Na Avenida Recife, funcionários de estabelecimento comercial precisam ser resgatados de bote para conseguir sair do local
De acordo com monitoramento da Agência Pernambucana de Águas e Clima, só nas últimas 12 horas foram mais de 50 milímetros de chuva registrados em municípios como Recife, Olinda e Paulista
O trânsito no Grande Recife já iniciou bastante complicado na manhã desta sexta-feira (14), após muitas horas de chuva forte e intensa. De acordo com monitoramento da Agência Pernambucana de Águas e Clima, só nas últimas 12 horas foram mais de 50 milímetros de chuva registrados em municípios como Recife e Olinda. Com tanto acúmulo de água, o que não falta nesta manhã são pontos de alagamento dificultando a locomoção das pessoas pelas ruas, que mais parecem rios.
Na capital pernambucana, pontos da Avenida Recife estão completamente submersos. Logo na entrada do bairro do Ibura, na Zona Sul, o que se vê é muita água, além de diversos carros quebrados no meio da avenida. O veículo de Leonardo Filho é um destes. "Tentei passar, mas é tanta água que não consegui. O carro enguiçou mesmo sendo alto", revelou ele, que é médico intensivista e atua no enfrentamento da covid-19 no Estado. Atrasado e ilhado, ele aguarda por um guincho para fazer a retirada de seu veículo do local.
Além de Leonardo, outras tantas pessoas passam um tremendo sufoco para se locomover na localidade, que está intransitável. Cansados de esperar, muitos arriscam e tentam atravessar a pé a avenida, enfrentando a água na altura da cintura. Em um estabelecimento comercial da área, os funcionários precisaram passar a noite na empresa por não conseguirem sair. Nesta manhã, eles foram resgatados com a ajuda de um pequeno bote.
A Avenida Mascarenhas de Morais, por sua vez, praticamente desapareceu. Localizada na Imbiribeira, também Zona Sul, a avenida foi tomada pela água e poucos carros arriscam passar pelo local. Já em Nova Descoberta, na Zona Norte, a água chegou a bater na metade do para-brisa dos ônibus.
Os problemas não param por aí. Além do Recife, outros municípios da RMR se encontram na mesma situação de caos. Na entrada do bairro de Caixa d'Água, em Olinda, por exemplo, a chuva não para e os transtornos são inúmeros. Com o rio Beberibe cheio e com muito lixo, a rua que dá acesso ao bairro foi invadida pela água. Para percorrer a via, os veículos precisam passar com muita lentidão e cuidado. Carros de passeio, bicicletas, motos e até mesmo ônibus e caminhões passam com dificuldade. Por conta do alagamento, muitos veículos acabaram perdendo suas placas dianteiras.
Além disso, diversos estabelecimentos comerciais foram prejudicados pela chuva e ficaram impossibilitados de funcionar. Para Rodolfo Paraíso, que é proprietário de uma loja de roupas no local, o dia foi perdido. Ele precisou enfrentar diversos pontos de alagamento ao sair de casa até chegar em seu comércio, mas não poderá deixar a loja aberta, já que o imóvel se encheu de lama. "Foi horrível pra chegar aqui, muita água, e agora vou ter que voltar pra casa porque não tem como deixar a loja aberta nessa situação", disse.
Ainda em Olinda, em um trecho da Avenida Presidente Kennedy, um buraco enorme se formou no chão e os moradores precisaram improvisar com um pedaço de madeira para tentar evitar um acidente.
Veja outras localidades que também registraram pontos de alagamento:
- Cidade Tabajara, Olinda;
- PE-15, Olinda;
- Avenida Pedro Álvares Cabral, em Jardim Atlântico, Olinda;
- Avenida Cabral Manoel Rabelo, no bairro do Socorro, Jaboatão dos Guararapes;
- BR-101, em Prazeres, Jaboatão dos Guararapes;
- Comportas, Jaboatão dos Guararapes;
- Cavaleiro, Jaboatão dos Guararapes;
- Conjunto Beira Mar, Paulista;
- Mirueira, Paulista;
- Fosfato, Abreu e Lima;
Estragos na quinta-feira
Com locais registrando mais de 269 mm de precipitação nas últimas 24 horas, a quinta-feira (13) foi marcada por morte, vários deslizamentos de barreiras e alagamentos em diversos pontos.
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Só no Recife, foram 360 pedidos de socorro por vistorias e colocação de lonas nas áreas de morros até o início da noite. Em Jaboatão dos Guararapes não foi diferente. Pelo menos 44 deslizamentos de barreiras foram registrados pela prefeitura. Um deles, no bairro de Cavaleiro, acabou de forma trágica: quatro pessoas de uma mesma família ficaram soterradas após a destruição da casa onde eles moravam. O pai, a mãe e os dois filhos (ambos adolescentes), foram cobertos pela terra.
Mesmo sob risco, moradores da localidade, com os próprios braços, lutaram para resgatar as vítimas, enquanto aguardavam a chegada das equipes do Corpo de Bombeiros. Em conjunto, as buscas foram realizadas durante toda a noite, sob forte chuva e alto risco de novo deslizamento de terra. O corpo do garoto de 16 anos foi o primeiro a ser encontrado.
