Eleições municipais

Desentendimentos na centro-direita recifense podem favorecer candidato da situação, avaliam especialistas

Nesta quarta-feira (28), Patrícia Domingos, Mendonça Filho, Daniel Coelho e outros membros do grupo de oposição na cidade usaram as redes sociais para trocar farpas entre si

JC
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Publicado em 28/10/2020 às 17:33
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O voto ideológico é importante e essas indicações ao STF de ministros mais conservadores seguirão à tônica do governo. No entanto, é importante frisar: o sucesso de Bolsonaro não pode ficar restrito aos grupos ideológicos, afirma o cientista político Alex Ribeiro - FOTO: DIVULGAÇÃO
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O bate-boca generalizado que tomou conta das redes sociais de diversos membros do grupo de centro-direita que em 2018 reuniu-se em torno da candidatura de Armando Monteiro (PTB) para governador pode ter pego os eleitores mais desavisados de surpresa, mas o cenário para que isso ocorresse já vinha sendo montado desde a pré-campanha deste ano. Nesta quarta-feira (28), depois que a coligação do candidato a prefeito do Recife Mendonça Filho (DEM) lançou um vídeo criticando a Delegada Patrícia (Pode) por antigas declarações sobre a cidade, a postulante e seu coordenador de campanha, Daniel Coelho (CID), abriram fogo contra o então aliado e ainda colocaram outros nomes nesse caldeirão, como o Coronel Feitosa (PSC) e Charbel (Novo), que também revidaram.

Desde o início do ano, o clima de animosidade dentro do grupo já extrapolava as reuniões de cúpula e chegava à imprensa, como quando o vereador André Régis (PSDB) abriu mão de concorrer à reeleição para disputar a prefeitura, mas teve o nome vetado pelo partido. Ou ainda quando o Podemos, a despeito dos esforços de parte do grupo em achar um nome que fosse consenso entre os partidos, decidiu unilateralmente oficializar o lançamento da candidatura da Delegada Patrícia, gesto que acabou replicado pelo PSC, pelo PRTB e pelo PSL, por exemplo.

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Mais recentemente, às vésperas do fim do prazo para registro de candidaturas, a desistência de Daniel em se lançar candidato por não ter conseguido angariar apoios ao seu nome e a posterior adesão à postulação de Patrícia, em detrimento da de Mendonça, já apontavam para a situação que observamos hoje. Com o início da veiculação do guia eleitoral, não foram raras as vezes que a delegada fez críticas ao democrata, colocando-o no mesmo patamar que seus outros adversários.

Na visão do cientista político Antônio Lucena, da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), a intensificação das brigas dentro da centro-direita recifense à medida que a votação se aproxima é natural e demonstra o quanto é acirrada a disputa para saber quem vai chegar ao segundo turno junto com o candidato do PSB, João Campos. De acordo com a segunda rodada da pesquisa Ibope/JC/Rede Globo, divulgada no último dia 15, Campos lidera a corrida à prefeitura, com 33% das intenções de voto, enquanto Mendonça, Marília Arraes (PT) e Patrícia estão tecnicamente empatados no segundo lugar, com 18%, 14% e 13% das citações, respectivamente.

"Esse tipo de briga é muito comum no processo eleitoral. Os atores por vezes são aliados, por vezes são oponentes. Veja o exemplo de Jarbas (Vasconcelos, MDB), que subiu do palanque do PSB, sendo que eles eram opositores históricos. Mas essas brigas também mostram que houve um acirramento na disputa para saber quem vai para o segundo turno e quem vai conseguir desbancar o João Campos. Como são candidaturas competitivas, que têm dois dígitos nas pesquisas, elas começaram a adotar a tática de desconstruir aquele que pode se consolidar no segundo lugar. Como Mendonça e a delegada disputam a mesma fatia do eleitorado, é natural que batam um no outro para tentar roubar alguns votos para si", detalhou Lucena.

O docente alerta, contudo, que a estratégia de desconstrução de um candidato que pertence ao mesmo campo político que o seu pode também ser arriscada, vindo inclusive a beneficiar o oponente que têm em comum. "No plano geral, essa guerra fratricida na centro-direita é negativa porque os indecisos que presenciam essa disputa observam os problemas que os dois candidatos têm. Os postulantes expõem as fragilidades um do outro e o eleitor pode acabar optando por votar no PSB, que já vem de um longo tempo no governo", explicou Antônio Lucena.

O historiador e cientista político Alex Ribeiro também disse que considera a estratégia da equipe da Delegada Patrícia, que tem como coordenador de campanha o próprio Daniel Coelho, precipitada, ainda mais com a possibilidade que ela tem de chegar ao segundo turno. "O deputado federal Daniel Coelho só não foi candidato à Prefeitura do Recife por não ter conseguido aliança com outras legendas. Em seu discurso em apoio à candidata Patrícia Domingos, ele afirmou que a divisão da oposição seria prejudicial para derrubar o atual governo do PSB, mas agora ele usa as redes sociais para confrontar também antigos aliados. Isso é arriscado. Os competidores precisam pensar estrategicamente durante todo o processo eleitoral. Se for ao segundo turno, a candidata Patrícia Domingos precisará de apoio, de aceno de postulantes da oposição. As críticas podem ser combatidas, mas de maneira calculada. E colocar o seu antigo aliado ao lado do governo, do seu principal concorrente, não é a melhor estratégia", pontuou.

Questionado se considera o rompimento entre Mendonça, Patrícia e Daniel um caminho sem volta para 2022, o estudioso foi direto ao explicar que, para os parâmetros políticos, ainda há um longo caminho a ser percorrido pelos candidatos até as próximas eleições gerais. "As eleições de 2022 ainda estão muito distantes. Após o pleito deste ano, novas alianças podem se formar e, com isso, cenários diferentes devem ser analisados. Isso não só na oposição, como em grupos que apoiam o governo", detalhou Ribeiro.

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As pesquisas mostram que Bolsonaro perdeu apoio, mas mantém certa popularidade entre as classes D e E, por causa do auxílio emergencial. Como elas são mais dependentes do Estado, costumam ter um voto mais fisiológico", lembra Antonio Lucena - FOTO:REPRODUÇÃO/FACEBOOK

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