Candidatos do Recife adaptam agendas em primeiro fim de semana após TRE-PE proibir atos de rua

A menos de duas semanas antes do primeiro turno, postulantes tiveram que rever suas estratégias para chegar até o eleitor
Luisa Farias
Publicado em 01/11/2020 às 22:56
Candidatos à Prefeitura do Recife Foto: JC


Arte: JC - Eleições 2020

Atualizada às 20h25 do dia 2 de novembro de 2020

Os candidatos à Prefeitura do Recife tiveram que adaptar as suas agendas neste primeiro fim de semana após a decisão do Tribunal Regional Eleitoral de Pernambuco (TRE-PE) de proibir eventos de rua que provoquem aglomerações em todo o Estado, anunciada na última quinta-feira (29). Analistas ouvidos pelo JC afirmam que a mudança nas regras nesta reta final da campanha pode estabilizar o cenário atual de intenções de votos. Já os quatro candidatos mais bem colocados na pesquisa Ibope/JC/Rede Globo tentam achar o equilíbrio entre cumprir as regras e se aproximar do eleitor.

João Campos (PSB), Delegada Patrícia (Podemos) e Mendonça Filho (DEM) cancelaram as agendas de ruas neste sábado e domingo. Já Marília Arraes (PT), manteve as visitas e caminhadas nas comunidades, mas sem a participação da militância. Nesta segunda-feira (2), a equipe da candidata encaminhou uma nota à reportagem informando que, de agora em diante, a campanha da petista não realizará mais atos desse tipo. "A candidata Marília Arraes não está fazendo caminhadas nas comunidades. Ela seguirá fazendo campanha seguindo as determinações da resolução do TRE-PE", afirma o comunicado.

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Segundo a terceira rodada do Ibope, divulgada na última quinta-feira (29), João Campos tem 31%, Marília Arraes 18%, Delegada Patrícia 16%, e Mendonça Filho aparece com 13%. Considerando a margem de erro de três pontos percentuais para mais ou para menos, os três últimos estão tecnicamente empatados no segundo lugar. Além disso, mesmo com a vantagem do candidato socialista, neste cenário, a disputa aponta tendência de segundo turno.

A petista questiona a decisão do TRE-PE. A resolução Nº 372/2020, aprovada por 6 votos a 0, se baseou no aumento do número de casos de covid-19 em Pernambuco e a ameaça de uma segunda onda da doença, assim como está ocorrendo em países da Europa. Houve uma alta de 34% dos casos se considerarmos a evolução da média móvel entre a última sexta-feira (30) e os 14 dias anteriores.

"Foi uma decisão que pegou todos de surpresa, porque no mesmo dia o governo do Estado anunciou que não estava havendo alta nos casos de covid-19, anunciou que a partir da próxima semana iniciará a 11ª etapa de reabertura", disse a candidata em um vídeo publicado nas suas redes sociais. "É um momento importante da campanha, onde a gente tá fazendo a grande virada, que teria como marco a caminhada Lilás na sexta-feira, mas que infelizmente não pôde ser feita. Mas o que a gente está fazendo é uma virada silenciosa", disse.

A resolução do TRE afirma que as aglomerações estão proibidas no Estado por meio de decreto, então, "não há razão para permiti-las em atos de campanha", diz trecho do documento.

Outra questão apontada é um desequilíbrio na disputa eleitoral, uma vez que "os candidatos que causam aglomeração, ignorando as orientações sanitárias, acabam por obter vantagens sobre aqueles que seguem as normas", diz outro trecho.

"O ideal é que ninguém fizesse [campanha], mas o outro vai fazer achando que ninguém vai fazer para ganhar vantagem. E, desse jeito, todos acabam fazendo. E todos fazendo campanha de rua, isso faz com que você tenha um momento significativo no número dos casos de covid-19", afirma o cientista político e professor da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), Antonio Henrique Lucena.

Lucena acredita que a proibição deixará a correlação de forças entre os candidatos como está atualmente. "Fica um pouco mais complicado para os candidatos que têm pouca visibilidade, pouco tempo de TV, tentarem conseguir mais votos justamente nas camadas onde eles não têm um eleitorado cativo", disse.

Para o cientista político e professor da Faculdade Damas Elton Gomes, a decisão foi tardia, e isso explica os questionamentos dos próprios candidatos quanto à sua legitimidade. "Porque eles entendem que isso tem um viés político que beneficiaria sobretudo candidaturas que estão à frente das pesquisas, já que você tira dos opositores a possibilidade de mobilizar a população em prol de um projeto político alternativo. Isso vai fazer com que os opositores tentem encontrar um meio para flexibilizar essa norma. E as próprias candidaturas de governo vão tentar manter a sua militância ativa de alguma maneira", pontuou.

Ele se diz preocupado com a aplicabilidade da norma. "O papel aceita tudo, se você proibir a lei da gravidade, não quer dizer que as coisas vão parar de cair. Se questiona a capacidade do poder público de fiscalizar isso", diz.

A norma diz que os "juízes eleitorais podem, de ofício ou por provocação, exercer poder de polícia para coibir atos com aglomerações. Posteriormente os envolvidos serão investigados por suposta prática de ato de propaganda eleitoral irregular, abuso do poder político, abuso do poder econômico e/ou crime eleitoral". Os juízes podem impor sanção pecuniária para os candidatos, partidos e coligações que violarem algum dos aspectos da norma, mas não fica estabelecido o valor de uma eventual multa.

CANDIDATOS

Alguns candidatos aproveitaram o fim de semana para gravar os guias eleitorais para os últimos dias de propaganda de rádio e televisão, como foi o caso de João Campos, Marília Arraes, Carlos (PSL) e Marco Aurélio Meu Amigo (PRTB). Mas mesmo com todas as restrições impostas, os postulantes tentaram adaptar suas agendas para manter contato com lideranças partidárias.

Além de gravações e reuniões internas, João Campos teve apenas um encontro no sábado (31) com o deputado estadual Pastor Cleiton Collins (PP). "A Frente Popular tinha programado visitas e caminhadas em bairros de diferentes áreas da cidade, mas para atender a decisão do TRE cancelou as atividades e está discutindo internamente novos modelos de atos", disse o candidato através de nota.

 Delegada Patrícia inicialmente havia planejado promover no fim de semana o que chamou de "Paredão da Delegada". A proposta era de que a candidata percorresse bairros do Recife em seu próprio carro para divulgar suas propostas à distância. Mas todas as edições do "paredão" acabaram canceladas e a candidata resolveu se concentrar em agendas internas para planejar os próximos atos de campanha.

"Estamos nos adaptando às novas determinações para continuar apresentando o nosso projeto para as pessoas. O Recife quer mudança e nós representamos essa mudança. Estaremos sempre com o povo", disse a candidata, por meio de nota.

Segundo Mendonça Filho (DEM), depois da decisão do TRE-PE, procurou outras formas de interação por meio de reuniões e visitas. "Alguns eventos de campanha como caminhadas, mini carreatas foram repensados e novos formatos serão realizados dentro do permitido e sem que cause aglomeração. Além disso, intensificamos o uso das redes sociais e uso do comitê, tudo dentro do limite permitido pelo decreto estadual", afirmou o democrata, também por meio de nota.

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