Começa a ser implementado, nesta semana, um sistema de monitoramento de áreas de risco para deslizamentos de terra e alagamentos em Jaboatão dos Guararapes, no Grande Recife. A tecnologia vem após a cidade ser a mais afetada pela tragédia das chuvas de 2022 - com 64 mortes das 133 em Pernambuco.
O sistema foi desenvolvido pela startup Porang e Universidade de Pernambuco (UPE), núcleo de Caruaru, com financiamento de R$ 597 mil da Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia de Pernambuco (Facepe).
Quinze torres, cada uma com 50 sensores, vão ser instaladas nas áreas mais vulneráveis do município - a começar, neste sábado (4), pelo Alto Santa Isabel. Já há localidades previstas para 13 delas, enquanto duas ainda estão em fase de definição. Confira:
Elas serão monitoradas por uma Estação de Dados Hidro/Sísmico/Meteorológica, que, ao perceber o risco de desastres, enviará um alerta para a população residente por meio de um aplicativo pelo celular.
O CEO da Porang, Jorge Orengo, explicou que os sensores atingem três níveis de solo e alcançam até 5 quilômetros de extensão.
“Eles medem a permeabilidade da água, a temperatura e a umidade, identificando movimentações de massa e até barulho de vazamento de água. Com isso, é possível alertar a população para sair de casa, com antecedência mínima de duas horas, mas futuramente queremos ampliar para até seis horas de antecipação do alerta”, informa.
O professor da UPE de Caruaru Fernando Pontual, que atuou junto com Jorge no desenvolvimento do sistema, complementou: “O alerta já vai estabelecer para qual abrigo as pessoas devem se dirigir e a melhor rota a seguir”.
Segundo a Prefeitura de Jaboatão dos Guararapes, o app será disponibilizado para a população baixar e começar a utilizar assim que a Estação estiver funcionando.
“Esse sistema vem complementar as várias frentes em que estamos atuando para enfrentar o inverno. São obras de contenção, de drenagem e pavimentação, urbanização e ações educativas de prevenção. É importante que a população colabore, seguindo nossos alertas e evitando permanecer nas áreas de risco, em momentos críticos”, disse o prefeito Mano Medeiros (PL).
Um projeto semelhante - também financiado pela Facepe - está sendo implementado no Recife pelo Instituto Senai de Inovação para Tecnologias da Informação e Comunicação (ISI-TICs).
Apesar de importante para a prevenção, a tecnologia vão vai resolver o problema de urbanização que existe nas cidades pernambucanas, sobretudo porque, até então, não será instalada em larga escala e porque são necessárias outras medidas para sanar o déficit habitacional em Pernambuco.
Isso porque uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2018 mostrou que cerca de 188 mil habitantes de Jaboatão (29,1% da população) vivia em áreas de risco - sendo o 6º com maior número no Brasil e, em Pernambuco, o segundo, atrás apenas do Recife, onde 206 mil (13,4%) moram nessas condições.
Sem moradia digna ou urbanização dessas áreas de risco, a população residente - em sua maioria, pobre - fica exposta a fenômenos meteorológicos, que têm sido cada vez mais extremos devido ao aumento da temperatura do planeta.
Para se ter uma ideia, uma pesquisa feita pelo World Weather Attribution (WWA) mostrou que o planeta está 1,2ºC mais quente que no final de 1800 devido às emissões humanas de gases de efeito estufa e que as chuvas que atingiram o Nordeste em 2022 foram cerca de 20% mais fortes devido às mudanças climáticas.
Outro agravante também é a má cobertura de esgotamento sanitário na Região Metropolitana. Um estudo do Instituto Trata Brasil mostrou que Recife e Jaboatão dos Guararapes figuram entre as 100 piores cidades no que diz respeito ao saneamento no País, ocupando, respectivamente, as 83ª e 88ª posições.
Mesmo com tantos agravantes, Jaboatão não contava, até a última semana, com uma Secretaria de Defesa Civil, que é responsável por elaborar ações destinadas a reduzir a ocorrência e a intensidade de desastres.
Para isso, será realizada seleção pública para contratação de 95 profissionais, por meio de edital que será lançado no primeiro trimestre de fevereiro.
A Prefeitura anunciou que vai dar ordem de serviço, em breve, para início da construção de 138 muros de arrimo em áreas de risco, com investimento de R$ 26,5 milhões, aguardando apenas autorização da Caixa Econômica Federal (CEF).
Ainda, informou ter encaminhado ao Governo Federal um Plano Habitacional com 305 unidades, para moradores que perderam suas casas, ainda sem retorno.
Em paralelo, ocorre a Operação Inverno, com intensificação de limpeza de canais, canaletas e galerias, além de serviços de drenagem e regularização de ruas e a discussão de propostas e projetos na Comundiade de Jardim Monte Verde - a mais atingida pelas últimas chuvas.