Foto: Artur Borba/JC Imagem
Na manhã desta sexta-feira (14), o corpo da mãe também foi localizado. O pai e a menina de 11 anos seguem sendo procurados pelos Bombeiros. O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) montou um ponto de apoio no local.
De acordo com a Defesa Civil, que também foi até o local da ocorrência, a chuva abriu uma fenda de aproximadamente 100 metros na barreira, causando o deslizamento. Por medida de segurança, cinco residências que ficam nas proximidades do acidente foram interditadas, já que a possibilidade de ocorrer uma nova movimentação de terra chega a 80%, segundo informou o órgão.
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Por pouco, tragédia semelhante não aconteceu no bairro de Jardim Paulista Alto, em Paulista. Segundo a Defesa Civil do município, moradores do local registraram uma ocorrência para o órgão. Equipes se dirigiram até o local, e, ao chegar, verificou o "perigo iminente de desabamento e retirou com sucesso as pessoas da área". Cerca de 10 minutos depois, a barreira desabou. As famílias foram encaminhadas para a Secretaria de Políticas Sociais.
Outro deslizamento aconteceu na Rua Expedicionário Francisco Vitorino Ladeira, na UR-11, em Jaboatão dos Guararapes, onde parte da terra de uma barreira despencou na rua. Cerca de duas casas foram atingidas pelos destroços; uma delas está coberta praticamente pela metade. Muitos moradores se juntaram para retirar a terra com enxadas, já que continua deslizamento. Um dos moradores chegou a ficar soterrado, mas foi socorrido pelo Corpo de Bombeiros.
Em Camaragibe, a Secretaria de Defesa Civil registrou 14 deslizamentos de barreira em bairros como Jardim Primavera, Ostracil, Areeiro, Bairro dos Estados e Tabatinga. Além disso, houve dois desabamentos de muro, sendo um no bairro da Ostracil e outro no Vale das Pedreiras, e também um desabamento parcial de casa, na Rua Major Isidoro, no Areeiro, onde três famílias de casas próximas foram orientadas a saírem do local e irem para a casa de parentes.
Alagamentos
Além das quedas das barreiras, a Região Metropolitana registrou diversos pontos de alagamentos. Em Olinda, por exemplo, o trânsito fico bastante complicado na PE-15. Isso porque um canal localizado ao lado do viaduto que cruza os bairros de Ouro Preto e Jatobá transbordou, causando um grande alagamento no local. Para passar pela área, motoristas precisavam redobrar a atenção.
Entre as 19h da quarta-feira (12) e 19h dessa quinta (13), a capital pernambucana, Recife, registrou mais de 60% das chuvas previstas para todo o mês de maio. De acordo com a Defesa Civil, as precipitações chegaram a 200,4 milímetros. Para este mês, o esperado era 328,9 mm. Isso se refletiu nas ruas da cidade. Vias como a Rua Pintor Antônio de Albuquerque, no Ipsep, que liga o bairro ao Ibura, ambos na Zona Sul da cidade, ficaram debaixo d'água. Também foram registrados alagamentos nas ruas Amélia e Esmeraldino Bandeira, nas Graças; Rua do Espinheiro, no Espinheiro; e Rua Francisco da Cunha, em Boa Viagem.
Quedas de árvores
No dia atípico, as quedas de árvores chamaram a atenção. Somente na capital pernambucana, foram 18 ocorrências contabilizadas pela Autarquia de Manutenção e Limpeza Urbana (Emlurb) até a noite de ontem. Na Zona Sul do Recife, uma árvore caiu e derrubou um poste na Avenida Conselheiro Aguiar, em Boa Viagem. Segundo a Autarquia de Trânsito e Transporte (CTTU), a via foi interditada por conta da queda e o trânsito foi desviado pela Rua Ribeiro de Brito. Agentes foram ao local para orientar motoristas e pedestres.
A Santa Casa de Misericórdia do Recife, mantenedora do Hospital Santo Amaro (HSA), localizado na Avenida Cruz Cabugá, também registrou a queda de uma árvore, do tipo mangueira, no estacionamento da unidade. Alguns galhos acertaram um carro que estava no local, mas sem danos graves. De acordo com a Santa Casa, um idoso de 61 anos passava pela área no momento da queda. Ele teve apenas um susto com o ocorrido, sendo prontamente atendido e liberado em seguida.
Já na Zona Norte da capital, houve queda de árvore na Avenida Hidelbrando de Vasconcelos, em Dois Unidos. Segundo a CTTU, a via foi bloqueada na altura da distribuidora de Água Mineral Santa Clara e agentes orientaram o retorno dos motoristas.
Em Olinda, pelo menos cinco quedas de árvore. Uma delas foi retirada pela Defesa Civil na Rua Escritor Ramos de Almeida, no bairro de Jardim Atlântico.
O Corpo de Bombeiros informou ter sido acionado para outros 14 cortes de árvores pelo Estado, até as 18h de ontem.