INVESTIGAÇÃO

"Meu pai não cansa de ser burro, né?", diz filha de Fabrício Queiroz

Em mensagens às quais o Ministério Público do Rio de Janeiro teve acesso, a filha e a esposa do ex-assessor de Flávio Bolsonaro criticam o fato dele manter articulações políticas mesmo sendo alvo de investigação

JC
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Publicado em 18/06/2020 às 23:28 | Atualizado em 19/06/2020 às 0:03
NELSON ALMEIDA/AFP
VIGIADO Preso em 18 de junho, Queiroz ficará em casa com a esposa - FOTO: NELSON ALMEIDA/AFP

Com informações do Estadão e O Globo

A filha e a esposa do ex-assessor Fabrício Queiroz criticaram o fato dele manter articulações políticas mesmo sendo o principal alvo da investigação do esquema de "rachadinha" na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. Em mensagens de outubro de 2019, às quais o Ministério Público do Rio de Janeiro, Nathalia Queiroz chama o pai de burro, enquanto Márcia Oliveira Aguiar questiona quando o marido vai calar a boca.

"Meu pai não se cansa de ser burro, né?", disse Nathalia ao encaminhar para Márcia uma reportagem do jornal O Globo sobre um áudio de Queiroz falando de cargos em Brasília.

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"Cara, é f***! Não sei cara, quando é que teu pai vai aprender a fechar o c****** da boca dele? Eu tô cansada!", respondeu a esposa de Queiroz.

Nathalia continuou: "Márcia, eu vou te falar. De coração. Eu não consigo mais ter pena do meu pai, porque ele não aprende. Meu pai é burro! Meu pai é burro! Ele não ouve. Ele não faz as coisas que tem que fazer. Ele continua falando de política. Ele continua se achando o cara da política." 

Márcia concordou, comparando o marido aos criminosos que continuar a ditar ordens mesmo presos. "Ele fala de política como se estivesse lá dentro trabalhando, resolvendo. Um exemplo que eu tenho. O que parece? Parece aquele bandido que tá preso dando ordens aqui fora, resolvendo tudo", disse.

A prisão de Fabrício Queiroz

 O policial militar aposentado Fabrício Queiroz foi preso nesta quinta-feira (18) em Atibaia, no interior de São Paulo, numa operação da Polícia Civil e do Ministério Público de São Paulo. Queiroz é ex-assessor parlamentar do gabinete de Flávio Bolsonaro, quando este era deputado estadual no Rio de Janeiro.

A prisão faz parte de desdobramento da investigação que apura esquema de "rachadinha" na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, que é o desvio de públicos por meio da devolução parcial de salário pelos assessores. Ele também é investigado por lavagem de dinheiro fazendo transações imobiliárias com valores de compra e venda fraudados. 

O ex-assessor foi encontrado um um imóvel do advogado Frederick Wassef. O criminalista defende o filho do presidente  no caso que apura suposto esquema de "rachadinha".

Segundo confirmou o delegado da Polícia Civil de São Paulo Osvaldo Nico Gonçalves, os caseiros do imóvel afirmaram, durante a operação, que o ex-assessor estaria na residência há cerca de um ano. Em setembro passado - quando, segundo a polícia, o ex-assessor já estaria no imóvel do advogado -, Wassef negou saber sobre o paradeiro de Queiroz, durante uma entrevista à jornalista Andreia Sadi, na GloboNews.

Wassef também representou Jair Bolsonaro em casos recentes, como no caso Adélio Bispo, após a facada sofrida pelo presidente durante a campanha de 2018, e no caso envolvendo o porteiro do condomínio do presidente.

Queiroz é investigado pelo Ministério Público Estadual do Rio de Janeiro após um relatório do Coaf apontar movimentação atípica em sua conta de R$ 1,2 milhão. Em abril de 2019, a Justiça do Rio de Janeiro determinou a quebra do sigilo fiscal e bancário de Queiroz, do senador Flávio Bolsonaro e de outras 84 pessoas e nove empresas entre 2007 e 2018.

As investigações do Ministério Público do Rio apontaram que o ex-assessor estava atrapalhando a apuração sobre uma organização criminosa que envolveria Flávio Bolsonaro. A obstrução desse tipo de investigação é também um crime, definido na lei das organizações criminosas. A pena para esse delito é de três a oito anos de prisão.

A prisão de Queiroz foi "tranquila", segundo o delegado Nico Gonçalves, da Divisão de Capturas da Polícia Civil. O mandado cumprido, segundo a Polícia Civil de São Paulo, foi de prisão preventiva, determinada pela Justiça do Rio. Também foi expedido um mandado de prisão contra a ex-mulher de Queiroz, Márcia Aguiar.

Flávio diz que prisão de Queiroz é movimento para atacar Bolsonaro

O senador Flávio Bolsonaro se manifestou após a prisão de seu ex-assessor dizendo que a "verdade prevalecerá".

"Encaro com tranquilidade os acontecimentos de hoje. A verdade prevalecerá! Mais uma peça foi movimentada no tabuleiro para atacar Bolsonaro", escreveu Flávio. "Em 16 anos como deputado no Rio nunca houve uma vírgula contra mim. Bastou o Presidente Bolsonaro se eleger para mudar tudo! O jogo é bruto!"

Segundo o presidente, Queiroz estava no interior paulista para ficar perto do hospital onde fez fazendo tratamento para câncer.

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