O novo coronavírus é ameaça ainda maior para a população mais desamparada. Sem teto, segurança alimentar ou condições de higiene, os moradores em situação de rua encaram mais uma ameaça à sobrevivência. Luís Carlos Correia, de 35 anos, vive nas ruas de Olinda e sabe o risco que enfrenta. "Eu mesmo morro de medo. Tem muita gente que acha que é brincadeira, mas o caso é grave e sério", falou. "Tem que se prevenir, usar álcool em gel, principalmente a gente, morador de calçada, que dorme pelo meio da rua, a atenção tem que ser redobrada. A gente anda muito, se dá com todo mundo", descreveu.
Há mais de dez anos, ele é acompanhado pelos profissionais do Consultório de Rua, iniciativa que presta atendimento em Olinda, na Região Metropolitana do Recife (RMR). Ele foi um dos pacientes que foram testados para a covid-19 nesta quarta-feira (3).
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A data marcou o primeiro dia de testagem da população de rua do município pela equipe multidisciplinar. A meta, segundo o organizador da ação Mário Costa, é fazer a análise em 20 pessoas por dia até o fim do mês, "ou até quando for preciso". “A gente vai circular com uma van oferecendo esses testes na área de atuação do Consultório de Rua e atendendo a demanda de serviços que também lidam com esta população - centros de acolhimento, Centros de Atenção Psicossocial (Caps) etc”, afirmou.
Mário explicou que a testagem vai acontecer em cinco bairros prioritários: Carmo, Varadouro, Peixinhos, Bultrins e Rio Doce. “Nessas localidades a gente já tem vínculo com esses usuários. Mas, passando por esses lugares, a gente vai tendo conhecimento de outras microáreas onde existem populações de rua,e a gente vai fazer o possível para atendê-los”, falou.
“A gente tem um cadastro dessa população. Quando a gente chega a um lugar, enquanto equipe da enfermeira, psicóloga e assistente social fica num ponto fixo da van, os educadores circulam na área e tentam identificar aqueles que são possíveis de fazer o teste”, detalhou.
São esses pessoas que apresentaram sintoma ou que tiveram contato com alguém infectado ou sob suspeita. “O próprio grupo identifica quem pode fazer o teste”, disse. “Eles mesmo começam a substanciar porque entendem o risco que correm. Aqui em Olinda tem uma aceitação legal pela máscaras, por exemplo. Quando se noticiam mortes, casos muito próxima deles, acaba assustando e gerando uma consciência entre eles - fora a orientações que são dadas.”
Apesar de a ação ter começado agora, Mário contou que os moradores vêm sendo monitorados desde março, quando a pandemia chegou a Pernambuco. “Algumas pessoas a gente já tinha testado no centro de referência - a Policlínica Barros Barreto -, e tinha dado não reagente. Essa testagem vai ampliar a questão territorial para que a gente possa chegar ao máximo de pessoas possível”, relatou.