A Agência Estadual de Meio Ambiente de Pernambuco (CPRH) pretende finalizar, até esta quinta-feira (24), a investigação que responderá o que teria motivado a chegada de um volume de lixo acima do usual a praias da Região Metropolitana do Recife (RMR). O resultado dos estudos será divulgado no dia seguinte, sexta-feira (25). O caso foi divulgado pelo JC na última semana; na reportagem, pescadores relataram vir pescando "mais plástico que peixe" neste mês.
Duas hipóteses são analisadas pela CPRH. A primeira é de que as chuvas de janeiro tenham arrastados resíduos sólidos para dentro do mar, visto que grande parte do lixo foi encontrada encrustada nas baronesas - planta que se prolifera a partir da poluição. "A chuva acaba lavando as ruas e canais, trazendo esses resíduos para dentro do cais e, consequentemente, para o mar", disse o diretor de Licenciamento Ambiental da CPRH, Eduardo Elvino.
"Temos nos nossos municípios o descarte inadequado de resíduos sólidos próximo a canais e a rios, como o Capibaribe. Com a matéria orgânica do rio, as baronesas se proliferam muito rápido. Consequentemente, elas começam a segurar esse resíduo junto a suas raízes, e quando há um volume de chuva significativo, acabam agregando o material, que chega até o Porto do Recife", explicou Elvino.
A segunda é de que esse fenômeno possa ter sido intensificado ou provocado pela dragagem no Porto do Recife. As obras, que visam alargar o canal para passagem de grandes embarcações, foram iniciadas em 22 de janeiro e interrompidas em 14 de fevereiro, após a denúncia de que os mares estavam tomados por sujeira. O serviço só foi retomado nesta segunda-feira (21).
Caso seja comprovado que, de fato, o Porto do Recife teve influência no aparecimento do lixo nas praias, serão aplicadas sanções contra a empresa, inclusive com autuação administrativa e multa pela poluição causada pelas obras. "O lixo existe independentemente da dragagem do Porto, mas ele pode ter potencializado isso no momento do bota fora ou o material ter ficado flutuando na hora da sucção. E a partir do momento em que ele assume o risco da dragagem, é responsável pelo passivo do lixo que já estava ali", afirmou o diretor.
Para analisar a causa do problema, duas pessoas da CPRH embarcaram com a equipe do Porto do Recife para acompanhar o processo de descarrego dos sedimentos na área do bota fora marinho a 11 quilômetros da costa e o recolhimento dos resíduos. A pedido do poder público, o Porto do Recife designou quatro equipes para retirada do lixo.
De acordo com a CPRH, cada prefeitura está sendo responsável pela retirada dos resíduos do mar e sendo orientada a focar em trabalhos preventivos de conscientização da população para o descarte correto do lixo.
O que diz o Porto do Recife
Por nota atualizada, o Porto do Recife disse trabalhar junto à CPRH enquanto aguarda o resultado das investigações. Ainda, afirmou ter contratado a SEG Engenharia para assegurar a realização da dragagem sem impactos ambientais. A empresa "enviará para o Porto relatórios diários com registro fotográfico e, caso haja flutuação, recolherá o resíduo plástico destinando-o para uma central de tratamento de resíduos em terra", em uma operação que contará com "duas embarcações de apoio portuário, uma lancha, um jet ski, dez operadores técnicos e 200 metros de barreira de contenção portuária."
Ainda, pontuou que ação feita em parceria com a Prefeitura do Recife acontece durante oito horas por dia até o fim da obra para reduzir os resíduos flutuantes depositados nos rios da cidade e que desde o início do trabalho, a draga "já filtrou, recolheu e fez o descarte apropriado em terra de mais de 18,6 toneladas de lixo". "O lixo recolhido pela draga é armazenado em big bags (contentores) e descartados semanalmente no cais do Porto do Recife (imagem anexa). A operação consiste no desembarque destes resíduos diretamente para um caminhão, que faz a entrega do material na Central de Tratamento de Resíduos (CTR) de Candeias", explicou.
Lixo nas praias
A relação do excesso do aparecimento de lixo no Grande Recife com o Porto do Recife também é analisada pelo Ministério Público Federal (MPF). Imagens que mostravam os entulhos em alto mar rodaram as redes sociais nesta semana em diferentes municípios, entre eles Recife, Cabo de Santo Agostinho, Ipojuca e Jaboatão dos Guararapes. Apenas as duas últimas, entretanto, contabilizaram uma alta no recolhimento. Recife* disse não ter percebido "qualquer anormalidade durante os serviços de coleta nos últimos dias", e que "precisar o peso do lixo coletado apenas nas praias, pois os resíduos recolhidos são misturados nos caminhões de coleta ao lixo domiciliar". Cabo não respondeu.
Jaboatão dos Guararapes disse ter observado “um aumento significativo na quantidade de material recolhido na faixa de areia”. Até o último domingo, 13, foram coletadas cerca de 4,5 toneladas, quase o dobro do volume recolhido no mesmo período em 2021, de aproximadamente 2,3 toneladas. Já Ipojuca informou que os resíduos chegaram, no início de fevereiro, em quantidade 20 vezes maior que o normal, mas que não houve novos registros desde então. Por isso, atribui a chegada às fortes chuvas. Em 1º de fevereiro, o volume chegou a 20m³.
“Isso vem nos prejudicando, está atrapalhando os pescadores, sem falar na degradação ambiental que está ocorrendo, porque isso prejudica as espécies. Os pescadores estão reclamando muito, pegam mais lixo que camarão. Ficamos tristes, porque é do mar que a gente tira o sustento”, relatou a presidente da Colônia Z1, de Brasília Teimosa, Sandra da Silva Lima. Ela informou que o caso foi denunciado para a Federação dos Pescadores do Estado de Pernambuco, que ainda discute qual posição irá tomar.