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João líder entre jovens; Mendonça bem entre os mais velhos; Marília e Patrícia crescem eleitorado mais escolarizado

Após a divulgação da pesquisa Ibope/JC/ Rede Globo, cientistas políticos ouvidos pelo JC analisam a penetração dos candidatos com melhor desempenho à Prefeitura do Recife em diferentes públicos

Cássio Oliveira Luisa Farias
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Cássio Oliveira
Luisa Farias
Publicado em 18/10/2020 às 2:00
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Os resultados oficiais ainda não foram divulgados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), portanto, a pesquisa aponta apenas uma probabilidade - FOTO: Reprodução
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Após a divulgação da pesquisa Ibope/JC/ Rede Globo, cientistas políticos ouvidos pelo JC analisam a penetração dos candidatos com melhor desempenho à Prefeitura do Recife em diferentes públicos, como o evangélico, onde João Campos (PSB) lidera. Já entre o público mais velho e com maior renda, Mendonça Filho (DEM) tem a vantagem. A escolaridade do eleitor e as mudanças em relação à primeira rodada do levantamento também foram apontadas. Marília Arraes (PT) e Delegada Patrícia (Podemos), por exemplo, cresceram no eleitorado que tem o ensino superior.

Liderando a intenção de voto para prefeito do Recife, de acordo com a pesquisa Ibope/JC/Rede Globo, divulgada na quinta-feira (15), o deputado federal João Campos (PSB) também se saiu bem no recorte por religião. Entre os evangélicos, por exemplo, o socialista possui 35% das intenções de voto, enquanto que entre os católicos registra 34%. Ele superou Mendonça Filho (DEM), que havia sido o mais escolhido pelos evangélicos na primeira rodada do Ibope, em 2 de outubro. Naquela ocasião, o democrata possuía 24% nesse segmento e o socialista 18%. Para especialistas ouvidos pelo JC, o resultado chama atenção, visto que o voto, principalmente evangélico, tem ligação com o espectro da centro-direita. Mas as alianças construídas pela Frente Popular do Recife podem ter impactado nesse resultado.

"É um fenômeno interessante, pois tradicionalmente o voto evangélico costuma estar dividido no espectro ideológico que vai do centro-direita à extrema direita, com candidatos vinculados ao Centrão, candidatos religiosos. João ainda não fez aceno a esse grupo, mas como a campanha advoga em favor de assistência aos humildes, é possível que uma parte dos evangélicos se encontre nesse grupo. Além disso, no arco de alianças de 14 partidos, alguns deles possuem presbíteros, diáconos e pastores que são influentes no eleitorado", explica Elton Gomes, cientista político e professor da Faculdade Damas.

Entre os quatro candidatos melhores colocados na pesquisa, Marília Arraes (PT) é a que tem o menor resultado entre os evangélicos, com 9% (na primeira rodada da pesquisa eram 11%). Nos católicos, ela soma 15%, e entre os que se declaram de outras religiões, ela pontuou 20%. Nesses segmentos, ela oscilou dentro da margem de erro de três pontos, visto que, em 2 de outubro, ela possuía 14% e 18%, respectivamente.

Para Elton Gomes, isso se dá por conta do antipetismo, que ainda é forte no eleitorado evangélico. "Por mais que Marília não seja antirreligiosa, ela não consegue carrear esse voto evangélico, quem faz isso são os de centro-direita, como Mendonça e Patrícia, que tem afinidade ideológica com esse campo, e João, por conta do arco de alianças", afirma.

Já a Delegada Patrícia (Podemos) soma 15% das intenções de voto no segmento evangélico. No católico, ela fica em 10%. Dos que se declaram de outras religiões, 14% afirmam votar na candidata. Na primeira rodada, os números estavam em 9% (católicos), 14% (evangélicos) e 12% (outras religiões). Assim como Marília, os resultados da delegada oscilaram dentro da margem de erro de três pontos percentuais para mais ou para menos.

Cientista política e professora na Faculdade de Ciências Humanas de Olinda (Facho), Priscila Lapa destaca que a oscilação "considerável" de João no segmento religioso pode ter se dado pelo início oficial da campanha. "Inicialmente, pode ter havido uma identificação do eleitor evangélico com Mendonça, por ele desde o início ter se posicionado como 'anti-esquerda' ou contrário a bandeiras do PT, sendo entre os que têm esse discurso o candidato mais competitivo, que mais ocupou o espaço no momento da 'largada'. No entanto, com o fator campanha entrando em cena, com guia eleitoral e base nas comunidades, esse discurso pode ter começado a se contrapor com outros fatores, fazendo com que João começasse a angariar a confiança desse segmento do eleitorado", comenta.

