URBANISMO

Buscando atacar violência urbana, ONU leva jovens e mulheres de Pernambuco a pensarem melhorias para espaços públicos

Desde novembro de 2021, projetos "Desenho de Espaços Públicos" e "Cidade Mulher" estimulam um novo olhar sobre comunidades em 8 cidades do Estado

Katarina Moraes
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Katarina Moraes
Publicado em 31/03/2022 às 9:26
RENATTO MENDONÇA/DIVULGAÇÃO
Alunos da Escola de Referência em Ensino Fundamental Senador Antônio Farias propuseram uma repaginada no Buraco da Gata - FOTO: RENATTO MENDONÇA/DIVULGAÇÃO
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Não só com policiamento se resolverá o alto índice de violência urbana em Pernambuco. É com essa premissa que o Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos (ONU-Habitat) vem atuando em oito cidades do Estado, da Região Metropolitana do Recife ao Sertão, levando as comunidades a discutirem os espaços públicos e a proporem melhorias para torná-los menos nocivos e mais habitáveis.

Isso acontece através dos projetos "Desenho de Espaços Públicos" e "Cidade Mulher", iniciados em novembro de 2021 e desenvolvidos nos territórios elencados pela Secretaria de Políticas de Prevenção à Violência e às Drogas de Pernambuco (SPVD) como os mais perigosos do Estado, situados no Recife, Olinda, Paulista, Cabo de Santo Agostinho, Jaboatão dos Guararapes, Vitória de Santo Antão, Caruaru e Petrolina.

O primeiro projeto apresenta técnicas básicas de urbanismo e de cartografia a jovens de 14 a 29 anos, que são estimulados a circularem por suas comunidades durante dois dias entrevistando vizinhos sobre como se sentem ao utilizarem um espaço público então deteriorado da região, bem como para colher críticas e sugestões para ele.

Uma vez finalizado o processo de escuta, eles elaboram maquetes e defendem o que acham que seria necessário para reviver aquele ambiente com ações simples, como a instalação de bicicletários ou plantio de árvores. Com base nisso, a equipe da ONU-Habitat constrói um projeto gráfico mostrando como o espaço-alvo ficaria com as mudanças propostas.

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Alunos da Escola de Referência em Ensino Fundamental Senador Antônio Farias propuseram uma repaginada no Buraco da Gata - RENATTO MENDONÇA/DIVULGAÇÃO
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Alunos da Escola de Referência em Ensino Fundamental Senador Antônio Farias propuseram uma repaginada no Buraco da Gata - RENATTO MENDONÇA/DIVULGAÇÃO

No Ibura, Zona Sul do Recife, alunos da Escola de Referência em Ensino Fundamental Senador Antônio Farias propuseram uma repaginada no Buraco da Gata, um espaço que hoje é utilizado como ponto de uso de drogas.

“O que as pessoas mais pediam era que tivesse uma academia da cidade e que ajeitassem a quadra. Hoje não tem movimentação de pessoas, está muito acabada. Nas entrevistas, a comunidade dizia que, se melhorasse, utilizariam o espaço”, contou a estudante Raissa Victoria da Silva, de 14 anos.

Para a diretora da escola, Anitta Cordeiro, o trabalho da ONU fez com que a comunidade criasse um “sentimento de pertencimento” e interagisse mais entre si. “Por causa da insegurança, os pais mantêm os filhos muito presos em casa. Achei muito interessante como a ONU oportunizou uma volta na comunidade e um olhar diferente, dizendo que os espaços devem servir a eles. Isso passa pelo empoderamento e pelo estímulo aos sonhos, faz com que saibam que podem propor mudanças."

Já o "Cidade Mulher" faz reuniões de aproximadamente 9 horas com moradoras da comunidade para refletir sobre a influência da violência sobre suas vidas, já que muitas vezes não se sentem seguras em circular pela cidade e, por isso, se isolam em casa. “A metodologia é muito eficiente em despertar a noção de que o problema da violência é mais que uma questão individual para as mulheres, mas coletiva e que, por isso, precisa ser endereçado social e politicamente”, explica a ONU.

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Projeto Cidade Mulher faz reuniões de aproximadamente 9 horas com moradoras da comunidade para refletir sobre a influência da violência sobre suas vidas - RENATTO MENDONÇA/DIVULGAÇÃO
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Projeto Cidade Mulher faz reuniões de aproximadamente 9 horas com moradoras da comunidade para refletir sobre a influência da violência sobre suas vidas - RENATTO MENDONÇA/DIVULGAÇÃO

Quando finalizados, os projetos gráficos de revitalização de espaços públicos e as conversas com as mulheres serão transformadas em demandas para qualificar as políticas públicas de prevenção à violência e apresentadas às prefeituras a partir de julho deste ano, que podem ou não implementá-las.

"Vamos entregar os projetos ao poder público, que vai escolher se quer ou não executá-los ou alterá-los. Mas mais do que buscar a execução das obras, priorizamos fazer com que as próprias pessoas da comunidade tenham essa vivência do espaço público, entendendo o que ele precisa para ser melhorado", explicou a coordenadora de Programas e líder do ONU-Habitat em Pernambuco, Daphne Besen.

O secretário da SPVD, Cloves Benevides, celebra a parceria e pontua que a previsão é entregar os resultados aos municípios nos próximos 30 dias. "Nada da metodologia e da construção se perde. Os projetos nos dão a condição de termos uma leitura de percepção de jovens e das mulheres dos territórios, que dizem como o entendem. Às vezes, o lugar não precisa de uma intervenção urbana muito grande, mas ações pequenas como iluminação pública e limpeza."

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