Morre, vítima de covid-19, o pediatra pernambucano Assuero Gomes

Médico estava internado há duas semanas e morreu na noite de Natal. Além de pediatra, Assuero era escritor e artista plástico. Bastante católico e ligado a dom Helder, ele desenvolveu ações sociais
JC
Publicado em 26/12/2020 às 10:43
LUTO Pediatra não resistiu à covid-19 e faleceu na noite do dia 25 Foto: Divulgação


Mais um profissional de saúde perde a luta para a covid-19. O pediatra Assuero Gomes, 65 anos, morreu no final da noite desta sexta-feira (25), dia de Natal, depois de duas semanas internado no Hospital da Unimed, no Recife. Assuero era casado e tinha três filhos. Além da medicina, ele era muito ligado a projetos sociais, inspirado nos ideais do arcebispo emérito de Olinda e Recife, dom Helder Camara, falecido em 1999. Também escrevia artigos para o Jornal do Commercio.

O presidente do Conselho Regional de Medicina de Pernambuco (Cremepe), Mário Fernando da Silva Lins, lamentou a morte do amigo. Assuero era o 3º vice-presidente e conselheiro da autarquia.

"Em nome do Cremepe: Obrigado amigo e conselheiro Assuero Gomes, por tudo que você nos ensinou e proporcionou, gratidão e reconhecimento. Aos familiares, nossa reverência e mais profundas condolências. Um momento de muita tristeza para todos nós. Funcionários, colaboradores e conselheiros em luto profundo! Vá em paz, meu amigo", escreveu Mário Fernando.

Um dos filhos de Assuero, Thomás Sôlha Gomes, postou um texto em sua rede social falando da partida do pai. Em um trecho ele diz: "Numa noite de Natal, a primeira de Aquários, a Estrela de Belém levou meu pai, agora ele cuida de mim ainda mais. Ele já não depende de Kronos para nada e fez da eternidade a sua morada. Meu bom pastor foi embora e cuidarei de suas ovelhas e suas cabras. Serei manjedoura no seu presépio e honrarei sua passagem. Obrigado ao Supremo, que não tem sexo nem nome, obrigado por levá-lo em paz".

Divulgação/Simepe - Assuero Gomes também era escritor

O Sindicato dos Médicos de Pernambuco (Simepe), entidade que Assuero também participava, divulgou nota lamentando a partida do pediatra. "Prestativo, uma fonte de simpatia e carinho. Faltarão sempre palavras pra descreve-lo. Tão católico, quis Deus que Dr. Assuero fosse para junto dele justo no dia do nascimento de Cristo. Que essa partida seja, na verdade, um novo recomeço. Agora, com uma missão muito maior: a de nos guardar olhando lá de cima, com a mesma empatia e respeito com a qual pautou sua vida inteira aqui na terra", destacou o sindicato.

AÇÕES SOCIAIS

Bastante católico, o médico foi um dos fundadores do Grupo Igreja Nova, criado 29 anos atrás e que segue os ideais de dom Helder. Colaborava com a Casa de Frei Francisco, braço social do Instituto Dom Helder Camara (Idhec).

Inspirado no Dom da Paz, ele criou um restaurante popular, no Bongi, chamado de Dom da Partilha, para vender almoço por R$ 1. Foi criado em 2006 e durou pouco mais de um ano. Cerca de 350 pessoas comiam a quentinha todos os dias.

"Admirador da vida e da obra de Dom Helder, Assuero foi diretor e ativo participante do Idhec. Lá, no terraço dom Lamartine, foi um dos fundadores do Grupo da Partilha", relembra o presidente da entidade, Antônio Carlos Maranhão. "Com seu dinamismo e sua fé inabalável sempre conseguiu transformar em realidade seus projetos, às vezes considerados como visionários por seus companheiros de grupo, como a realização por 13 anos consecutivos das Jornadas Teológicas Dom Helder Câmara", diz Antônio Carlos.

ESCRITOR

Nascido em 1º de outubro de 1955, Assuero Gomes formou-se pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) em 1980 e especializou-se em pediatria, ajudando a trazer ao mundo centenas de crianças em sua atuação na neonatologia. Além de médico, era escritor e artista plástico.

Durante sua carreira, o pediatra trabalhou em importantes unidades de saúde de Pernambuco, como no antigo Hospital Santa Lúcia, hoje Hospital e Maternidade Nossa Senhora do Ó, Hospital De Ávila e como conselheiro da Unimed Recife, além de compor o Conselho Fiscal da Sicredi.

Junto às entidades médicas, era também diretor executivo do Sindicato dos Médicos de Pernambuco (Simepe), onde construiu suas obras “Tributo a Gaudí” e “Caminhos da Andaluzia para Maimônides”. Em 2019, ele lançou o livro “Minhas Memórias da Igreja de Olinda e Recife”.

Em maio deste ano, como gostava de escrever e reflexões, publicou em suas redes sociais: “Como numa nave sem rumo vagueiam nossos sonhos. Quantos foram enterrados nos corpos desse Brasil que chora? E que agora não acordarão mais, para sonhar conosco”, escreveu sobre a pandemia de Covid-19.

Divulgação/Simepe - Mural Caminhos de Andaluzia para Maimônides, feito por Assuelo e que está no Sindicato dos Médicos de Pernambuco
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