Greve dos rodoviários do Grande Recife começa com poucos ônibus nas ruas e muita espera nas paradas

O encontro da Avenida Conde da Boa Vista com a Avenida Guararapes, por exemplo, que geralmente possui intensa movimentação de veículos em dias normais, amanheceu tranquilo e praticamente vazio nesta terça
JC
Publicado em 22/12/2020 às 6:20
Greve dos Rodoviários na manhã desta terça-feira (22) deixa ruas do centro do Recife praticamente vazias Foto: BRUNO CAMPOS/JC IMAGEM


A greve dos rodoviários da Região Metropolitana do Recife (RMR) começou nesta terça-feira (22), e como forma de diminuir os transtornos aos usuários de transporte público, o Sindicato das Empresas de Transportes de Passageiros no Estado de Pernambuco (Urbana-PE) informou que colocaria 70% da frota de ônibus nas ruas. Apesar disso, o que se observa nas ruas do Recife é a pouca movimentação de ônibus, com apenas 20% da frota em circulação, e uma grande espera nas paradas. O encontro da Avenida Conde da Boa Vista com a Avenida Guararapes, por exemplo, que geralmente possui intensa movimentação de veículos em dias normais, amanheceu tranquilo e praticamente vazio nesta terça. 

Nos terminais integrados e paradas de ônibus, no entanto, o cenário é de tumulto e aglomeração. Por conta da quantidade mínima de ônibus circulando, muitas pessoas não estão conseguindo embarcar, e outras optam por seguir viagem em veículos extremamente lotados. 

Veja imagens:

Alda Araújo, de 49 anos, utiliza o transporte público diariamente para se locomover em direção ao trabalho. Segundo ela, que aguarda um ônibus da linha Parnamirim/Macaxeira, a espera têm sido grande. "Estou aqui [na parada] desde às 7h15 esperando o ônibus. Não passou nenhum", lamenta. 

 

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Empresários de ônibus garantem que vão colocar 70% da frota nas ruas

Por conta da greve, o setor empresarial garantiu que vai colocar 70% da frota de ônibus nas ruas nesta terça-feira (22). Esse percentual seria para os horários de pico da manhã (5h às 9h) e da tarde (16h às 20h) e representaria quase dois mil coletivos nas ruas. No restante do dia a meta é operar com 50% da frota. 

O setor empresarial, inclusive, está recorrendo à Justiça do Trabalho para garantir a oferta do serviço durante o movimento. A qualquer momento o Tribunal Regional do Trabalho da 6ª Região (TRT 6ª Região) poderá se posicionar sobre uma liminar. A Urbana-PE quer a garantia de 70%. “Vamos sair com os ônibus. Estaremos com 70% da frota nas ruas. Nossos clientes não podem ser mais prejudicados, ainda mais numa época dessas, em meio a uma pandemia e às vésperas do Natal. Já são 15 paralisações realizadas este ano. É demais”, critica o presidente da Urbana-PE, Fernando Bandeira.

O setor empresarial aposta, ainda, nas três liminares judiciais que possui e que impedem o bloqueio das garagens das empresas Metropolitana, Transcol e Pedrosa. As decisões provisórias, concedidas pela Justiça do Trabalho, proíbem os grevistas de bloquear a saída das garagens, embora reconheçam o direito à manifestação.

Metrô do Recife amplia horário de pico durante a greve dos rodoviários

Buscando diminuir o impacto para os passageiros, a Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) vai ampliar o horário de pico do Metrô do Recife em uma hora, tanto pela manhã quanto no fim do dia, enquanto durar a paralisação.

De acordo com a CBTU Recife, a medida visa beneficiar os passageiros proporcionando mais viagens de trens, para facilitar o deslocamento no Grande Recife. Os horários de pico do sistema são definidos de acordo com o número de passageiros transportados e, consequentemente, possuem uma maior quantidade de trens em operação.

Pela manhã, o horário de pico se estenderá até 9h30. No final do dia, até 21h. Mesmo transportando praticamente metade dos passageiros do pré-pandemia, as pessoas que usam o sistema metroviário também devem se preparar para enfrentar transtornos com a superlotação dos trens.

Greve dos cobradores e motoristas no Grande Recife

A greve dos rodoviários iniciada nesta terça-feira (22) foi aprovada por unanimidade durante votação realizada na manhã do último dia 16 de dezembro, e validada na segunda rodada da assembleia da categoria. A categoria, inclusive, garante nem querer fazer negociação. Diz que foi enganada diante da Justiça no fim de novembro, quando uma greve tinha sido aprovada para acontecer às vésperas do segundo turno das eleições municipais e foi suspensa devido a um acordo.

"Estamos fazendo a greve porque os patrões e o governo do Estado não nos deram outra alternativa. Não respeitaram sequer a Justiça. Descumpriram todos os acordos. Agora, vão ter que cumprir o acordado através da nossa greve. Chegou o momento de nós darmos a nossa resposta. Queremos um bom salário, um bom reajuste, mas a nossa greve é por muito mais do que isso. É por dignidade e respeito", afirmou Aldo Lima, presidente do Sindicato dos Rodoviários.

O acordo citado pelo presidente dos rodoviários é o que foi firmado numa audiência de conciliação mediada pelo TRT 6ª Região, no qual o governo de Pernambuco se comprometeu, via portaria (167/2020), a fazer valer a Lei Municipal do Recife 18.761/2020, que proíbe a dupla função de motoristas nos ônibus da capital, e a exigência de um cobrador por linha operada em toda a RMR. Mas, dias depois, a lei da dupla função foi suspensa por inconstitucionalidade pelo Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) após receber um parecer, também de inconstitucionalidade, da Procuradoria Geral do Estado (PGE).

Diante desse cenário, o governo de Pernambuco suspendeu a Portaria 167/2020, que era a aposta dos motoristas e cobradores para acabar a dupla função nos ônibus da RMR. Atualmente, 70% das linhas do sistema da RMR operam sem cobradores e 2.416 motoristas acumulam a função de cobrador, ou seja, recebem dinheiro e passam troco além de dirigir. Além disso, os rodoviários também alegam que os empresários de ônibus desrespeitaram outros pontos do acordo, como a garantia de emprego de seis meses e o pagamento do reajuste salarial retroativo ao mês de julho.

Os empresários de ônibus, por outro lado, criticam a decisão de greve dos rodoviários e garantem que estão cumprindo o que foi acordado diante do TRT. Que a lei da dupla função perdeu o valor porque foi considerada inconstitucional pelo TJPE e pela PGE.

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