*Esta reportagem sofreu alterações
O anexo do Arquivo Público Estadual se prepara para deixar o prédio que atualmente ocupa na Rua Imperial, no Bairro de São José, no Centro do Recife, ampliando o processo de abandono da via. A mudança acontece pelo imóvel estar com sérios riscos estruturais.
A última vistoria feita pela Defesa Civil do Recife em 2 de fevereiro deste ano constatou que a edificação está com risco de grau R3, considerado alto. Por isso, foram interditadas algumas áreas internas do complexo, para evitar sinistros e preservar a integridade física dos funcionários. O órgão disse também que seus técnicos elaboraram também parecer com recomendações a serem cumpridas pelos responsáveis.
A primeira autuação contra a edificação, que pertence ao Estado, foi feita ainda em 2008 pela Defesa Civil pelo “mau estado de conservação” de suas marquises. Agora, a situação do prédio fez com que o Governo de Pernambuco decidisse transferir seus documentos para outro local ainda não informado.
No local, estão documentos da Comissão da Memória, Verdade e Justiça Dom Hélder Câmara, o acervo do antigo Departamento de Ordem e Política Social (DOPS), utilizado na Ditadura Militar, manuscritos do Brasil colonial referente a Pernambuco e o Typhis Pernambucano, jornal que anunciou a Revolução Pernambucana de 1817.
Em junho de 2023, o JC publicou uma reportagem mostrando que ele já sofria com uma série de problemas estruturais, inclusive a queda de parte do teto. Ainda, foram encontradas infiltrações, falta de energia, mofo e fiação exposta.
TRANSFERÊNCIA
Segundo a Secretaria de Comunicação, responsável pela gestão do Arquivo, foi criado um grupo de trabalho envolvendo representantes de outras instituições do Estado e da sociedade civil para organizar as etapas da mudança. Atualmente, técnicos do órgão estão trabalhando na indexação do material para delimitar a temporalidade dos documentos que estão no local.
Parte dos arquivos permanentes será enviada à Companhia Editora de Pernambuco (Cepe), seguindo convênio de guarda e digitalização. Segundo o Estado, “o planejamento tem sido definido através de plano de ação detalhado, como determinam as legislações de acervos quando se trata de mudanças e deslocamentos de documentos históricos”.
O JC recebeu denúncias de pesquisadores que não conseguiram marcar visitas no Arquivo Público por causa da mudança. Contudo, o Governo afirmou, por nota, que o atendimento ao público continua normalmente na sede do órgão durante o período de transição.
IMPORTÂNCIA HISTÓRICA
Apesar das tentativas da reportagem, o Governo de Pernambuco não respondeu se vai recuperar o prédio estruturalmente ou o que passará a funcionar no local. Agora, o imóvel deve ser mais um propulsor da decadência da Rua Imperial, que tem dezenas de imóveis desocupados, lojas fechadas e poucos pontos residenciais - a maioria que ainda existe, é de moradia precária.
Já houve uma mobilização na gestão do prefeito João Paulo (PT) para recuperá-la, mas o Plano de Reabilitação Integrada e Conservação Urbana da Rua Imperial, que previa residenciais, incluindo habitações populares, comércios e serviços, nunca foi à frente.
À época, foi levantado que a via tinha 450 mil metros quadrados de potencial construtivo. Agora, a aposta da Prefeitura do Recife é em uma reestruturação ampla dos três bairros do centro histórico, Recife, Santo Antônio e São José, por meio do Programa Recentro, que concede descontos e isenções de impostos para construção e recuperação de imóveis na área.
*A reportagem, inicialmente publicada em 7 de março de 2024, errou ao afirmar que o Arquivo Público da Rua do Imperador Pedro II, em Santo Antônio, seria fechado. Na verdade, trata-se apenas no anexo na Rua Imperial.