O avanço do novo coronavírus no interior de Pernambuco já atinge Petrolina, cidade no Sertão com quinta maior população do Estado que viu a ocupação dos leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) chegar a 100% nesta terça-feira (23). A lotação levou a prefeitura a abrir mais dez vagas no Hospital Universitário e, agora, o município sertanejo totaliza 30 leitos de UTI na rede pública, dos quais 18 estavam ocupados até essa quarta-feira (24), dia de publicação do último boletim. Há, ainda, outros 10 leitos contratados pelo Governo do Estado na rede privada, enquanto o município ainda aguarda a entrega de 40 leitos prometidos pela gestão estadual. O alerta, no entanto, é permanente. Em duas semanas, tempo máximo de incubação do novo coronavírus, os casos confirmados na cidade aumentaram 172%, passando de 390 para 681. No mesmo período, o número de óbitos pela covid-19 dobrou de 11 para 22, entre os dias 10 e 24 de junho.
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O aumento de casos e mortes acompanhou também o crescimento de testagens realizadas em Petrolina. No dia 10, a prefeitura tinha testado 8.250 pessoas, enquanto o Governo do Estado testou 305 munícipes. Nessa quarta, dia 24, números saltaram para 12.174 e 399, respectivamente. Ou seja, mais 4.018 testes foram realizados em duas semanas. Só a prefeitura efetuou a compra de 34 mil testes, segundo a gestão. Do total de casos, 521 confirmações foram feitas por meio dos testes rápidos da prefeitura, enquanto 160 foram diagnosticados através dos exames laboratoriais realizados pelo Laboratório Central de Saúde Pública de Pernambuco (Lacen-PE), regido pelo Governo do Estado. A gestão municipal não soube informar a ocupação de leitos de UTI do dia 10 de junho, o que impossibilitou que a reportagem comparasse os dados de internação no período.
O Plano de Contingenciamento do Governo do Estado prevê a entrega de 50 leitos de UTI para Petrolina, 30 na Unidade de Pronto Atendimento e de Atenção Especializada (UPAE) e 20 em dois hospitais privados. Do total, apenas dez da rede privada foram entregues. Segundo a secretária de Saúde da cidade, Magnilde Albuquerque, não foi dado prazo para a construção do equipamento. "Até esses dias o Estado disse que iria iniciar a abertura de dez leitos na UPAE, mas na semana passada não foram abertos, essa semana está passando e também não foram abertos". A gestão municipal diz cobrar pelos leitos estaduais desde abril, e alega não ter recursos suficientes para continuar cobrindo os custos para atender pacientes de alta complexidade. "A gente precisa que as UTIs sejam abertas, porque se todos os leitos estivessem abertos, estaríamos com um percentual de internação baixo em relação ao número de leitos. O problema é que estão faltando leitos".
A pressão sobre o sistema de saúde de Petrolina aumenta por ela ser uma das 53 cidades integrante da Rede Interestadual de Atenção à Saúde do Vale do Médio São Francisco (Rede Peba). Assim, o município constantemente recebe pacientes da Bahia, que faz fronteira com ele, e também de outras cidades pernambucanas. Atualmente, inclusive, há cinco pacientes do estado vizinho internados nos leitos de UTI da rede pública, e outros dois residentes de Dormentes e Petrolândia, ambos no Sertão de Pernambuco. "Os pacientes desta rede estão vindo para esses leitos de UTI, então fica difícil essa situação, porque [a capacidade] diminui muito mais. A gente continua esperando os 30 leitos do Estado na UPAE e os outros dez da rede privada", afirmou Magnilde.
A prefeitura também aguarda 40 respiradores que devem ser enviados pela Secretaria Estadual de Saúde (SES-PE). "O Governo do Estado se comprometeu a encaminhar 40 respiradores para o Hospital Universitário, que está aguardando o equipamento para ter condições de abrir mais leitos, caso seja necessário", disse a secretária.
No fim desta quinta-feira (25), o Governo de Pernambuco confirmou o envio de 40 respiradores pulmonares e 40 monitores multiparamétricos ao Hospital Universitário da Univasf (HU), localizado em Petrolina.
Além dos aparelhos, também serão encaminhados ao hospital – uma unidade federal, administrada pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) – 45 mil unidades de equipamentos de proteção individual (EPIs), entre máscaras cirúrgicas, capotes cirúrgicos e luvas de procedimento, para garantir a proteção e segurança dos profissionais de saúde que atuam no atendimento aos pacientes com o novo coronavírus. Os insumos, monitores e ventiladores pulmonares devem chegar a Petrolina até o início da próxima semana.
