cinco deles eram PMs, um era bombeiro e outro era policial civil.

A SDS informou ainda que diariamente tem empregado 1,6 mil profissionais somente nas cinco cidades da Região Metropolitana do Recife (RMR) que estão em quarentena mais rígida desde o último dia 16. A pasta afirmou que disponibiliza Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) a todos. Sobre o Hospital da Polícia Militar, a SDS informou que R$ 760 mil foram investidos para a montagem de dez novos leitos de UTI para a covid e que a unidade também está abastecida com insumos para oferecer assistência integral aos pacientes.

Outros serviços

O medo também acompanha a funcionária de uma farmácia de manipulação localizada no bairro de Boa Viagem, na Zona Sul da capital, que preferiu não se identificar. "A empresa disponibilizou os EPIs, mas isso não impediu que muita gente adoecesse. Temos funcionários afastados por covid e outros que estão sem trabalhar com crise de pânico. Eu fiquei muito nervosa no início, chorava e pensava em pedir demissão, mas preciso do emprego", desabafa a mulher, de 40 anos.

Presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Produtos Farmacêuticos do Estado de Pernambuco (Sincofarma-PE), Oséas Gomes afirma que os estabelecimentos têm tomado cuidados para evitar o contágio, como uso de EPIs e colocação de barreiras físicas entre clientes e funcionários. Segundo ele, cerca de 20 mil pessoas trabalham em farmácias no Estado, a maioria no Grande Recife. Apesar do setor estar na linha de frente, não existe um balanço das pessoas contaminadas. "É um pequeno percentual", pontua Oséas.

Assim como o Sincofarma, a Associação Pernambucana de Supermercados (Apes) não têm controle de quantos funcionários adoeceram durante a pandemia. Procurada pela reportagem, a entidade não informou sequer a quantidade de trabalhadores do setor no Estado, mas afirmou que cuidados estão sendo tomados. "As empresas colocaram em prática ações como colocação de pias para lavagem de mãos, distanciamento em filas, colocação de um painel rígido transparente entre funcionários e clientes, proteção das máquinas de cartão e distanciamento entre funcionários nos balcões de atendimento", afirma Silvana Buarque, superintendente da Apes.

Funcionária de um supermercado do bairro de Boa Viagem, uma mulher de 54 anos, que não quis se identificar, afirma que as medidas não são o bastante. "Muita gente adoeceu. Simplesmente ter que sair de casa e enfrentar o transporte público já é risco. No trabalho, também estamos expostos. E quem adoece fica com medo de perder o emprego", lamenta.

Testagem

Em nota, a Secretaria Estadual de Saúde (SES) informou que tanto os profissionais de segurança quanto os de saúde são prioritários para a testagem, que pode ser feita nos três centros de testagem montados pelo Estado."Os profissionais de saúde ainda podem fazer as coletas nos seus respectivos serviços. Já os de segurança e de saúde do interior podem entrar em contato com a secretaria municipal para fazer a coleta ou teste rápido", diz o comunicado.

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