Sylvio Cavalcanti, 72 anos, e Solange Catunda, 66, foram as primeiras pessoas, em Pernambuco, a terem o novo coronavírus. Após uma viagem ao Egito e Itália, no final de fevereiro de 2020, Solange começou a sentir febre, moleza, falta de ar e dor de cabeça. Sylvio apenas um cansaço. Naquela época, o norte da Itália despontava com maior foco da doença. Sem melhorar dos sintomas e achando se tratar de uma gripe, o casal procurou o Hospital Português, no Recife. Ao informarem que haviam viajado para a Itália, foram logo internados e isolados. Em 12 de março, o governo estadual anunciou que eles eram os dois primeiros casos confirmados de covid-19.
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Solange ficou 17 dias hospitalizada. Sylvio, num quadro mais grave, passou 65 dias na UTI, dos quais 25 entubado. "Não tínhamos noção da gravidade. Mas com o agravamento da situação de Sylvio, me desesperei. Só fazia chorar, rezar e pedir aos médicos que cuidassem dele. Houve um empenho dos profissionais. Permiti que nossos casos fossem usados em estudos internacionais, uma maneira de ajudar a humanidade", diz Solange. "Infelizmente ainda estamos com a doença no Estado. Mesmo tendo tido coronavírus, adotamos os protocolos, como uso de máscaras. E nos mantemos isolados", explica Sylvio.
Nesta quinta-feira (11), faz dois meses que a advogada Marylia Santos, 67 anos, perdeu a mãe, vítima de covid-19. Vilma Augusta Santos, 89, morreu em 11 de janeiro. Entre a descoberta da doença, internamento em hospital e a morte foram 12 dias. "Adotávamos rigor extremo, algumas pessoas diziam até que era histérico. Mamãe quase não saía. Quando isso acontecia, estava de máscara e face shield. Levávamos álcool para higienizar mãos e o que ela tocasse", conta Marylia.
Vilma era ativa e lúcida. No último dia de 2020, Marylia percebeu a mãe mais lenta, a ponto de precisar ajudá-la a se vestir para o jantar do Ano Novo. Foi quando notou que ela estava com febre. Imediatamente levou-a para um hospital, em Fortaleza, para onde tinham ido encontrar com um outro filho de Vilma. O exame para covid-19 deu negativo. De volta ao Recife, Vilma foi internada, com 65% do pulmão comprometido. "Quando a levaram para a UTI, pediu por tudo para não ir, dizendo que adorava viver. Cinco dias depois, morreu. A dor é tanta que agora pode me chamar para uma guerra que estou pronta."