Mesmo não estando entre os locais com mais ataques de tubarão no mundo, Pernambuco está no ranking de fatalidade - 34% das vítimas morreram após serem mordidas. Em novo livro, o biólogo marinho Marcelo Szpilman denuncia como esse triste índice está ligado à falta de políticas públicas no Estado - entre elas, um socorro eficiente do Corpo de Bombeiros após o incidente.
“No Recife, vemos vários casos que a pessoa fica na praia esperando uma ambulância”, relatou o especialista. “Esses minutos são preciosos. O atendimento tem que ser feito na praia, até mesmo dentro da água. Se for feito, ela sobrevive, porque normalmente o animal não quer se alimentar, só dá uma mordida. Mas a mordida já é uma grande ameaça à vítima.”
A Flórida, nos Estados Unidos, por exemplo, computou 259 incidentes entre 2001 e 2021, segundo o International Shark Attack File (ISAF), mas o índice de mortes não costuma passar de 1%. Para Szpilman, a diferença acontece porque a cidade está preparada para os ataques, com salva-vidas equipados para o salvamento imediato.
“Os nossos salva-vidas no Brasil, no Recife, são muito bem preparados para um afogamento, mas não para ataques”, pontuou. “Na Flórida, os salva-vidas têm treinamento, equipamentos e caixa de primeiros socorros para os ataques, com torniquete específico para isso, porque o mais importante não é só retirar a vítima da água, mas estancar a hemorragia ao retirá-la”, explicou.
Em sua 9ª obra, o autor também aponta como agravante um fator natural. Na cidade estadunidense, é mais comum a presença dos tubarões galha-preta, menos agressivos e menores que o cabeça-chata e o tigre, responsáveis pela maioria dos incidentes em Pernambuco. “Mas essa diferença não explica tudo. O que explica é que a Flórida, quando vê um problema, investe dinheiro e o resolve.”
FALTA DE ESTUDOS
Ao todo, Pernambuco computou 77 casos de incidentes com tubarões - sendo 10 em Fernando de Noronha e 67 no Grande Recife e em Goiana, na Zona da Mata. Os casos são registrados pelo Comitê Estadual de Monitoramento de Incidentes com Tubarões, órgão do Governo do Estado, desde 1992.
Durante dez anos, o Estado manteve um trabalho contínuo na prevenção aos ataques, com pesquisas em parceria com a Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) para entender melhor a dinâmica dos animais. O trabalho deu frutos, reduzindo os casos, mas foi praticamente paralisado desde 2014.
Em 2021, o mar mostrou os resultados dessa falta de atenção, quebrando um “jejum” de dois anos sem ataques no litoral urbano de Pernambuco. Desde lá, oito pessoas foram mordidas, das quais uma morreu. Então, em março deste ano, o governo estadual anunciou a volta de investimentos e de atuação do Cemit.
“Isso precisa ser visto pelo Governo de Pernambuco. Precisa investir dinheiro e recursos porque é um problema não só para a sociedade, como para o turismo local”, lembrou o biólogo.
Esses e outros questionamentos estarão no novo livro de Marcelo Szpilman "Tubarões, por que atacam o homem?". No Recife, o lançamento vai acontecer na Livraria Leitura, do Shopping Recife, no dia 25 de novembro de 2023, a partir das 17h.