O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) chamou, neste sábado (2), o ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sérgio Moro de "Judas", personagem bíblico conhecido por trair Jesus Cristo, através das redes sociais, horas antes do ex-juiz depor em inquérito que investiga possível interferência do governo na Polícia Federal.
"O Judas, que hoje deporá, interferiu para que não se investigasse?", publicou o presidente no Twitter.
A oitiva de Moro foi marcada após o ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), dar o prazo de cinco dias para a corporação ouvir o ex-ministro.
Moro deve detalhar as declarações dadas ao pedir demissão do Ministério da Justiça e Segurança Pública, no dia 24 de abril. Em entrevista à revista Veja, ele afirmou que tem provas para incriminar Bolsonaro e disse que as apresentaria à Justiça.
No dia da demissão, Moro expôs, no Jornal Nacional, da TV Globo, mensagem de Bolsonaro cobrando mudança no comando da PF, por causa de investigações envolvendo deputados bolsonaristas.
As informações levaram o ministro do STF Alexandre de Moraes a determinar a suspensão de Ramagem no dia de sua nomeação, o que pegou o governo de surpresa e deixou Bolsonaro indignado. Se no dia o presidente disse que entendia e respeitava a decisão do Judiciário, no outro declarou que não tinha "engolido" ainda o assunto.
Na quinta-feira, 30, Bolsonaro declarou, em transmissão feita por meio de suas redes sociais, que tinha feito um "desabafo" ao avaliar como motivação política a decisão do ministro Alexandre de Moraes, de barrar a nomeação de Ramagem.
Bolsonaro voltou a insistir para que o STF reveja a decisão e pediu para que os ministros levem em conta o currículo do policial. Na PF desde 2005, Ramagem tem experiência no combate ao crime organizado e de colarinho branco, mas teve a indicação criticada por conta do lobby que os filhos do presidente fizeram para que ele fosse o escolhido em substituição a Maurício Valeixo.
Em frente ao Palácio da Alvorada, Bolsonaro afirmou, ainda neste sábado, que não será alvo de nenhum "golpe" em seu governo. "Ninguém vai fazer nada ao arrepio da Constituição", disse Bolsonaro. "Ninguém vai querer dar o golpe para cima de mim, não", declarou. Após o comentário, Bolsonaro entrou no carro e partiu, sem dizer exatamente ao que se referia.
Bolsonaro enfrenta um momento de forte desgaste com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e com o Supremo Tribunal Federal. No dia 20 de abril, ele participou de um ato público que pedia intervenção militar no País e o fechamento da Câmara e do STF.
Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo publicada neste sábado, o ministro Luís Roberto Barroso, do STF, disse que, numa democracia, a maneira de se administrar a decepção é com eleições. "Impeachment é a última opção", afirmou. Sem se debruçar sobre acusações com potencial de levar Bolsonaro a deixar o governo depois de Dilma Rousseff (2016) e Fernando Collor (1992), o ministro foi taxativo: "É preciso que os fatos sejam graves, demonstrados".