Quase dois meses depois que Regina Duarte tomou posse da Secretaria Especial da Cultura, aliados do presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), estariam fazendo pressão para que a ex-atriz global peça demissão da pasta, e mais: teria o apoio do presidente.
De acordo com a Folha de S.Paulo, Bolsonaro estaria reclamando da dificuldade de diálogo com a atriz e tem encontrado resistência nela em implementar mudanças.
Além da pressão, Regina Duarte teria sido vítima de 'fogo amigo' de membros da própria Secretaria da Cultura, que ocupam a pasta desde a gestão passada (Roberto Alvim). Na avaliação deles, Regina não os tem apreciado, até o momento.
Os integrantes do governo e do setor cultural que foram a favor da escolha da atriz para o cargo relataram, sob anonimato, que a atuação de Duarte na Cultura vem sendo decepcionante.
Em 4 de março de 2020, depois de muita negociação com a TV Globo, onde tinha um contrato de mais de cinco décadas, Regina Duarte tomou posse da Secretaria Especial de Cultura.
Na época, ela aceitou a proposta do presidente Bolsonaro para integrar a equipe no fim de janeiro, onde substituiu o então secretário Roberto Alvim, que foi demitido depois de fazer um discurso parafraseando um ministro nazista da Alemanha.
Aos aliados, Bolsonaro informou que espera que a decisão de pedir demissão parta da própria Regina Duarte. Além disso, o líder do governo deu carta branca para que os seus apoiadores critiquem a atriz.
Mesmo com o cenário que vem enfrentando de pressão, e de pessoas verem as suas publicações nas redes sociais com tom de esgotamento, Regina tem resistido. Ela apontou que vai ficar no governo até quando Bolsonaro quiser e tem afirmado que confia que no presidente e que fará medidas no setor cultural.
De acordo com a assessoria de imprensa da Secretaria Especial da Cultura, "Regina Duarte segue trabalhando, reunindo-se com a equipe, representantes do setor cultural, determinada a fazer seu melhor pela cultura, sempre alinhada com o presidente Jair Bolsonaro".
Desde o momento que chegou à Cultura, Regina Duarte não fez anúncios contundentes para o setor. Ela vem sendo cobrada pelo meio artístico sobre a liberação de recursos para o setor neste momento da pandemia do novo coronavírus.
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A atriz, de 74 anos, faz parte do grupo de risco do novo coronavírus. Ela foi desaconselhada a manter a rotina de viagens para Brasília. Daí, desde o fim de março, ela trabalha de São Paulo.
No período, apenas duas medidas foram anunciadas pela pasta, a flexibilização de prazos para editais e alterações políticas de reembolso de shows e eventos que foram suspensos por causa da pandemia.
Não houve a liberação de recursos, como vem sendo demandado pelo setor, como descontingenciamento do Fundo Setorial do Audiovisual.
A classe artística se incomodou com o fato de a secretária ter dito, em uma reunião com ministros da Cultura, na Unesco, na última semana, que o governo incluiu a Cultura na lista de trabalhadores que vão ter direito ao auxílio emergencial de R$ 600. Os profissionais do setor ficaram de fora do auxílio.
Mesmo com a aprovação de um projeto de congressistas, que permitia a inclusão dos trabalhadores do meio artístico entre os beneficiários do "coronavoucher", o presidente Bolsonaro informou que não deverá estender o programa para qualquer categoria.
De acordo com Úrsula Vidal, secretária de Cultura do Pará, que preside o fórum de secretários e dirigentes estaduais de Cultura, as decisões anunciadas por Regina Duarte até o presente momento não suprem as necessidade do setor e nem atingem todo o País.
Ela apoia que hajam mais investimentos e aponta que vários editais foram feitos em vários Estados, mas ainda estão pendentes por não ter sido feita a liberação de recursos federais.
Na Cultura, a Regina passa por dificuldades operacionais, como falta de equipe e autonomia, por exemplo. Além disso, ela enfrenta também uma 'quebra de braço' com o presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo, que anda fazendo publicações críticas à atriz. Camargo tem o apoio de Bolsonaro e da ala ideológica.
Foi nomeado, nesta terça-feira (28), como secretário-adjunto da Cultura, o advogado Pedro Horta, que ocupava a chefia do gabinete da atriz. Mas, inicialmente, o nome sugerido por Duarte era outro: Humberto Braga, que é produtor de teatro, mas o nome foi barrado pelo Planalto.
Braga sofreu críticas da ala ideológica, que o apontou sob a argumentação de que ele é de esquerda e publicou várias fotos do produtor com congressistas de partidos de oposição ao governo.
As queixas também são crescentes no meio artístico. Há cerca de duas semanas, um vídeo foi divulgado por um grupo que cobrava explicações da secretaria pela demora da implementação de medidas de combate à crise do coronavírus no setor cultural.