De todas as mudanças impostas pela chegada da pandemia do novo coronavírus, talvez a mais dura seja aquela que transformou amor em sinônimo de saudade. Saudade dos abraços, dos beijos, de estar perto de quem se ama. Saudade sentida, saudade curada pela presença, saudade que fica para sempre no peito. O Dia dos Pais será comemorado neste domingo (9) de formas diferentes entre as famílias. Para alguns, será a oportunidade do tão aguardado reencontro entre pais e filhos, após meses de isolamento social. Outros ficarão longe, como forma de carinho e cuidado com quem está mais exposto aos riscos do vírus. E há também quem tire a data para pensar com amor em quem não vai poder estar comemorando junto, mas segue sendo colo e aconchego dentro do coração.
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A estudante Alice Sereno, de 24 anos, mora em Olinda, na Região Metropolitana do Recife (RMR), e não vê o pai, que vive em Cupira, no Agreste do Estado, desde o mês de fevereiro. O Dia dos Pais seria a data em que a família se reuniria para comemorar também o aniversário do avô, que completa 81 anos amanhã. Mas os abraços devem ficar para depois. "Meus irmãos mais velhos moram em São Paulo e Santa Catarina. Um deles viria para cá, para que a gente pudesse comemorar junto, mas por conta da pandemia isso não vai acontecer", lamenta. Alice é a terceira dos quatro filhos de Fábio Sereno, de 55 anos. Apesar de viver longe, o pai sempre se faz presente na rotina dos filhos, seja através de mensagens, ligações ou videochamadas.
"Pra mim, é muito triste, porque a gente quer estar perto. Eu sinto muita falta dele. Meu pai é muito brincalhão, é meu companheiro de risadas e tem uma gargalhada maravilhosa. Quando vejo qualquer coisa engraçada na internet, penso logo nele. Ele tudo pra mim, é meu amigo, meu companheiro, meu exemplo de ser humano", diz, emocionada. Não é só a falta do pai que aperta neste momento. Para Alice, o avô também é uma figura paterna. "Ele tem 81 anos e é grupo de risco para a doença. No Dia dos Avós, fizemos um café com distanciamento social e uso de máscaras, na parte de baixo do prédio, preparado pela minha avó. Apesar de morar perto deles, evito ir lá por conta do risco."
A saudade faz parte da rotina do estudante Gabriel Feitosa, 23. Natural de Arcoverde, no Sertão do Estado, ele se mudou para o Recife há três anos para estudar e passou a viver a mais de 250 quilômetros de distância do pai Marcos Aurélio de Souza, 56. Quando a pandemia chegou a Pernambuco, em março, e as aulas foram suspensas, Gabriel foi para o Sertão passar uma temporada com a família, mas desde junho não vê o pai. A saudade, desta vez, está próxima de ter fim. Pai e filho devem se reencontrar hoje para comemorar o Dia dos Pais, desta vez no Recife. "Fico feliz de poder passar este momento ao lado dele, porque a gente sempre se reuniu nesta data para almoçar ou jantar junto. Ao mesmo tempo, fico receoso pelo risco. Foi algo em que eu pensei também quando fui para lá no início da pandemia. Era uma realidade diferente, em que a gente não podia se aproximar ou abraçar", conta.
Ainda que breve, o encontro é aguardado por Gabriel. "Sou o filho mais novo e me considero muito apegado ao meu pai. O tempo que a gente passa junto, seja vendo um filme, passeando ou só conversando, é sempre muito bom."
O Dia dos Pais será de uma saudade diferente para Sarah Cruz, 27. Em junho, a desenvolvedora perdeu o pai Fredd Willham, aos 52 anos, para a covid-19. Mesmo morando longe desde 2018, quando ele se mudou para Rio Branco, no Acre, os dois tinham uma relação muito próxima. "A gente se falava muito por texto, vídeo ou chamada. Lembro dele sempre muito presente, alegre, ajudando as pessoas. Sempre tentava colocar os outros pra cima e falava muito em Deus. Amava fazer as corridas dele, andar de bicicleta. Dizia que era atleta", lembra, com carinho.
Mesmo no momento mais difícil, Sarah conta que foi o pai quem deu forças a ela. "Quando ele piorou dos sintomas e internou, a gente começou a fazer ligação do hospital. Todos os dias a gente conversava. Quando o quadro começou a piorar, ele falava menos por conta da falta de ar, mas lembro que em uma das nossas últimas conversas, enquanto eu chorava, ele me pedia para ser forte." É assim que Fredd vai seguir para sempre no coração da filha: com o sorriso que os mais próximos conheciam tão bem. Por enquanto, fica a saudade. Saudade que também é sinônimo de amor.