INVESTIGAÇÃO

Sem detalhes sobre a morte de Beatriz Mota, MPPE pede novas perícias

Em coletiva de imprensa, realizada ontem pela SDS, a promotora Ângela Cruz, coordenadora do Grupo de Atuação Conjunta Especial (Gace), confirmou o andamento das diligências

Marcelo Aprígio
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Marcelo Aprígio
Publicado em 13/01/2022 às 9:00
Arquivo Pessoal / Cortesia
CASO BEATRIZ Menina Beatriz foi morta aos 7 anos com 42 facadas durante uma festa na escola onde estudava em Petrolina, no Sertão de Pernambuco - FOTO: Arquivo Pessoal / Cortesia
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Após a Polícia Civil identificar suspeito de assassinar a facadas a menina Beatriz Angélica Mota, de 7 anos, há pouco mais de seis anos, em Petrolina, no Sertão de Pernambuco, o Ministério Público Estadual (MPPE) pediu a realização de novas perícias complementares. A informação foi repassada pela promotora Ângela Cruz, , coordenadora doGrupo de Atuação Conjunta Especial (Gace), que acompanha o caso.

A promotora ressaltou ainda que o Gace está analisando minuciosamente os 24 volumes do inquérito policial a fim de compreender não apenas o crime, mas também as circunstâncias relacionadas, com base em evidências científicas robustas que permitam a realização da persecução penal e uma eventual condenação perante o Tribunal do Júri.

"O Ministério Público está devolvendo o inquérito à Polícia Civil para que sejam juntadas mais informações. Sabemos que a polícia fará o trabalho requisitado de forma responsável, com foco na apuração dos fatos. E ao receber o relatório final da investigação, o MPPE vai analisar o inquérito e apresentar, no tempo devido, a sua manifestação", destacou Ângela Cruz

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Promotora de Justiça Ângela Cruz e secretário Humberto Freire - DIVULGAÇÃO/MPPE

Detalhes do crime

Em uma coletiva de imprensa na sede da Secretaria de Defesa Social de Pernambuco (SDS-PE), na área central do Recife, o secretário Humberto Freire, titular da pasta, afirmou que a garota recebeu dez golpes de faca, não 42 como amplamente divulgado desde a época do crime.

Ainda de acordo com Freire, na verdade houve 42 fotografias dos ferimentos no corpo de Beatriz. "O laudo, normalmente, tem várias imagens da mesma lesão para poder ilustrar melhor. Mas o laudo indica dez ferimentos a faca, que a levaram a óbito", pontuou.

O gestor disse também que o homem apontado como autor das facadas que matou a menina agiu sozinho e sem mandante.

Embora a polícia não tenha divulgado a identidade do suspeito, segundo o portal G1, ele chama-se Marcelo da Silva, de 40 anos. Ele já estava preso em Salgueiro, no Sertão do Estado.

Motivação do crime

O secretário também informou o que motivou o crime. Segundo ele, o homem apontado como suspeito do homicídio, desferiu as facadas na menina Beatriz após ela ter se desesperado ao se deparar com o assassino.

"Temos a motivação alegada, se coadunando com a dinâmica dos fatos. Quando teve contato, a vítima se desesperou e foi silenciada pelo criminoso, com golpes de faca", contou Freire, contudo, sem explicar o contexto que teria feito a criança se desesperar.

"A escolha da vítima foi ao acaso, e, por conta do desespero dela, ele decidiu silenciá-la", disse Freire em outro momento.

O secretário disse ainda que o suspeito tem histórico de violência sexual contra crianças. Apesar disso, o gestor ressaltou que as investigações não apontaram indícios de violência sexual contra Beatriz.

Assim, não ficou completamente claro em que circunstâncias se deu o contato entre a vítima e o suposto assassino.

Relembre o caso Beatriz

Beatriz Angélica Mota foi morta no dia 10 de dezembro de 2015, aos 7 anos, durante uma festa de formatura da escola em que estudava na cidade de Petrolina, no Sertão Pernambuco. O pai da menina era professor da escola.

A criança desapareceu quando avisou à mãe que iria beber água. Após estranhar a demora da filha, as pessoas começaram a procurar pela menina, que foi encontrar morta com 42 facadas, dentro de uma sala desativada.

