A decisão pela aprovação do adiamento das eleições municipais para os dias 15 e 29 de novembro, em decorrência a pandemia provocada pelo novo coronavírus (covid-19), tem repercutido entre os políticos pernambucanos. Dos parlamentares que representam o estado e votaram a favor do adiamento, três vão disputar o pleito neste ano - Marília Arraes (PT), Daniel Coelho (Cidadania) e João Campos (PSB). No total, o projeto recebeu votos favoráveis de 407 deputados, 70 votaram contra e um se absteve - o Senado Federal, deve promulgá-lo nesta quinta-feira (2).
>> Adiamento das eleições municipais provoca rusga entre prefeitos e deputados federais
>> Eleições municipais 2020 adiadas para 15 de novembro
Pré-candidato a prefeito no Recife, o deputado federal Daniel Coelho (Cidadania) votou a favor do adiamento do pleito municipal para novembro. De acordo com o parlamentar, essa será uma oportunidade de aperfeiçoar o processo eleitoral diante de um cenário atípico, em decorrência da pandemia. “Não temos a ilusão de que vai sair uma vacina contra o novo coronavírus até o mês das eleições. Procuramos nos basear nas recomendações dos infectologistas, inclusive para que a partir de agora se discuta o formato das eleições sobre quais atividades podem ser permitidas ou não. A realização de comícios e caminhadas se tornam perigosas para a sociedade. Agora, nós vamos nos aprofundar sobre essa questão por ter esse tempo maior para um planejamento melhor.
Ainda segundo Daniel, diante das restrições que serão necessárias em relação ao modelo tradicional de campanha, às eleições deste ano devem estar focada nas redes sociais. “Vai ser usada uma estratégia diferente, com reuniões virtuais, que é o Cidadania já tem feito. O contato físico vai ser o mínimo possível”, declarou.
Para o deputado estadual Alberto Feitosa (PSC), que também é pré-candidato a prefeito na capital, o momento agora é de fazer um novo planejamento estratégico para a campanha. Apesar de o presidente do seu partido, o deputado federal André Ferreira, ter votado contra a transferência das eleições dos dias 4 e 25 de outubro para os dias 15 e 29 de novembro, Feitosa explicou que esse tema não foi tratado no partido.
“A discussão ficou a nível da bancada federal. No meu entendimento, a regra vale para todos e agora é um jogo que tem que ser analisado sobre uma decisão real. Para quem começou a campanha mais tarde há uma vantagem, terá mais tempo para se mostrar. Acho que na visão inicial, para os candidatos que não estão concorrendo para a reeleição, esse adiamento é melhor”, afirmou o parlamentar.
A pré-candidata à Prefeitura do Recife pelo Podemos, delegada Patrícia Domingos, não vê qualquer tipo de prejuízo no adiamento do pleito. “Estamos vivendo uma situação ainda de calamidade pública, então toda e qualquer medida que possa assegurar a integridade da saúde das pessoas, para mim é válida. Sou a favor do adiamento, e será mais um período para que o país possa se reorganizar sem expor a população”, afirmou.
Desde o início das discussões em torno das datas das votações, o prefeito de Afogados da Ingazeira e presidente da Associação Municipalista de Pernambuco (Amupe), José Patriota (PSB), defendeu que as eleições não fossem realizadas em 2020, pois, segundo ele, muitas cidades não teriam estrutura para realizar um evento como esse em meio a uma pandemia. Procurado após a aprovação da PEC 18/2020, o gestor municipal mostrou-se preocupado com as consequências da manutenção do pleito neste ano sem que haja uma projeção de estabilização do número de casos da covid-19.
"A responsabilidade pelo que vai ocorrer daqui pra frente é do Congresso. Nenhum infectologista garantiu, até hoje, que em novembro vai estar tudo certo e que poderemos fazer a eleição. Espera-se que o número de casos diminua aqui ou ali, mas e a segunda onda? Vamos aguardar os desdobramentos disso", disse Patriota.
Entre os deputados pernambucanos do PSB, incluindo o deputado João Campos, nome apoiado pelo partido para a sucessão do prefeito Geraldo Julio, apenas o deputado federal Danilo Cabral votou contra a nova data das eleições. O parlamentar já havia defendido que as eleições ocorressem de forma unificada em 2022 e aponta incoerências na decisão aprovada nos dois turnos da Câmara.
