DIREITOS HUMANOS

Comunidade dos Pequenos Profetas: a ONG que empodera jovens da periferia do Recife com arte, cultura e educação

Cerca de 400 moradores de comunidades com baixos índices de desenvolvimento humano da cidade são atendidas anualmente pela instituição, fundada há 37 anos

Cadastrado por

Katarina Moraes

Publicado em 01/05/2022 às 6:00
ATIVIDADES DIÁRIAS Meninos e meninas participam de oficinas de esportes, contação de histórias, corte de cabelo, percussão, meditação, entre outros. Tudo de graça - ALEXANDRE AROEIRA/JC IMAGEM

Quando a violência é regra e as oportunidades são mínimas, quebrar a tendência de miséria que tantas vezes é escrita antes mesmo do nascimento em periferias da capital pernambucana pode parecer um sonho distante. Há 37 anos, a Comunidade dos Pequenos Profetas (CPP) entendeu que educação, cultura e arte podiam ser um “empurrãozinho” capaz de mudar muitas dessas histórias no Recife - e estava certa.

No colorido casarão de número 110, as risadas são ouvidas já da calçada da Avenida Sul, no Bairro de São José, no Centro da cidade. É ali que na ONG, por ano, cerca de 400 crianças e jovens de 7 a 21 anos, entendem - alguns pela primeira vez - o que é ter cidadania, por meio de oficinas que os empoderam sobre a efetivação dos seus direitos humanos, além de capacitá-los profissionalmente.

De segunda a sexta-feira, das 7h às 15h, são promovidas no local oficinas de esportes, de corte de cabelo, de percussão, de meditação, de gastronomia e de produção de hortas, contação de histórias e atendimento psicossocial e jurídico. Tudo feito de forma gratuita para moradores das comunidades do Coque, Coelhos, Joana Bezerra e da Ilha do Leite e para pessoas em situação de rua.

As mães dos assistidos não ficam de fora. Para elas são oferecidas oficinas de produção de vasos em papel machê, de compostagem e de costura - vendidas in loco e em feiras locais, revertendo o lucro para as produtoras. “Eu era diarista, agora trabalho com compostagem. É muito bom. Todo dia é essa alegria”, conta Rosana Lessa, de 55 anos, que há um ano frequenta a sede.

A CPP é composta por nove funcionários - entre psicóloga, gastrônomo, cozinheira, motorista, pedagoga, nutricionista e cineasta - e cinco voluntários, comandados pelo fundador da instituição, Demetrius Demétrio. Até então morador do Plano Piloto, área mais nobre do Distrito Federal, ele foi confrontado com a pobreza pela primeira vez ao chegar no Recife, aos 15 anos. Ali, enxergou sua vocação.

“Nossa missão é essa: tentar reescrever uma nova história de sucesso através de projetos educativos . As pessoas pensam que é fácil para esses jovens terem uma alternativa, mas uma pessoa abandonada desde pequena não consegue mudar do dia para a noite. É um processo muito lento, que se não for através da educação, não há um impacto”, contou o empreendedor social e gastrônomo.

Fundador da Comunidade dos Pequenos Profetas (CPP), Demetrius Demetrio - Alexandre Aroeira/Jc Imagem.

Para Carlos André Barbosa, de 44 anos, a casa representou uma mudança de vida. “Fui abandonado aos 10 anos e vivia nas ruas do Centro quando entrei na instituição. Hoje sirvo de exemplo para outros meninos, porque tenho a experiência de ter passado pela mesma situação que eles e eles veem que podemos ajudá-los. É satisfatório”, contou ele, que hoje é educador do espaço cuidando da horta comunitária junto a Lauro Rodrigues.

Carlos André Barbosa, 44 anos, é ex-assistido da CPP - Alexandre Aroeira/Jc Imagem.