O caso se arrastava há mais de 6 anos. A mãe de Beatriz, Lucinha Mota, nunca desistiu de lutar por justiça pelo assassinato da filha e realizou diversas manifestações ao longo dos últimos anos.

No final de 2021, ela fez uma romaria, saindo de Petrolina até a capital pernambucana para cobrar pessoalmente ao governador de Pernambuco, Paulo Câmara, pelo desfecho do caso.

DIVULGAÇÃO/MPPE
Promotora de Justiça Ângela Cruz e secretário Humberto Freire - FOTO:DIVULGAÇÃO/MPPE
ARQUIVO PESSOAL
Beatriz Mota foi assassinada a facadas durante uma festa no Colégio Nossa Senhora Auxiliadora, em Petrolina, no Sertão pernambucano - FOTO:ARQUIVO PESSOAL

Caso Beatriz: advogado que defendeu suspeito relata histórico de estupro, roubo e uso de remédio controlado

Na terça (11), seis anos após a morte de Beatriz, a polícia informou ter identificado Marcelo da Silva como o suspeito de desferir as facadas na garota

Caso Beatriz: advogado que defendeu suspeito relata histórico de estupro, roubo e uso de remédio controlado

Em 2016, o advogado criminalista Francisco de Assis conheceu Marcelo da Silva, na cadeia pública de Trindade, no Sertão do Araripe, para atuar como seu defensor público. Passados sete anos, Marcelo é conhecido em todo o Estado de Pernambuco por ser apontado pela Secretaria de Defesa Social (SDS-PE) como o principal suspeito de assassinar a facadas a menina Beatriz Angélica Mota. E, segundo o advogado, o homem já cometia diversos delitos na região.

Em entrevista ao Balanço Geral, da TV Guararapes, nesta quinta-feira (13), o jurista falou sobre o histórico de Marcelo e disse ainda não saber se o defenderá mais uma vez, pois ainda não foi requisitado para isso.

"Eu conheci Marcelo da Silva na cadeia pública de Trindade, em 2016. Na época, estava sem Defensoria Pública em Trindade e o juiz nomeava os advogados da área para atuar nos casos que precisavam (de defesa) e estavam na defensoria. Fui nomeado para fazer a defesa dele, como defensor da ativa, o Estado custeou esse processo posteriormente. E o conheci porque frequentava a cadeia, tinha outros clientes particulares, outros que o juiz tinha me nomeado para a defesa. Tive contato com ele várias vezes", explicou.

Na terça-feira (11), seis anos após a morte de Beatriz, a Polícia Científica de Pernambuco informou ter identificado Marcelo como o suspeito de desferir as facadas na garota. Segundo a polícia, o DNA dele está na arma do crime. Ele teria confessado o assassinato e foi indiciado no mesmo dia.

Morador de Trindade, Marcelo teria cometido o crime em Petrolina e o secretário de Defesa Social, Humberto Freire, não detalhou o que ele fazia na cidade. Já o advogado Francisco de Assis esclareceu a situação de seu antigo cliente. Ele traça a linha do tempo, explicando que Marcelo estava perambulando em Petrolina buscando alguma forma de voltar para sua cidade, pois tinha acabado de sair da prisão. Na coletiva, a SDS diz justamente que ele teria entrado na festa da escola onde ocorreu o crime contra Beatriz, armado com uma faca, em busca de objetos de valor.

Beatriz participava da formatura da irmã, no dia 10 de dezembro de 2015, quando saiu do lado dos pais para beber água e desapareceu, às 21h59. Após desespero dos pais e uma busca pela escola durante a noite, o corpo da criança foi encontrado num depósito desativado de material esportivo, localizado perto da quadra em que ocorria a formatura. Ela foi achada com uma faca cravada na região do abdômen.

"Ele tem roubos em Petrolina, não sei ao certo se dois ou mais, pois não peguei esses casos, mas acredito que são dois. Quando ele terminou de cumprir a pena, foi no final de 2015, pouco antes do crime de Beatriz, ele terminou de cumprir a pena, (pretendia) voltar para Trindade, onde a família residia na época, e lá cometeu uma sequência de crimes, mas não foi condenado por todos que ele diz ter cometido. Alguns ele assumiu, mas não teve registro em delegacia e ele foi absolvido por falta de materialidade", comentou o defensor. "Em Petrolina é realmente possível que ele estivesse como andarilho. Tinha saído da prisão há poucos dias", completou.

