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Na briga do segundo turno no Recife, Marília (PT) diz que o primo João Campos (PSB) é imaturo e que PSB mancha imagem de Arraes

As declarações foram dadas em entrevista na manhã desta segunda-feira (16), ao Passando a Limpo, da Rádio Jornal

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Publicado em 16/11/2020 às 10:21
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MARÍLIA ARRAES "[João] não tem maturidade para tomar decisões que o Recife precisa", disse a petista - FOTO: WELINGTON LIMA/JC IMAGEM
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Um dia depois de um disputadíssimo primeiro turno no Recife, a candidata a prefeita Marília Arraes (PT) apontou haver uma inexperiência do seu adversário político no segundo turno, João Campos (PSB). Os dois são primos em segundo grau e voltam a se encarar nas urnas no segundo turno das eleições, marcado para o próximo dia 29 de novembro.

Entrevistada na manhã desta segunda-feira (16), no programa Passando a Limpo, da Rádio Jornal, Marília rebateu declarações de João Campos de que o PT, praticamente, não teria participado dos últimos oito anos de gestão municipal.

"A colaboração (do PT) foi quase nenhuma, pois o PSB não tem posição ideológica firme. Quando vê vantagem política, se alia ao PT, isso aconteceu em 2018. Mas, em 2013 foram para a oposição ao PT para ter candidatura própria à Presidência. Também fizeram parte da campanha de Aécio Neves, que parece que esquecem, apoiaram impeachment e, em 2016, disseram que os problemas eram todos culpa do PT. Em 2018, vendo que iram perder a disputa pelo governo de Pernambuco, fizeram 'L' de Lula livre para retirar nossa candidatura. O PSB desonra totalmente a história de (Miguel) Arraes, usam a imagem dele para ganhar voto, mas se posicionam politicamente de uma forma sem compromisso, as gestões não tem compromisso com quem precisa", disse.

Nesse domingo, o candidato a vice-prefeito na chapa de Marília, o advogado João Arnaldo (PSOL), já havia criticado as posições do PSB. "Foram aliados de Lula, de Mendonça, e vimos agora que, se no futuro for conveniente, podem estar aliados de Bolsonaro. O melhor que o Recife pode fazer ao PSB é fazer o partido entrar numa reflexão, quando se comete erros o melhor é deixar o poder, repensar seus erros, repetidos nos últimos anos", disse.

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João Campos possui 26 anos e está em seu primeiro mandato político, o de deputado federal. Ele é engenheiro civil e foi chefe de gabinete de Paulo Câmara. Logo depois de passar ao segundo turno, o socialista disse que o Recife não pode andar para trás. Na visão de Marília, João não tem como falar das gestões passadas, pois não viveu o período. 

"Vinte anos atrás, João começava no jardim de infância, não tem maturidade para tomar decisões que o Recife precisa, pois para tomar decisão precisa de experiência de vida, precisa administrar uma casa, saber o organizar o recurso, se faltar o pão, saber os horários para se organizar, o povo do Recife vê isso. Se ele reconhece ou não (a contribuição do PT) é questão dele, mas exponho que o PT participou pouco da gestão do PSB pelo vai e vem do PSB na dança de posicionamentos políticos e de alianças partidárias", afirmou Marília.

Eleitorado de centro

Perguntada sobre como poderia capitalizar os votos de eleitores mais ao centro no segundo turno, Marília Arraes disse que a discussão será diferente. "O que está em jogo é se o Recife quer continuar com quatro anos com uma gestão como é essa que está aí, uma continuidade. Ou, se o Recife quer fazer diferente, quer mudar, e mudar com experiência, com segurança. Não é com imaturidade que nós iremos resolver os problemas, principalmente, os estruturais, que o Recife tem. Então, é isso que está em jogo e tenho certeza que as pessoas vão entender, mesmo as que têm um posicionamento mais na direita, mais à centro-direita, vão entender que é isso que está em jogo. Não dá mais para continuar com o PSB, que tem abandonado a saúde, que tem abandonado a política de habitação, de mobilidade, tudo isso é que vai ser discutido nesse período”, disse Marília.

