Não só com policiamento se resolverá o alto índice de violência urbana em Pernambuco. É com essa premissa que o Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos (ONU-Habitat) vem atuando em oito cidades do Estado, da Região Metropolitana do Recife ao Sertão, levando as comunidades a discutirem os espaços públicos e a proporem melhorias para torná-los menos nocivos e mais habitáveis.
Isso acontece através dos projetos "Desenho de Espaços Públicos" e "Cidade Mulher", iniciados em novembro de 2021 e desenvolvidos nos territórios elencados pela Secretaria de Políticas de Prevenção à Violência e às Drogas de Pernambuco (SPVD) como os mais perigosos do Estado, situados no Recife, Olinda, Paulista, Cabo de Santo Agostinho, Jaboatão dos Guararapes, Vitória de Santo Antão, Caruaru e Petrolina.
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O primeiro projeto apresenta técnicas básicas de urbanismo e de cartografia a jovens de 14 a 29 anos, que são estimulados a circularem por suas comunidades durante dois dias entrevistando vizinhos sobre como se sentem ao utilizarem um espaço público então deteriorado da região, bem como para colher críticas e sugestões para ele.
Uma vez finalizado o processo de escuta, eles elaboram maquetes e defendem o que acham que seria necessário para reviver aquele ambiente com ações simples, como a instalação de bicicletários ou plantio de árvores. Com base nisso, a equipe da ONU-Habitat constrói um projeto gráfico mostrando como o espaço-alvo ficaria com as mudanças propostas.
No Ibura, Zona Sul do Recife, alunos da Escola de Referência em Ensino Fundamental Senador Antônio Farias propuseram uma repaginada no Buraco da Gata, um espaço que hoje é utilizado como ponto de uso de drogas.
“O que as pessoas mais pediam era que tivesse uma academia da cidade e que ajeitassem a quadra. Hoje não tem movimentação de pessoas, está muito acabada. Nas entrevistas, a comunidade dizia que, se melhorasse, utilizariam o espaço”, contou a estudante Raissa Victoria da Silva, de 14 anos.
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Para a diretora da escola, Anitta Cordeiro, o trabalho da ONU fez com que a comunidade criasse um “sentimento de pertencimento” e interagisse mais entre si. “Por causa da insegurança, os pais mantêm os filhos muito presos em casa. Achei muito interessante como a ONU oportunizou uma volta na comunidade e um olhar diferente, dizendo que os espaços devem servir a eles. Isso passa pelo empoderamento e pelo estímulo aos sonhos, faz com que saibam que podem propor mudanças."
Já o "Cidade Mulher" faz reuniões de aproximadamente 9 horas com moradoras da comunidade para refletir sobre a influência da violência sobre suas vidas, já que muitas vezes não se sentem seguras em circular pela cidade e, por isso, se isolam em casa. “A metodologia é muito eficiente em despertar a noção de que o problema da violência é mais que uma questão individual para as mulheres, mas coletiva e que, por isso, precisa ser endereçado social e politicamente”, explica a ONU.
Quando finalizados, os projetos gráficos de revitalização de espaços públicos e as conversas com as mulheres serão transformadas em demandas para qualificar as políticas públicas de prevenção à violência e apresentadas às prefeituras a partir de julho deste ano, que podem ou não implementá-las.
"Vamos entregar os projetos ao poder público, que vai escolher se quer ou não executá-los ou alterá-los. Mas mais do que buscar a execução das obras, priorizamos fazer com que as próprias pessoas da comunidade tenham essa vivência do espaço público, entendendo o que ele precisa para ser melhorado", explicou a coordenadora de Programas e líder do ONU-Habitat em Pernambuco, Daphne Besen.
O secretário da SPVD, Cloves Benevides, celebra a parceria e pontua que a previsão é entregar os resultados aos municípios nos próximos 30 dias. "Nada da metodologia e da construção se perde. Os projetos nos dão a condição de termos uma leitura de percepção de jovens e das mulheres dos territórios, que dizem como o entendem. Às vezes, o lugar não precisa de uma intervenção urbana muito grande, mas ações pequenas como iluminação pública e limpeza."
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