Com informações da repórter Juliana Oliveira, da TV Jornal
Sentimentos de dor, insegurança e pedidos de justiça mais do que nunca agora fazem parte da rotina das 76 famílias que moram no Engenho Roncadorzinho, em Barreiros, Mata Sul de Pernambuco, a 120 km do Recife, onde, na noite dessa quinta-feira (10), Jonathas Oliveira, de 9 anos, foi morto a tiros por homens encapuzados. O pai da criança, Geovane da Silva Santos, é uma das principais lideranças da comunidade e presidente da associação dos agricultores familiares do local. Ele também foi atingido por disparos depois que sete homens encapuzados invadiram a casa da família. A suspeita é de que o crime esteja relacionado ao conflito agrário na região.
Simone Maria, tia da criança, ainda está abalada com tudo o que aconteceu. As duas filhas dela estavam na casa no momento da invasão e ela contou à reportagem da TV Jornal que os encapuzados foram atrás de Jonathas, mesmo depois de já terem atirado em Geovane.
Segundo Simone, o menino estava dormindo no sofá, no momento que os homens o derrubaram de lá e atiraram no pai dele. Em seguida, o menino correu para o quarto para se abrigar nos braços da mãe. "Foi com maldade mesmo que eles atiraram na criança. À queima-roupa, sem dó nem piedade. Mesmo a mãe pedindo: 'não atira por favor!'. Mesmo assim eles atiraram", contou a tia do garoto.
A tia disse ainda que a família não sabe por que os encapuzados perseguiram e atiraram na criança. "A gente não sabe. Jonathas era uma criança muito querida por todos, que só queria viver. O que a gente não quer agora é que este seja mais um crime impune", afirmou.
Muito abalados, os pais de Jonathas conversaram com a repórter Juliana Oliveira. Geovane Santos afirmou desconhecer a motivação do crime. Ele também afirmou que não conseguiu reconhecer nenhum dos homens que invadiu sua casa por estarem com os rostos cobertos e pela ação ter sido muito rápida. Geovane detalhou como foi o atentado. "Eu já estava deitado com a minha esposa quando ouvi o estrondo na porta. Quando saí do quarto já recebi o tiro. Eles passaram por mim e eu fugi para a casa do meu cunhado. Só ouvia os tiros e pensava que eles tinham matado a minha família", conta.
Geovane lembra de ter ouvido os homens gritarem "no coroa, não", levando a entender que ele não era o alvo dos disparos. "Não sei se o alvo era meu filho. Meu filho era tudo para mim. Ele até tinha pedido para dormir na casa do tio, mas eu e a mãe dele dissemos que não porque lá tinha muita muriçoca. Se ele tivesse ido, talvez agora ele estivesse aqui e eu não estivesse", disse aos prantos.
Ainda se recuperando do tiro que levou no ombro, Geovane agora não quer mais voltar a morar na casa onde aconteceu o crime. "Não volto mais para minha casa. Essas casas não têm segurança. Isso não é casa para um cristão morar. Tirando dois ou três aqui, o resto mora assim, em casa de cupim. A gente já pediu para o governo legalizar e até agora nada", lamentou.
Nota divulgada pela Fetape e pela CPT diz que a ocupação do Engenho Roncadorzinho por famílias agricultoras se deu após falência das usinas onde trabalhavam ou eram credoras, mas nunca receberam as devidas indenizações. Segundo as entidades, o engenho foi propriedade da Usina Central Barreiros, atualmente uma massa falida sob administração do Poder Judiciário, que o arrendou.
A comunidade existe há aproximadamente 40 anos e abriga cerca de 400 trabalhadores rurais posseiros, sendo 150 crianças.
"Nos últimos anos, a comunidade vem sofrendo diversas ameaças e violências promovidas por empresas que exploram economicamente a área, com intimidações, destruição de lavouras e com contaminação das fontes de água e cacimbas do imóvel por meio da aplicação direcionada e criminosa de agrotóxico de alta toxidade, segundo a Fetape. Os casos de violência contra a comunidade vêm sendo denunciados pela Fetape e pela CPT há vários meses, sem que medidas efetivas sejam tomadas por parte do Estado para solucionar a tensão e a violência no local", traz o texto.