Priscila Lapa reforça ainda que a lógica da eleição municipal é diferente. "O que mais pesa é a solução das questões locais, da cidade, do dia a dia das pessoas. Essa polarização que se deu na eleição de 2018 pode não se reproduzir claramente na eleição municipal. O eleitor nem sempre faz essa coerência entre o voto local e o voto nacional, de modo que ele pode ser bolsonarista e não votar em um candidato alinhado ideologicamente com o presidente. Os temas que dominaram as eleições 2018 estão mais diluídos no atual contexto. João não está, portanto, claramente associado como esquerda. Pode ser que em um segundo turno isso ganhe força, essa polarização esquerda contra direita, mas acho que, até o momento, os eleitores estão se distribuindo na lógica continuidade versus mudança, o que é típico em uma disputa local", destaca.

Por fim, a cientista política diz que o PSB tem um "exército" nas ruas pedindo voto para João, entre eles, religiosos. Na própria Câmara do Recife, vereadores que tentam a reeleição e que são da bancada evangélica da Casa, como Ana Lúcia (PRB), Almir Fernando (PCdoB) e Michele Collins (PP), estão na base da Frente Popular do Recife.

RENDA

No quesito renda, a maioria dos recifenses com renda familiar superior a cinco salários mínimos afirma votar em Mendonça Filho. O democrata pontuou 26% nesse público, seguido pela Delegada Patrícia, com 21%; e Marília Arraes, com 18%. João Campos aparece em quarto lugar, com 14% das intenções de voto.

Segundo Priscila Lapa, o público com maior renda tende a defender bandeiras como o combate à corrupção e vê em Mendonça e Patrícia essa defesa. "Nesse caso, acho que renda e escolaridade são variáveis que podem mais claramente atuar na orientação ideológica do eleitor. Os discursos de Mendonça e Patrícia estão muito fortemente colocados no sentido de rompimento com um grupo político que eles tentam associar narrativamente ao desgaste, à ineficiência e à corrupção. Essa linguagem é mais facilmente absorvida nos segmentos de maior renda. Para os de menor renda, o que mais pesa são questões pragmáticas: se o candidato é próximo ou não à comunidade, se já prestou serviços naquela localidade", comenta.

Na medida em que a renda diminui, João cresce na intenção de voto. Para aqueles com renda de até um salário mínimo, ele é o favorito. João pontuou 38% nesse público, seguido por Mendonça com 17%, Marília com 12% e Patrícia com 10%.

Em quarto lugar entre os com menor renda, Patrícia precisa retirar votos da periferia para tentar se consolidar num segundo turno, na visão do cientista político e professor da UFPE Arthur Leandro. "Patrícia tem uma base de classe média e precisa retirar votos da periferia, onde há esse voto de estrutura marcante. Esse voto é conquistado pelas bases, que estão normalmente ligadas ao apoio dos vereadores, das igrejas, das lideranças das comunidades. E, hoje, esse voto está associado a João, seja pela exposição na mídia, mas, principalmente, pela base de estrutura de partidos e cabos eleitorais", afirma.

Cabe destacar que, em relação à primeira rodada da pesquisa, Mendonça ultrapassou João entre os com maior renda. Em 2 de outubro, o democrata tinha 19%, contra 23% do socialista. Marília tinha 15% e Patrícia 11%. Já no eleitorado com até 1 salário, João disparou, pois tinha 25%, e Mendonça oscilou 1 ponto percentual dentro da margem de erro, pois tinha 18%. Nesse público, Marília e Patrícia mantiveram o percentual da primeira rodada da pesquisa 12% e 10%, respectivamente.

NÚMEROS GERAIS

Em relação à primeira rodada do Ibope/JC/Rede Globo, João Campos cresceu 10 pontos percentuais na pesquisa divulgada na quinta-feira. O socialista agora assume a liderança da disputa pela Prefeitura do Recife, com 33% das intenções de voto. Mendonça Filho (18%), Marília Arraes (14%) e Delegada Patrícia (13%) estão empatados tecnicamente na segunda colocação, considerando a margem de erro de três pontos percentuais para mais ou para menos.

ARTES JC
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 João lidera entre mais escolarizados, faixa onde Marília tem maior percentual

O recorte de escolaridade nas intenções de voto da Pesquisa Ibope/JC/Rede Globo, divulgada na última quinta-feira (15), mostra o candidato a prefeito do Recife João Campos (PSB) com o maior percentual nas três faixas: ensino fundamental (38%), ensino médio (38%) e ensino superior (23%).

A menor folga de João é em relação à Marília Arraes (PT), entre os entrevistados com ensino superior. Ela possui 22% das intenções de voto dos formados na universidade. Este por sua vez, é o melhor índice da candidata, que pontua 8% no eleitorado com ensino fundamental e tem a preferência de 13% dos que cursaram o ensino médio.

