“Juro dedicar minha vida profissional a serviço da humanidade, respeitando a dignidade e os direitos da pessoa humana”. O juramento proferido por 53 estudantes de Enfermagem da Universidade de Pernambuco (UPE) marcou o primeiro passo a ser trilhado na profissão que emprega cerca de 2 milhões de brasileiros, segundo o Conselho Federal de Enfermagem (Cofen), e 26 mil pernambucanos, e que tem como responsabilidade a promoção, prevenção e recuperação da saúde dos indivíduos. As comemorações, no entanto, tiveram que esperar, pois a urgência para cuidar de vidas durante a pandemia do novo coronavírus resultou na necessidade em realizar a Colação de Grau online, na manhã desta quarta-feira (17).
No País, 196 enfermeiros já morreram vítimas da covid-19, aponta relatório do Cofen divulgado nesta terça-feira (16). A taxa de letalidade para a categoria atualmente é de 2,44%. A nova enfermeira Lara Moura, de 23 anos, que trabalhará na rede de saúde da Prefeitura de Goiana, no Grande Recife, revela que o medo em se lançar no mercado de trabalho neste período é latente, mas que não é superior à consciência da preparação que recebeu para o desafio. “Dá aquele medo, uma insegurança e frio na barriga, mas isso foi algo que nossa turma conversou muito, [sobre] o quanto fomos capacitados, o quanto somos gratos a nossa universidade e a nós mesmos. Por mais que a gente se sinta inseguro em questão de experiência, temos certeza da nossa capacidade”, afirmou.
Os estudantes da turma 102, intitulada como “Mentes abertas cultivam almas solidárias”, destacaram em seus discursos a necessidade da valorização da enfermagem no Brasil, lembrando que não há carga horária prevista e nem um piso salarial vigente. “Acho que está sendo valorizada mas ainda precisa de muita coisa. Valorizar a enfermagem não é só postar [homenagens] no Instagram ou bater palmas da janela, é muito mais do que isso. Esse é um trabalho muito árduo que a gente precisa ter um auxílio de políticas públicas”, alegou Camila Santos, de 22 anos, que pretende continuar estudando para residência em saúde mental.
O pedido pelo reconhecimento da profissão também é da formanda Lara Moura. "A gente gostaria de ser mais reconhecido, a enfermagem nunca foi tão valorizada como os demais cursos de saúde. Mas isso não está certo, essa visibilidade deveria ser dada ainda mais nesse período de pandemia, em que são os profissionais de saúde que estão em frente a isto, e que são, inclusive, grande e representativa parte dos infectados. Isso demonstra a importância da gente e a coragem em estar na linha de frente de todo esse problema que o mundo está passando."
“Se emocionem com o nascimento, com a cura de um enfermo, com o muito obrigado de quem não tem nada a lhes oferecer além de algumas palavras e um sorriso. Se emocionem também quando a morte levar alguém. Sejam gente”. O discurso do reitor da Universidade de Pernambuco, o professor Pedro Falcão, durante a solenidade, revelou a gratidão da instituição em formar os novos profissionais em um período crítico na saúde pública. “A universidade cumpre com sua missão de estar formando nossos estudantes que confiaram na UPE para sua formação, e para a gente é um momento de emoção. A gente sabe a dificuldade que os estudantes passaram nesse período para completar a carga horária, e a universidade está ajudando ainda mais a sociedade colocando mais 53 profissionais de saúde para ajudar a salvar vidas nesse momento tão difícil”, revelou, em entrevista à reportagem.
O discurso com a voz embargada de Deuzany Leão, a vice-diretora da Faculdade de Enfermagem Nossa Senhora das Graças (Fensg), braço da Universidade de Pernambuco, levou os alunos às lágrimas. "Vocês aprenderam e me ensinaram todos os dias. Eu aprendi a escutar com vocês e tentei ensinar a vocês como se escuta. Na turma de vocês, tenho certeza eu tenho muitos amigos", declarou. Por fim, a professora citou as qualidades de diversos alunos, encorajou-lhes a serem os melhores profissionais possíveis e pediu que "Canção da América" fosse tocada na transmissão.