Com greve de rodoviários nos dias "mais fortes do ano" para o comércio, CDL Recife lamenta prejuízos

Em entrevista à Rádio Jornal, o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), Fred Leal, espera que haja um acordo entre a classe trabalhadora e os empresários
JC
Publicado em 23/12/2020 às 10:54
Segundo o dirigente lojista, a paralisação acontece no melhor período para o comércio, no final do ano, e o prejuízo pode chegar a 20% Foto: BOBBY FABISAK/JC IMAGEM


Em um ano já sofrido para o comércio em todo o mundo por causa da pandemia da covid-19, lojas localizadas na Região Metropolitana do Recife (RMR) têm enfrentado queda no faturamento desde que a greve de rodoviários foi deflagrada, nessa terça-feira (22). É o que diz o presidente eleito da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), Fred Leal, que concedeu entrevista para a Rádio Jornal na manhã desta quarta-feira (23). Ele esperava que a classe trabalhadora e os empresários chegassem a um acordo na reunião dessa quarta, o que não aconteceu. No entanto, a greve pode ser suspensa ainda nesta tarde, por decisão do próprio sindicato.

Segundo o dirigente lojista, a paralisação acontece no que deveria ser o melhor período para o comércio, no final do ano, e o prejuízo pode chegar a 20%. "Eles escolheram os dois dias mais fortes do ano para fazer a greve, dias 22 e 23. O prejuízo é muito grande, não só para o comércio, mas para todo o setor de serviços, que fica impedido de locomoção e mobilidade. Eu diria que foi uma perda de pelo menos 20%, mas isso é uma previsão. Falei hoje de manhã cedo com o pessoal do centro, principalmente, e realmente foi sentida muito a perda de fluxo", explica.

A greve dos rodoviários acontece, principalmente, contra a dupla função. A categoria diz ter sido enganada diante da Justiça no fim de novembro, quando uma greve tinha sido aprovada para acontecer às vésperas do segundo turno das eleições municipais e foi suspensa devido a um acordo. Na audiência de conciliação entre rodoviários e empresários, realizada nesta quarta (23) com mediação do Tribunal Regional do Trabalho da 6ª Região (TRT 6ª), não houve acordo, mas há a expectativa de fim da greve.

A CDL espera que as categorias se entendam. "Eu lamento profundamente o pessoal responsável pela mobilidade não ter chegado a um acordo, espero que hoje tenha uma solução. O comércio não pode mais ter esse prejuízo, foi um ano muito difícil, dezembro está sendo difícil. Talvez a gente vai chegar a 80% do que vendemos no ano passado, alguns setores menos, mas a gente esperava pelo menos vender o mesmo. Não dá para aguentar tanto prejuízo, vamos começar um ano ruim com a notícia dessa greve", afirmou o presidente.

Fred explica que, ainda que os coletivos voltem a circular totalmente nesta quarta, já foram perdidos dois dias de venda. "Acho que se voltar [a funcionar normalmente] hoje, você recupera amanhã um pouco, mas aí tem um problema de atendimento, de aglutinação. Quando tem a greve, você tem logo uma interrupção da mobilidade de manhã. Geralmente o pessoal vem comprar em torno de 9h, 10h, e fica até 12h, 14h. Depois tem um novo repique lá para as 15h e fica até 18h. O pessoal fica com receio de vir e não poder voltar, então fica em casa. Se voltar hoje, volta às 10h, 12h, então já perdemos dois dias", disse.

Greve dos cobradores e motoristas no Grande Recife

A greve dos rodoviários iniciada nesta terça-feira (22) foi aprovada por unanimidade durante votação realizada na manhã do último dia 16 de dezembro, e validada na segunda rodada da assembleia da categoria. A categoria, inclusive, garante nem querer fazer negociação. Diz que foi enganada diante da Justiça no fim de novembro, quando uma greve tinha sido aprovada para acontecer às vésperas do segundo turno das eleições municipais e foi suspensa devido a um acordo.

"Estamos fazendo a greve porque os patrões e o governo do Estado não nos deram outra alternativa. Não respeitaram sequer a Justiça. Descumpriram todos os acordos. Agora, vão ter que cumprir o acordado através da nossa greve. Chegou o momento de nós darmos a nossa resposta. Queremos um bom salário, um bom reajuste, mas a nossa greve é por muito mais do que isso. É por dignidade e respeito", afirmou Aldo Lima, presidente do Sindicato dos Rodoviários.

O acordo citado pelo presidente dos rodoviários é o que foi firmado numa audiência de conciliação mediada pelo TRT 6ª Região, no qual o governo de Pernambuco se comprometeu, via portaria (167/2020), a fazer valer a Lei Municipal do Recife 18.761/2020, que proíbe a dupla função de motoristas nos ônibus da capital, e a exigência de um cobrador por linha operada em toda a RMR. Mas, dias depois, a lei da dupla função foi suspensa por inconstitucionalidade pelo Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) após receber um parecer, também de inconstitucionalidade, da Procuradoria Geral do Estado (PGE).

Diante desse cenário, o governo de Pernambuco suspendeu a Portaria 167/2020, que era a aposta dos motoristas e cobradores para acabar a dupla função nos ônibus da RMR. Atualmente, 70% das linhas do sistema da RMR operam sem cobradores e 2.416 motoristas acumulam a função de cobrador, ou seja, recebem dinheiro e passam troco além de dirigir. Além disso, os rodoviários também alegam que os empresários de ônibus desrespeitaram outros pontos do acordo, como a garantia de emprego de seis meses e o pagamento do reajuste salarial retroativo ao mês de julho.

Os empresários de ônibus, por outro lado, criticam a decisão de greve dos rodoviários e garantem que estão cumprindo o que foi acordado diante do TRT. Que a lei da dupla função perdeu o valor porque foi considerada inconstitucional pelo TJPE e pela PGE.

O retorno dos usuários de ônibus para casa, nesta terça-feira (22), primeiro dia de paralisação de rodoviários do Grande Recife, foi complicado. O sindicato das empresas de ônibus havia garantido que teria 70% da frota para garantir o transporte da população nos horários de pico, mas, de acordo com o Grande Recife Consórcio de Transporte, apenas 832 veículos circulavam por volta das 16h, o que representa 34% da frota programada pelo órgão gestor para o período. Nas paradas, os passageiros relataram longa espera pelos coletivos.

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