“O processo, qualquer que seja neste ano, será marcado por muitas incertezas. Nós temos o Enem, que está em deliberação e poderá ser realizado em maio do ano que vem, o que irá atingir cinco milhões de brasileiros, enquanto o processo eleitoral, em um único dia atinge 120 milhões de brasileiros. Pode ser um processo bastante arriscado. Não temos certeza de quando isso tudo vai terminar, não temos vacina e nem remédio”, declarou.
Para Danilo essa será uma “eleição sem povo”. “Está claro que de outubro para novembro a pandemia não será cessada, e as restrições já serão iniciadas no processo de campanha, que será virtual e não permitirá que todos tenham acesso. No Brasil, 40% das classes D e E não têm acesso a internet. A democracia pressupõe a participação popular”, completou.
O deputado federal Pastor Eurico (Patriota) foi um dos oito deputados de Pernambuco que votaram contra a proposta de postergação da campanha. De acordo com ele, o adiamento das eleições municipais trariam mais prejuízos do que benefícios para os eleitores, por isso não concordou com a sua aprovação. "As pessoas já estão habituadas a se proteger e não teria problema nenhum nas seções de votação. Por outro lado, eleições são um banco de negócios para algumas pessoas. Toda regra tem a sua exceção, mas há eleitores corruptos e candidatos corruptores que negociam votos aos montes. Se a eleição fosse em outubro, haveria menos tempo para essa corrupção se alastrar", argumentou o parlamentar.
Líder do PDT na Câmara, o deputado Wolney Queiroz orientou os parlamentares pedetistas a votarem a favor do adiamento e, em pronunciamento durante a sessão, afirmou que a decisão do partido foi tomada com base na opinião de especialistas da área da saúde. “Não fizemos isso (votar pelo adiamento) por gosto, vontade, desejo, mas por necessidade, pelo descontrole da pandemia. Ações ineficientes e incompetentes do governo federal fizeram com que o País perdesse o controle dessa doença e tivesse esse resultado. Nenhum de nós desejava alterar o calendário”, ponderou.
Na última semana, em meio à pressão de prefeitos junto a parlamentares dos seus Estados, muitas negociações foram conduzidas por presidentes e líderes partidários para se chegar a um consenso para a votação da PEC. Durante a sessão desta quarta, Silvio Costa Filho (Republicanos) enalteceu o trabalho dos envolvidos para a resolução da questão. “Quero parabenizar o papel do Congresso Nacional nessa construção coletiva que foi feita ao longo desses últimos dias. Um dos pilares da democracia é sobretudo o diálogo, o respeito às instituições. O diálogo com o ministro (Luís Roberto) Barroso, o diálogo com o presidente do Senado Davi (Alcolumbre), isso foi muito positivo para que, ao longo da noite de hoje, a gente pudesse chegar a um entendimento e votar pelo adiamento das eleições”, declarou.
Confira como os deputados pernambucanos votaram na PEC do adiamento das eleições:
André de Paula (PSD) - A favor
André Ferreira (PSC) - Contra
Augusto Coutinho (SD) - A favor
Carlos Veras (PT) - A favor
Daniel Coelho (Cidadania) - A favor
Danilo Cabral (PSB) - Contra
Eduardo da Fonte (PP) - A favor
Felipe Carreras (PSB) - A favor
Fernando Filho (DEM) - Contra
Fernando Monteiro (PP) - Contra
Fernando Rodolfo (PL) - Contra
Gonzaga Patriota (PSB) - A favor
João Campos (PSB) - A favor
Luciano Bivar (PSL) - A favor
Marília Arraes (PT) - A favor
Bispo Ossesio (Republicanos) - A favor
Pastor Eurico (Patriota) - Contra
Raul Henry (MDB) - A favor
Renildo Calheiros (PCdoB) - A favor
Ricardo Teobaldo (Pode) - Contra
Sebastião Oliveira (PL) - Contra
Silvio Costa Filho (Republicanos) - A favor
Tadeu Alencar (PSB) - A favor
Túlio Gadêlha (PDT) - A favor
Wolney Queiroz (PDT) - A favor