Desde pequeno, Lucas Henrique Lucena, de 20 anos, frequenta o espaço - e adora. “Eu achei aqui muito bom desde que cheguei. Brinco, jogo bola, vou para passeios, para a praia”, disse ele, que vive em situação de rua e tem como atividades preferidas a “pelada” com os colegas e as aulas de desenho.

Educação ambiental

Ações de sustentabilidade e responsabilidade social são produzidas no telhado eco produtivo da CPP, o primeiro da cidade, criado em 2016. Ali, é oferecido apoio técnico para o plantio de hortas em casa, democratizando a alimentação saudável. Parte das hortaliças e verduras produzidas são utilizadas nas refeições distribuídas na casa, enquanto o restante é doado às comunidades das redondezas.

No último andar do casarão também funciona o projeto hortas verticais, onde são cultivados pimentão, tomate-cereja, alface, coentro, hortelã e outras hortaliças em garrafas pets retiradas do Rio Capibaribe. Desde o início, em 2010, mais de 8 toneladas de lixo foram recolhidas pelo projeto.

O que é produzido é consumido na própria ONG, que fornece café da manhã e almoço de segunda a sexta a jovens das redondezas. O restante é doado a comunidades - Alexandre Aroeira/JC Imagem
O que é produzido é consumido na própria ONG, que fornece café da manhã e almoço de segunda a sexta a jovens das redondezas. O restante é doado a comunidades - Alexandre Aroeira/JC Imagem
O que é produzido é consumido na própria ONG, que fornece café da manhã e almoço de segunda a sexta a jovens das redondezas. O restante é doado a comunidades - Alexandre Aroeira/JC Imagem
O que é produzido é consumido na própria ONG, que fornece café da manhã e almoço de segunda a sexta a jovens das redondezas. O restante é doado a comunidades - Alexandre Aroeira/JC Imagem
O que é produzido é consumido na própria ONG, que fornece café da manhã e almoço de segunda a sexta a jovens das redondezas. O restante é doado a comunidades - Alexandre Aroeira/JC Imagem
O que é produzido é consumido na própria ONG, que fornece café da manhã e almoço de segunda a sexta a jovens das redondezas. O restante é doado a comunidades - Alexandre Aroeira/JC Imagem

A luta pela captação de recursos

“Está difícil”, respondeu Demetrius quando questionado sobre como mantém o espaço. Desde a pandemia, o funcionamento da CPP teve horário reduzido pela diminuição das doações. São necessários R$ 30 mil por mês para realizar suas várias atividades - desses, 40% são captados por conferências feitas por ele ao redor do mundo, que têm todo valor destinado à CPP. O restante vem de financiamento internacional e de doações. “É uma luta para conseguir”, afirmou.

“Tentamos diminuir todos os nossos custos, com 26 placas solares e poços artesianos. Muito da nossa comida é produzida por nós mesmos. Empresas privadas fazem doações de alimentos e de roupas. Autoridades do mundo inteiro vêm nos visitar, temos muito reconhecimento fora, mas não aqui”, disse.

Como ajudar a Comunidade dos Pequenos Profetas

As empresas podem apoiar pequenos projetos de impacto da CPP, fazendo parcerias e convênios, promovendo ações de impacto, apoiando as cooperativas, com cursos ou patrocinando cursos com doação de matérias primas e de serviços, apresentando ideias de negócio social. Basta entrar em contato pelo instagram @pequenos_profetas ou pelo telefone/whatsapp (81) 98863-7718 e marcar uma reunião com o gestor, Demetrius Demetrio.

Doações de alimentos, roupas e utensílios podem ser deixados na sede da CPP (Av. Sul Gov. Cid Sampaio, 110 - São José, Recife - PE). Para doações financeiras, confira os dados para transferência ou depósito: 

PIX
12 861 514 0001 10 (CNPJ)

Banco Bradesco S/A
Comunidade dos Pequenos Profetas
Agência 3208 e conta 99453-7

Código Swifit
BBDEBRSPRCE

Número Iban
BR9360746948032080000994537C1

 

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