Endurecimento do isolamento social na cidade vizinha
Do outro lado do Rio São Francisco, está a cidade de Juazeiro, na Bahia, com 216 mil habitantes, segundo estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A cidade, que soma 458 casos e 18 mortes pela covid-19, inicia nesta quinta-feira (25) um toque de recolher. Até o dia 1º de julho, está restrita a circulação de pessoas das 18h às 5h. A medida foi anunciada pelo governador da Bahia, Rui Costa (PT), em resposta à ascensão preocupante da curva epidêmica no município. Entre os dias 11 e 25 de junho, a cidade registrou mais 289 casos — um aumento de 271% — e mais oito óbitos pelo coronavírus.
Há, nesta quarta-feira, 16 pacientes de Juazeiro internados em leitos de UTI do município e fora dele. Na cidade, há oito vagas de sala vermelha — que contam com respiradores e monitores cardíacos — na UPA, oito de UTI no Hospital Regional de Juazeiro e cinco disponibilizadas por um hospital privado para atendimento a pacientes covid-19 através do Sistema Único de Saúde (SUS). A assessoria da Secretaria de Saúde de Juazeiro afirmou que, no momento, não há fila de espera por leitos.
Por nota, a prefeitura de Petrolina afirmou que não há sinalização para imitar a cidade vizinha e utilizar o toque de recolher como ação de enfrentamento à proliferação do coronavírus na cidade. “A Prefeitura de Petrolina informa que ainda não há sinalização por parte do Governo de Pernambuco sobre o ‘toque de recolher’, como aconteceu em Juazeiro, cidade vizinha que deverá seguir a norma por determinação do Governo da Bahia. A prefeitura acompanha minuciosamente a evolução da doença em Petrolina, bem como a ocupação de leitos, e diversas medidas de combate à doença vêm sendo adotadas pelo município desde o mês de março, quando surgiu o primeiro caso da Covid-19 no município”.
Suspensão da reabertura econômica
Diante do aumento de casos e atendendo pedido de liminar do Ministério Público de Pernambuco (MPPE), o Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) determinou na quinta-feira (18) a suspensão do Plano de Retomada das Atividades Econômicas de Petrolina, que havia começado no dia 1º de junho, liberando reabertura de comércio, shopping, serviços públicos, parques públicos e templos religiosos, e previa, na sexta-feira (19), analisar se o município deveria avançar para a parte 2 do plano, retomando segmentos como bares e restaurantes. O anúncio do veto foi feito pelo próprio prefeito da cidade, Miguel Coelho (MDB). A partir de agora, a cidade acompanha as etapas de flexibilização do governo de Pernambuco.
2ª menor mortalidade do Nordeste
Apesar do crescimento da curva epidêmica, Petrolina tem a segunda menor mortalidade — 6,3 por 100 mil — pela covid-19 entre as 29 cidades do Nordeste com mais de 200 milhões de habitantes, atrás apenas de Vitória da Conquista, na Bahia, que tem taxa de 3,8 por 100 mil, de acordo com levantamento feito pela própria prefeitura com taxas de casos e mortes da terça-feira (23). As cidades com maior mortalidade são Fortaleza, no Ceará (117,5), Recife, em Pernambuco (100,9), Sobral, no Ceará (98,2), Maracanaú, no Ceará (89,8), e Imperatriz, no Maranhão (86,8).
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O que é coronavírus?
Coronavírus é uma família de vírus que causam infecções respiratórias. O novo agente do coronavírus foi descoberto em 31/12/19 após casos registrados na China.Os primeiros coronavírus humanos foram isolados pela primeira vez em 1937. No entanto, foi em 1965 que o vírus foi descrito como coronavírus, em decorrência do perfil na microscopia, parecendo uma coroa.
A maioria das pessoas se infecta com os coronavírus comuns ao longo da vida, sendo as crianças pequenas mais propensas a se infectarem com o tipo mais comum do vírus. Os coronavírus mais comuns que infectam humanos são o alpha coronavírus 229E e NL63 e beta coronavírus OC43, HKU1.
Como prevenir o coronavírus?
O Ministério da Saúde orienta cuidados básicos para reduzir o risco geral de contrair ou transmitir infecções respiratórias agudas, incluindo o coronavírus. Entre as medidas estão:
- Lavar as mãos frequentemente com água e sabonete por pelo menos 20 segundos, respeitando os 5 momentos de higienização. Se não houver água e sabonete, usar um desinfetante para as mãos à base de álcool.
- Evitar tocar nos olhos, nariz e boca com as mãos não lavadas.
- Evitar contato próximo com pessoas doentes.
- Ficar em casa quando estiver doente.
- Cobrir boca e nariz ao tossir ou espirrar com um lenço de papel e jogar no lixo.
- Limpar e desinfetar objetos e superfícies tocados com freqüência.
- Profissionais de saúde devem utilizar medidas de precaução padrão, de contato e de gotículas (mascára cirúrgica, luvas, avental não estéril e óculos de proteção).
Para a realização de procedimentos que gerem aerossolização de secreções respiratórias como intubação, aspiração de vias aéreas ou indução de escarro, deverá ser utilizado precaução por aerossóis, com uso de máscara N95.
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