Pensamento parecido tem o presidente do PSOL em Pernambuco e coordenador da campanha de Marília, Severino Alves. Para ele, o desgaste sofrido pelo PSB, após oito anos de gestão será o principal atrativo da candidatura petista para os eleitores que votaram em candidatos mais à direita no primeiro turno. "É natural que, diante da rejeição às gestões do PSB, nós tenhamos uma adesão de setores que não são apenas do campo da esquerda. A gente não vai ter dificuldade em nenhuma em recepcionar eleitores com um perfil diferente do nosso, mas isso não implica na mudança da nossa plataforma política", afirmou o psolista.

Na busca por alcançar mais apoios, Severino conta que o PSOL, ao decidir que a eleição na capital pernambucana é prioridade, convocou seus filiados de todas as regiões do Estado para auxiliarem na campanha neste segundo turno. "A gente convocou a militância do Sertão ao Litoral para estar com a gente pedindo voto e virando a eleição", disse ele.

O Primeiro Turno

No primeiro turno, João recebeu 29,17% dos votos válidos e candidata petista Marília Arraes sagrou-se em segundo lugar, com 27,95%. E essa disputa no segundo turno deve testar a força do Eduardismo e do Lulismo no Recife, apontam analistas políticos ouvidos pelo JC.

Durante a primeira etapa da corrida pela Prefeitura da capital pernambucana, João evocou a imagem do pai, o ex-governador Eduardo Campos, diversas, chegando a mostrar imagens em que ambos realizavam movimentos e falas semelhantes. Já Marília, mesmo não tendo trazido Lula (PT) para a eleição logo no início da campanha, apostou alto ao colar sua imagem à do ex-presidente e sentiu o efeito positivo disso nas urnas.

“Prevejo uma disputa de narrativas entre o lulismo, pelo PT, e o Eduardismo, pelo PSB”, afirma o cientista político Alex Ribeiro, apontando que o confronto dessas correntes ideológicas pode ser um fator de dificuldade tanto para João quanto para Marília que terão que correr em busca do eleitorado de Mendonça e Patrícia, além dos indecisos, para faturar a eleição. “A rejeição ao PSB no Recife e o antipetismo que predomina no eleitorado conservador serão o principais desafios para os dois postulantes conseguirem almejar mais votos”, argumenta Ribeiro.

Hoje, Marília disse à Rádio Jornal que João precisa de uma escora. Ela aponta que não precisa ficar falando das gestões passadas do PT. "Não fico falando nisso porque quero olhar para frente, os compromissos do Partido dos Trabalhadores as pessoas sabem, sabem como foi a cidade, sabem que as creches, morros, habitação tem a ver com o projeto que o PT representa no País e que Lula fala na programação eleitoral de TV. Não precisa exaltar o passado, usamos como inspiração, mas deixando claro que a liderança do projeto é minha, sou Marília Arraes, tenho minha trajetória e não me escoro na história de ninguém, diferente de João que esta sempre tentando uma escora, pois não tem história de vida suficiente para mostrar à população", afirmou a petista.

O cientista político Hely Ferreira lembra que há um desgaste natural do PSB por estar há muito tempo na prefeitura e uma forte rejeição ao PT entre os eleitores posicionados mais à direita. Diante desse cenário, ele aponta fatores que podem ser decisivos no segundo turno. “Quem tiver menor rejeição, tem uma boa vantagem e possibilidade ser eleito”, afirma o especialista, ressaltando que o segundo turno deve ser acirrado.

 

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CRITÉRIO Para a vaga ocupada por Marília Arraes, só vão poder concorrer candidatos filiados ao PT - FOTO:ARNALDO CARVALHO/JC IMAGEM

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