Marcelo atualmente cumpre pena por um estupro de vulnerável em 2017. Caso em que Francisco o defendeu. Após a divulgação de seu nome como suspeito do caso Beatriz, a Justiça de Petrolina, onde ocorreu o crime contra a menina, determinou que o preso fosse retirado imediatamente do presídio de Salgueiro para continuar cumprindo pena em uma cela individual, na penitenciária de Petrolina (Dpeg). A medida foi solicitada pelas autoridades por medida de segurança.

"Fui novamente nomeado a fazer a defesa dele (em 2017) pelo o que ele está respondendo agora, crime de estupro de vulnerável. Continuava sem defensor público na cidade e o juiz tentou nomear outros advogados da comarca, mas eles recusaram o crime, que teve repercussão regional. O juiz me chamou para saber se aceitaria fazer a defesa e aceitei, sou técnico na área e não recuso caso pela gravidade. Fiz a defesa extremamente técnica", destacou.

Dois anos após a morte de Beatriz, Marcelo cometeu crime de estupro de vulnerável contra uma criança de 9 anos. Na época, ele já havia retornado a Trindade e a menina morava na sua rua. De acordo com o advogado Francisco, a vítima foi mantida em cárcere privado, violentada e ameaçada.

"Em Trindade, Marcelo foi ajudante de pedreiro e morava com a mãe em na rua em que cometeu o estupro. Ele tem essa condenação por estupro de vulnerável. No sistema do Tribunal de Justiça aparecem dois, mas é o mesmo processo, pois o estupro aconteceu em Trindade, estupro, cárcere privado, ameaça, fez a vítima tomar bebida e medicamento, e praticou (o abuso). Ela tinha 9 anos e o crime ocorreu em agosto de 2017. A população tentou linchar ele, quase o mataram, e quando ele saiu do hospital em Ouricuri, foi autuado em flagrante. Então, gerou um número de processo em Ouricuri e outro em Trindade", contou Francisco.

Na época, a polícia contou que Marcelo ficava viajando entre as cidades de Petrolina e Trindade. Após a descoberta do caso, moradores invadiram a sua casa e o espancaram. As agressões só pararam com a chegada da polícia. Ele foi levado para o hospital de Ouricuri, onde permaneceu preso sob custódia. "Pelo estupro, ele foi condenado a dezesseis anos e oito meses e, pela tentativa de roubo, a dois anos e oito meses. Ele tentou roubar uma moto com arma de brinquedo, um simulacro. Mas, ele não sabe andar de moto. Tomou de assalto a moto, mas não conseguiu sair e foi pego pela população também. Quando ele chegou na delegacia, ele deu nome falso, mas na hora de assinar a ouvida assinou com o nome verdadeiro", comentou.

Durante a entrevista desta quinta-feira, o advogado ainda foi questionado sobre a possibilidade de doença mental de Marcelo da Silva. Ele disse que nunca pediu insanidade em outros casos, nem mesmo no de estupro em 2017, mas fala em "traços de psicopatia". Na mesma reportagem, ele diz que o melhor seria a análise de um perito e ressaltou que estava apenas dando uma opinião.

"Do ponto de vista criminológico, é uma pessoa que aparenta muita tranquilidade, até um pouco lento para entender as coisas, ele faz uso de medicamentos controlados, não sei qual o problema que ele tem, qual doença de ordem neurológica, que passaram para ele uma medicação de uso contínuo. Pela tranquilidade com que ele conta os casos, confessa, conta com naturalidade tudo com detalhe, a psicologia explica traços de psicopatia, o último crime, de extrema gravidade, ele relata tudo até dado momento e, em seguida, alega ter esquecido de certa parte por ter ingerido medicação e bebida alcoólica. Não posso opinar (se Marcelo tem alguma doença mental), só um perito. Existem perícias que podem ser feitas para atestar, eu não sei se eu vou fazer a defesa nesse caso, não conheço o caso, não sei se pedirão exame de insanidade", disse Francisco.

Por ser advogado de Marcelo em outros casos, o advogado esperar ter contato com o cliente agora em Petrolina.

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