Com informações da Folha de S.Paulo
Em um recado indireto ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que defende o relaxamento das medidas de isolamento social contra o novo coronavírus para a reabertura do comércio, o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta afirmou que os idosos "não são e nunca serão descartáveis sob o argumento da economia que for". A declaração ocorreu em uma cerimônia informal para colocar a foto dele na galeria de ex-ministros, no hall do prédio do ministério, nesta quinta-feira (16).
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"Não existe ninguém que a gente esteja autorizado a largar para trás. A gente tem que pensar na cracolândia, na favela, no bairro mais humilde. Temos que pensar nos idosos. Eles não são e nunca serão, em hipótese nenhuma, descartáveis. Jamais serão um ponto em estatística, seja sob o argumento que for, da economia que for, e do que quer que seja", disse.
Na avaliação de Mandetta, caso haja flexibilização das recomendações, o sistema de saúde do País poderá refletir o que ocorre na Europa. "O sistema de enfermagem da Inglaterra foi atender com saco de lixo na cabeça. A nossa aqui, se for pelo mesmo caminho, vai ter que ir também. Porque não tem equipamento de proteção individual em quantidade e qualidade que todo mundo quer, porque o mundo inteiro hoje quer", afirmou.
O ex-ministro discursou por cerca de dez minutos depois de ouvir aplausos, cantorias e falas emocionadas dos que trabalharam com ele na pasta. Ele pediu foco e apoio da equipe para a transição. "Minha saída é muito pequena, é insignificante perto da luta que vamos ter que travar. Foco. Nosso inimigo tem nome, e chama-se coronavírus."
Momentos antes de ir embora, citou uma frase de Padre Antônio Vieira, deixando transparecer que sai da pasta com um pouco de ingratidão. "Se tudo que fizeres pela pátria, e ela ainda assim lhe for ingrata, não tereis feito mais do que sua obrigação", disse.