O texto inicial enviado ao Senado é de autoria do senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), porém o que deve ir à votação é do relator, o senador Angelo Coronel (PSD-BA). O PL já recebeu 152 emendas. Entre as propostas que já fizeram parte, estava a de identificação de usuários por meio de documentos como registro geral (RG) e CPF e a determinação para o limite da quantidade de usuários por grupo e do envio de mensagens encaminhadas em aplicativos de mensagem. A matéria segue sem consenso, e o texto final que deve ir à votação nesta terça-feira foi divulgado na noite dessa segunda (29). Confira abaixo o que você precisa saber sobre o PL 2630/2020.
Desde que começou a pandemia, vários textos começaram a circular na Câmara e no Senado Federal desde abril para tentar legislar sobre a desinformação. Os primeiros a fazer a publicação foram os deputados Tábata Amaral (PDT-SP) e Felipe Rigoni (PSB-ES). Em seguida, o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) submeteu o projeto de lei número 2.630.
Ele começou a tramitar em 13 de maio de 2020. A primeira votação ocorreria em 2 de junho, mas não houve deliberação em função de não haver consenso entre os parlamentares sobre a matéria. Em 25 de junho, na semana passada, haveria uma nova votação, mas mais uma vez ela foi adiada, depois de uma sequência de debates entre os congressistas. Nos dois casos, houve pressão da sociedade civil e entidades do setor, que tecem uma série de críticas aos textos já apresentados.
O texto que deve ir à votação nesta terça foi protocolado no Senado às 20h51 dessa segunda. O novo relatório do senador Angelo Coronel é composto por 31 artigos, divididos em seis capítulos. As principais propostas são:
Desde que foi submetido a apreciação no Senado, o PL já foi alvo de diversas críticas, parte delas em função das propostas apresentadas ao longo desse tempo. Para muitos ativistas, pesquisadores e jornalistas especializados em checagem de fatos, algumas das propostas feriam diretamente o direito à liberdade de expressão e caminhariam no sentido de ampliar a vigilância pública sobre os dados privados de cada usuário. Nesse sentido, foram retirados do último texto apresentado por Angelo Coronel:
Antes disso, em textos anteriores, tinham sido ventiladas propostas como a punição dos usuários pelo encaminhamento de mensagens falsas, a obrigatoriedade de as plataformas identificarem e excluírem todo o conteúdo considerado desinformação. Essas propostas já haviam sido excluídas, pois esbarram - entre outras questões - na falta de uma definição única do conceito de desinformação e na capacidade de checagem humana dos conteúdos em todos as aplicações de redes sociais. Também havia sido excluída a possibilidade de as plataformas retirarem o conteúdo do ar sem possibilidade de contestação, assim como a proibição de funcionamento das plataformas de redes sociais em caso de infrações graves.
O projeto de lei tem sido alvo de queixas desde que começou a tramitar. Uma das principais delas está concentrada na velocidade de tramitação e votação da matéria, que segundo especialistas em direito digital e combate à desinformação tem que ser discutida com maior nível de detalhamento e aprofundamento. “Em menos de um mês, queriam fazer a votação, sem escutar plataformas, estudiosos. Havia propostas como a possibilidade de as plataformas fazerem a identificação por meio de CPF, endereço, o que vai totalmente contra a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). Ou de criar um sistema de pontos, para usuários, o que é muito perigoso e pode levar a exclusões e punições de pessoas mal classificadas”, explicou a pesquisadora do Instituto Liberdade Digital Roberta Battisti ao JC Online no começo de junho.
As críticas também incluem o confronto do PL com o estabelecido no Marco Civil da Internet e na Lei Geral de Proteção de Dados. A Coalização Direitos na Rede tem um site dedicado ao PL das Fake News. Na página, o grupo formado por organizações da sociedade civil, ativistas e acadêmicos em defesa da Internet livre e aberta no Brasil elenca os problemas do projeto anterior ao apresentado nessa segunda por Angelo Coronel. Para eles, a permissão da identificação em massa de usuários ocorre a partir de requisitos genéricos, como simples denúncias; e a coleta em massa de registros de encaminhamentos de mensagens e a vinculação entre um número ativo de telefone celular e o uso de aplicativos de mensageria prejudica a inclusão digital e também afeta a privacidade dos usuários. O site também traz posicionamentos oficiais de várias entidades sobre o PL e classifica o projeto como “a pior lei de internet do mundo”.
Alvo inicial do PL, a desinformação deixou de ser o problema central a ser atacado ao longo da atualização dos textos que tramitam no Senado. Ainda assim, especialistas em checagem de fatos defendem que dificilmente uma lei é capaz de conter o compartilhamento de conteúdos falsos na internet. Em entrevista ao JC Online no início de junho, a diretora adjunta da Rede Internacional de Checagem de Fatos (IFCN) Cristina Tardáguila afirmou que até hoje, no mundo, nenhuma lei conseguiu esse feito.
“Estou estudando regulação e desinformação há dois anos. Sou responsável hoje em dia na IFCN por uma base de dados que acompanha esse tema em aproximadamente 60 países, ativa desde 2018. O que a gente vê é que nenhum país venceu a desinformação, por nenhum método. Nenhum país que optou por regulamentação, por leis, registrou redução no número de notícias falsa”, disse Cristina, em entrevista que pode ser conferida nesta reportagem.
Quer colaborar com o desenvolvimento do projeto de combate à desinformação do Sistema Jornal do Commercio e da Universidade Católica de Pernambuco, o Confere.ai? Cadastre-se no formulário abaixo para receber notícias e testar a plataforma em primeira mão.
Conheça o Confere.ai
O Confere.ai, uma ferramenta de checagem automática de notícias e de produção de conteúdos sobre desinformação desenvolvida pela startup Verific.ai e pesquisadores da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) junto ao Sistema Jornal do Commércio de Comunicação (SJCC). O projeto tem o objetivo de ampliar a cultura da verificação e criar mecanismos para ajudar a audiência a identificar de forma mais rápida e segura conteúdos falsos ou enganosos. Para acessar, basta entrar no site confere.ai ou buscar nas páginas iniciais dos sites do SJCC.