A Prefeitura do Recife não descarta a adoção do bloqueio total das atividades não essenciais, o chamado “lockdown”. O prefeito do Recife, Geraldo Julio (PSB), declarou nesta segunda-feira (4) que “as condições de isolamento vão, sim, ser ampliadas”. Diante desse cenário, parlamentares fazem ponderações sobre a medidas restritivas mais rígidas para o enfrentamento do novo coronavírus (covid-19). No Maranhão, por exemplo, o lockdown passará a vigorar nesta terça-feira (5), na Região Metropolitana de São Luís, segundo decreto da Justiça.
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De acordo com a Secretaria de Saúde do Estado (SES), em seu último boletim, foram confirmados 220 novos casos de covid-19 em Pernambuco, totalizando 8.863 casos já confirmados da doença. Dos 39 óbitos confirmados laboratorialmente, 21 deles são de pessoas residentes no Recife. O Estado totaliza 691 mortes em decorrência do novo coronavírus. Segundo levantamento da Brasil.IO, com dados coletados das secretarias de Saúde e de Planejamento e Gestão (Seplag), a capital pernambucana possui 4702 casos confirmados do novo coronavírus (entre graves e leves).
Para o líder da Oposição na Câmara de Vereadores do Recife, Renato Antunes (PSC),as medidas precisam ser tomadas com equilíbrio e com estudos que mostrem a viabilidade do lockdown na cidade. O vereador discorda deste tipo de medida extrema, e afirma que a Prefeitura deveria ser mais transparente nas suas informações.
“O isolamento que o Recife fez inicialmente foi necessário, mas sem o devido equilíbrio, não pode agora anunciar que irá fazer o lockdown. As informações da gestão não batem, precisamos saber quantos leitos estão disponíveis, quantos estão em funcionamento, a causa daqueles que estão ociosos. Só serei de acordo com essa medida se os critérios forem claros e objetivos”, declara Antunes, que também é membro da Comissão Interpartidária de Acompanhamento do Comitê de Crise - grupo formado por sete vereadores para acompanhar o comitê de Crise gerido pela Prefeitura do Recife.
Outra crítica do oposicionista, é referente às filas em agências da Caixa Econômica Federal. Diariamente têm sido registradas filas e aglomerações nos bancos por pessoas em busca do recebimento do auxílio emergencial do governo federal, no valor de R$ 600. “As agências estão amontoadas e nenhuma medida é tomada. A Prefeitura poderia fazer como o município de Petrolina (Sertão) fez, isolou avenidas, colocou agentes públicos para auxiliar, mas para eles é muito mais fácil criticar e jogar a responsabilidade disso para Deus dará”, dispara Renato Antunes.
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Uma decisão liminar do Tribunal Regional Federal da 5ª Região (TRF-5) da última sexta-feira (1º) determinou que o Governo de Pernambuco auxilie o banco na organização das filas, que anunciou que vai disponibilizar o espaço do Centro de Convenções e escolas nas proximidades das agências da Caixa para funcionarem como locais de triagem e orientações sobre o recebimento do auxílio.
O líder da oposição na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), Marco Aurélio Meu Amigo (PRTB), se diz a favor de qualquer medida de isolamento. “Em todo lugar do mundo onde houve realmente dureza, ou da parte do governo, ou o entendimento da sociedade que é preciso realmente o isolamento para isolar o vírus, funcionou”, disse o oposicionista.
Mas o oposicionista criticou o que chamou de contradição por parte da PCR por não garantir a organização das filas na Caixa. “As pessoas não vão lá (na Caixa) porque querem, vão porque precisam e se sujeitam a tudo que estão passando. E o prefeito não fez nada nem o Governo do Estado, só vieram fazer porque sexta-feira saiu uma liminar da Justiça Federal. Agora vem falar em lockdown, é interessante como ele é híbrido. Propõe uma ação mais radical, mas o simples não fez”, diz Marco Aurélio.
Já o líder do governo na Alepe, Isaltino Nascimento (PSB) critica a falta de diálogo, segundo ele, da Caixa Econômica com os entes federativos. “A Caixa precisa ter um diálogo com os municípios, os estados, que têm experiência em lidar com as pessoas na questão da assistência social, temos instrumentos de quem é da assistencia consegue dialogar, é preciso ter uma descentralização das ações construídas para isso”, disse.
