Um ano atrás, depois de observar níveis alarmantes de proliferação da covid-19, a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarava que o planeta vivia uma pandemia. Naquele 11 de março de 2020, eram cerca de 118 mil casos e 4.291 mortes provocadas pelo novo coronavírus no mundo. Doze meses depois, os números são mais assustadores: 118 milhões de doentes e 2,6 milhões de óbitos, com recordes diários de vítimas fatais e contaminação, sobrecarga nos hospitais (sobretudo nos leitos de UTI), equipes de profissionais de saúde no limite.
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No Brasil - terceiro país com mais infectados (11 milhões de pessoas), perdendo apenas para Estados Unidos e a Índia - associado a tudo isso há a vacinação ainda em ritmo lento e flagrantes diários de descumprimento, pela população, das medidas sanitárias para conter a disseminação do vírus. Diante do cenário próximo de entrar em colapso, médicos, cientistas e gestores públicos alertam para a gravidade da situação.
Em Pernambuco, até essa quarta-feira (10), a Secretaria Estadual de Saúde contabilizou 311.558 casos da doença (33.190 graves e 278.368 leves) e 11.246 mortes. Amanhã completa um ano que os dois primeiros doentes foram notificados no Estado: um casal que havia viajado, no final de fevereiro de 2020, para o Egito e a Itália. Naquele momento, o Norte da Itália vivia um surto provocado pela covid-19, enfermidade identificada inicialmente na China no fim de 2019.
"A realidade hoje, em Pernambuco, eu diria que é pior que a do início da pandemia. Quando o governo decretou lockdown, em maio do ano passado, as ruas ficaram mais vazias e as pessoas perceberam que algo complicado estava acontecendo. Hoje a impressão, vendo a normalidade nas ruas, é que as pessoas não acreditam no caos que está nos hospitais. A situação é muito grave, a população precisa entender que estamos vivendo uma verdadeira segunda onda da covid-19 e não aquele aumento de casos que houve em novembro e dezembro", destaca o médico Demetrius Montenegro, chefe do Departamento de Infectologia do Hospital Universitário Oswaldo Cruz, ligado à Universidade de Pernambuco (UPE) e que se tornou a primeira unidade de referência no Estado para tratamento da doença.
"Estamos abrindo novos leitos para covid-19 em tempo recorde, com uma média de, no mínimo, 10 de UTI por dia. No entanto, a velocidade da doença está assumindo um ritmo muito forte. Neste momento, não temos escolha: ou a sociedade se engaja no enfrentamento da pandemia, ou vai haver grande escassez de vagas nos hospitais e teremos mais mortes", enfatiza o secretário estadual de Saúde, André Longo. Ontem a ocupação de leitos de UTI na rede pública estava em 95%.
"Compreendo que, passado um ano de pandemia, muitos estejam cansados das medidas de contenção. Mas precisamos ter empatia e adotar medidas que gerem proteção para todos. A sociedade precisa estar ciente que os próximos dias serão de muita dificuldade e só o respeito aos protocolos e o avanço da vacinação serão capazes de minimizar a aceleração da doença", complementa Longo.
O Observatório Covid-19 da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) defende a adoção de medidas mais rigorosas de restrição da circulação e das atividades não essenciais, de acordo com a situação epidemiológica e capacidade de atendimento de cada região. Em Pernambuco, serviços não essenciais estão proibidos de funcionar no próximo fim de semana. Já de segunda à sexta-feira podem abrir até 20h. A determinação vale até o dia 17.
Apesar dos números preocupantes, o governador Paulo Câmara descartou lockdown nos próximos dias. Pesquisador da Fiocruz, infectologista e professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Paulo Sérgio Ramos discorda. "Medidas mais restritivas, como o lockdown, já deveriam ter sido decretadas."