>> Evangélicos são os que mais votam em João Campos no Recife, segundo a pesquisa Ibope/JC/Rede Globo

>> Pesquisa Ibope/JC/Rede Globo: João Campos lidera em todas as faixas etárias e com maior folga entre os mais jovens

A cientista política e professora da Faculdade de Ciências Humanas de Olinda (Facho)
Priscila Lapa acredita que os eleitores de ensino superior tendem a ser mais críticos quando avaliam a administração municipal, da qual João Campos representa uma continuidade. “Acho que é esse segmento do eleitorado que tende a resistir a mais um mandato do PSB, não só pela avaliação da gestão atual, mas pela compreensão de rompimento com um grupo que há muito está no poder no Estado”, avalia.

Para Priscila, esse segmento também é mais atento aos acontecimentos políticos da cidade. “Traz mais claramente o debate sobre o legado do PT e sobre a forma como se deu o processo político pela definição da candidatura de Marília”, afirmou.

O cientista político e professor da Faculdade Damas Elton Gomes considera que, apesar da hegemonia do PT como partido de universitários não ser mais um fenômeno nacional - Ciro Gomes (PDT) teve mais sucesso nesse campo em 2018 - em Pernambuco essa associação acaba sendo ainda forte. “(Há) muitos sindicatos de professores ligados ao PT, muita gente diretamente ligada a Lula, então é razoável que no nível superior ela se destaque. Nas capitais nordestinas ainda há uma maioria no espectro de centro esquerda e isso beneficia quem quer se eleger explorando o lulopetismo”, afirmou o cientista.

Para o cientista político e professor da Universidade Federal de Pernambuco (Unicap) e da Faculdades Damas Antonio Henrique Lucena o fato do PSOL estar na mesma coligação de Marília, compondo inclusive a vaga de vice com João Arnaldo (PSOL), acaba beneficiando Marília na aprovação desse eleitorado. “É um partido de esquerda que tem pautas identitárias e defendem questões mais próximas da população mais pobre, mas quem vota em grande medida no PSOL termina sendo as pessoas de maior escolaridade. Ela termina aglutinando mais esse voto escolarizado, que é um nicho que PSOL consegue penetrar”, afirmou o cientista.

Ainda em relação ao ensino superior, fazendo uma comparação entre as duas rodadas da pesquisa, a Delegada Patrícia (Podemos) saiu de 13% para 17% do eleitorado, enquanto Mendonça Filho (DEM) caiu de 20% para 18%.”É uma faixa que tem determinadas bandeiras já prontas, que é combate à corrupção, lavajatistas, etc, que vê nela como algo bastante positivo. Ela conseguiu penetrar nesse grupo e está ganhando espaço em uma área que seria de Mendonça”, avalia Lucena.

Pesquisa

Dados gerais da Pesquisa Ibope/JC/Rede Globo mostraram João Campos mais folgado na liderança na disputa pelo Recife, tendo crescido 10 pontos percentuais (p.p.), de 22% para 33% das intenções de voto.

>> Ibope/JC/Rede Globo: João Campos lidera no Recife; Mendonça, Marília e Delegada Patrícia empatam tecnicamente em 2º

O segundo lugar, por sua vez, está indefinido e é disputado por Mendonça Filho, que caiu de 19% para 18% das menções, Marília Arraes, que permaneceu com os mesmos 15% e Delegada Patrícia, que subiu de 11% para 13%. Os três estão empatados tecnicamente, considerando a margem de erro máxima de três pontos percentuais para mais ou para menos.

Os outros oito postulantes na disputa pela Prefeitura do Recife não ultrapassaram 1% das intenções de voto. Claudia Ribeiro (PSTU), Coronel Feitosa (PSC), Marco Aurélio Meu Amigo (PRTB) e Carlos (PSL) pontuam com 1%. Charbel (Novo) e Thiago Santos (UP) foram mencionados, mas não chegaram a 1%. Victor Assis (PCO) não foi citado por nenhum dos entrevistados. A intenção de voto em branco ou nulo foi de 14% e os que não souberam ou preferiram não responder à pesquisa somam 3%.

>> Ibope/JC/Rede Globo: Delegada Patrícia é nome mais forte contra João Campos em eventual 2º turno no Recife

A pesquisa também avaliou um cenário de segundo turno. João Campos (PSB) vence numericamente em todas as simulações, mas empata tecnicamente com a Delegada Patrícia, que tem 39% das intenções de voto e o socialista, 44%.

Patrícia está em situação de empate técnico com Mendonça, ela com 43% e ele com 38%, e também com Marília, que tem 38% das intenções de voto enquanto a delegada tem 42 %. João é mais forte no embate direto com Mendonça. O socialista pontua 48% e o democrata 33%. Já em uma disputa entre João e Marília, ele leva a melhor com 44% e ela com 33% em um eventual segundo turno entre os dois. Por fim, em uma disputa entre Marília e Mendonça, os dois tem empate técnico, com 41% e 40%, respectivamente.

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