Sobre as grandes filas em torno das agências, a Prefeitura do Recife iniciou no último sábado (2), uma operação especial com participação da Guarda Municipal e da CTTU para auxiliar os funcionários dos bancos a organizarem as filas, permitindo o distanciamento social. Estão sendo distribuídos nas oito maiores agências da Caixa Econômica Federal da cidade, localizada nos bairros de Afogados, Casa Amarela, Encruzilhada, Imbiribeira, Cordeiro, Santo Antônio, Engenho do Meio e Boa Vista, máscaras e álcool em gel.
Líder do governo na Câmara do Recife, o vereador Eriberto Rafael (PP), que também é membro da Comissão Interpartidária, rebate as críticas em relação ao acesso às informações da gestão municipal e defende a adoção do lockdown, caso seja necessário. “O isolamento social tem se mostrado falho sem a adesão da população. A transmissão continua acelerada, e precisamos dar uma freada nisso para que o sistema de saúde possa suportar. Acho que o lockdown é uma possibilidade e teve resultados expressivos em outros lugares que adotaram este tipo de medida”, afirma o vereador.
“Enquanto comissão, que está aprovada, nós fizemos visita ao hospital de campanha, aos centros de distribuição de EPIs, ao sistema de saúde como um todo. Nós vimos a questão da logística e as precauções que a Prefeitura tem tomado”, defende. O parlamentar também relembra a reunião que o grupo teve com secretários municipais de Assistência Social, Saúde, e com o Comitê Municipal de Resposta Rápida. “O prefeito Geraldo Julio já disse que quer fazer uma reunião com os vereadores, e precisamos acertar a data que ela vai ocorrer. É importante que a gente tenha esse diálogo sempre em aberto”, declara Eriberto.
A possibilidade de decretar lock down vem sendo cogitada pelo secretário estadual de Saúde, André Longo, desde o dia 14 de abril. Porém, de acordo com ele, essa medida só poderia ser adotada a partir de um apoio do governo federal. Um pedido de auxílio foi formalizado no último sábado (2) para o Ministério da Saúde, para possibilitar a implantação de medidas mais rigorosas de distanciamento social na Região Metropolitana do Recife (RMR).
Isaltino acredita que seja necessário endurecer as medidas de isolamento. “A tendência é que se não tiver uma medida mais dura a gente vai ter uma dificuldade muito grande das unidades de saúde poderem suportar. Pernambuco é um estado que tem um aeroporto, que tem ligações internas para várias cidades do país e externas para outros países, as cidades que tem essa relação estão sofrendo, recife, fortaleza, manaus, rio de janeiro. Lamentavelmente, eu penso que para preservar a maioria, a integridade física e saúde da maioria, via ser necessária uma atitude mais drástica sob pena da gente ter muitas pessoas infectada s e mortes que poderia ser evitar.
Segundo Isaltino, algumas medidas precisam da participação do governo como em um eventual fechamento de rodovias federais e aeroportos. “Não só em relação a isso mas em relação ao apoio mesmo em si. O que chegou aqui no estado foi pouco em relação a medidas concretas de estrutura e uma mudança de postura do Presidente da república, mas é necessário pelo menos os órgãos estarem sintonizados”, disse.
No entanto, a adoção de medidas extremas precisam ter convergência entre os poderes Legislativo e Executivo, segundo aponta a vereadora do Recife, Aline Mariano (PP). Apesar de ser a favor do lockdown como medida para conter os avanços da covid-19, a parlamentar acredita que a situação precisa ser discutida entre a Câmara Municipal e a Prefeitura, no caso do Recife.
“A última coisa enquanto política, é querer tirar a liberdade de ir e vir das pessoas, é algo extremo, mas entre optar por uma medida como essa e as pessoas correrem risco de vida, que é o que temos de mais preciso, melhor optar por essa medida”, afirma a parlamentar. Aline também declara que é preciso reconhecer os esforços da gestão municipal e estadual para conter o avanço do coronavírus, mas que seria preciso apresentar um planejamento com a adoção de um bloqueio total. “Isso não pode ser feito de forma aleatória, mas em conjunto com o legislativo. Se vamos tirar esse direito, precisamos ver as oportunidades para que a população possa fazer a sua feira, por exemplo”, declara.