No debate da Rádio Jornal, Marília Arraes segue estratégia de colar imagem de João Campos à gestão do PSB no Recife

A candidata a prefeita do Recife Marília Arraes (PT) acusou o seu adversário João Campos de espalhar cartazes na cidade com frases contra ela
Luisa Farias
Publicado em 19/11/2020 às 14:16
MARÍLIA ARRAES Campanha ao lado da população Foto: YACY RIBEIRO/JC IMAGEM


Arte: JC - Eleições de 2020

Durante o debate da Rádio Jornal, realizado na manhã desta quinta-feira (19), a candidata a prefeita do Recife Marília Arraes (PT) seguiu com a sua estratégia já adotada na campanha de colar a imagem do seu adversário no segundo turno João Campos (PSB) a gestão do prefeito Geraldo Julio (PSB). Marilia também adotou uma narrativa de que a sua campanha foi propositiva, enquanto João agora partiu para as agressões. Ela, inclusive, acusa o socialista de ter espalhado vários "lambe-lambes" pela cidade contra ela. Foram vistos em alguns pontos da Zona Norte do Recife cartazes com a imagem da candidata e a frase "PT nunca mais".  

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"Hoje eu passei tinha lambe lambe na rua com a minha foto. É o desespero porque o projeto de poder está ameaçado. Se você receber algum card, figurinha falando da gente, é agressão, não se faz política dessa maneira. A gente está fazendo as propostas que o Recife precisa. Eu andei a cidade inteira, ninguém é vereador três vezes se não for presente. A gente não faz de tudo para ganhar eleitor não", disse Marília, durante o quarto bloco do debate.

A candidata também aponta uma falta de experiência de João Campos. "Eu fui a candidata que mais cobrei que houvesse debates no primeiro turno, agora no segundo a gente está tendo a oportunidade de ter esse confronto, até porque o eleitor precisa saber quem tem maturidade, quem está preparado para tomar as decisões, quem tem experiência de vida inclusive para liderar uma cidade com o Recife", disse Marília à TV Jornal ao final do debate. 

Durante o debate, João Campos acusou Marília de ter passado toda a campanha fazendo ofensas a ele. "eu estilo é outro. Eu não vou passar meu tempo me dedicando a falar mal das outras pessoas, eu vou falar da cidade, porque isso sim é ter maturidade. Vocês sabem como o PT administrou o Recife. Vocês sabem que a candidatura de Marília foi construída em São Paulo. Ela fala de autonomia, mas quem não terá autonomia é ela. O PT nacional sonha em poder ocupar o Recife, poder vir para o Recife com todos os seus figurões que o brasil conhece tão bem, que o Brasil repulsa", disse. 

Já Marília argumentou que as críticas feitas a ele não foram pessoais. "João Campos, todo mundo sabe que o imaturo aqui é você. Jamais fiz críticas pessoais a ninguém na minha trajetória. Diferente do que o PSB fez comigo", disse. "Agora, sobre se dobrar, eu nunca me dobrei nem ao PSB na época que mandava e desmandava nesse estado, vou me dobrar a ninguém. Quem lidera o processo político aqui sou eu. Agora você, ninguém sabe se quem vai mandar é sua mãe, é Geraldo Julio, é Paulo Câmara", afirmou Marília. 

Ela o acusou ainda de ingratidão para com o PT. "O seu pai fez o governo que fez com a ajuda do presidente Lula, isso é ingratidão estar falando disso. Na hora de ir até São Paulo para retirar a nossa candidatura ao governo, vocês foram. Na hora de ir até são Paulo para tentar que eu não fosse candidata a prefeita, vocês foram. Então tenha respeito pelo povo do Recife e por mim", completou. 

Duelo de gestões

Por diversas oportunidades, Marília ressaltou o fato de João Campos integrar o PSB, seu ex-partido, que na avaliação dela não fez uma boa gestão no Recife. No terceiro bloco, em que os candidatos perguntavam entre si e o tema sorteado foi o déficit habitacional no Recife, ela respondeu a uma pergunta de João Campos sobre a política de erradicação das palafitas, acusando o PSB de descontinuar políticas implementadas pelas gestões anteriores do PT. A capital pernambucana foi governada por João da Costa (PCdoB, então no PT) por dois mandatos e João da Costa (PT) por um mandato. 

"É importante dizer que durante as gestões do nosso partido, foram removidas cerca de 2 mil palafitas e essa política habitacional foi estancada por Geraldo Julio, por vocês do PSB. Nós temos esse compromisso. Foram entregues, durante as nossas gestões, quase 8 mil unidades habitacionais e agora nós vamos voltar a fazer uma política que teria que ter sido continuada", afirmou Marília. 

João Campos questionou a viabilidade do seu Programa Palafita Zero, para acabar com as cerca de 26 mil palafitas na capital pernambucana. "Se você pegar 26 mil palafitas e multiplicar por R$ 83 mil, que é o custo de uma unidade habitacional na faixa 1 do Minha Casa, Minha Vida, dá R$ 2,1 bilhões.  Se você pegar tudo o que a prefeitura tem pra investir em quatro anos, pegando Educação, saneamento, saúde, não dá R$ 2 bilhões. A conta não fecha. Você está pegando um problema real, que deve ser enfrentado e dando uma solução que não é verdadeira". 

Na tréplica, a candidata ressaltou os 15 habitacionais com obras paradas na atual gestão e disser ter coragem para solucionar o problema das palafitas. "Você está dizendo é que não dá para fazer, porque é difícil. A gente não, a gente tem coragem de enfrentar essas questões e a gente vai envolver todos os setores da sociedade nesse embate. Nós vamos bater com o pires na mão na porta de ministro, na porta de quem for, não importa a corrente política em que esteja. E é possível sim, com uma política de estado, não pode ser simplesmente uma política de governo, porque se chegar um governo descomprometido como o governo do seu PSB, de Geraldo Julio, então realmente não avança", respondeu. 

Ainda no terceiro bloco, Marília também voltou a apontar contradições que considera marcarem o histórico do PSB, como o fato do partido ter apoiado Aécio Neves no segundo turno da eleição de 2018. "O PSB uma vez está de um lado, outra vez está de outro, tira foto com Aécio Neves, traz Aécio Neves para cá para apoiar ele para presidente, depois está agarrado com Lula e depois está esculhambando Lula como você está fazendo agora, então realmente é um grupo que não me cabe", disse a petista, em resposta à João Campos, que lembrou o fato dela ter sido secretária no primeiro mandato de Geraldo Julio. 

Propostas

No primeiro bloco, quando os candidatos fazem a apresentação da sua candidatura, Marília Arraes destacou a sua trajetória política, que a credencia para gerir a capital pernambucana, segundo ela. "Tudo na minha vida foi assim e conquistado superando vários obstáculos. Não foi fácil chegar até aqui, não foi fácil conquistar inclusive o direito de ser candidata. Cheguei ao segundo turno com quase o mesmo percentual do candidato adversário, mas com a força do povo. A gente não faz política com intermediário e a gente mostrou que é possível priorizar, é possível que o Recife deixe de ser a capital da desigualdade", disse Marília. Em 2018, ela teve a sua candidatura ao Governo de Pernambuco rifada pelo PT em nome de uma aliança do partido com o PSB. 

Na pergunta que fez sobre o tema da saúde, Marília Arraes relatou o que chamou de cenário de sucateamento da área, em especial na atenção básica. "Tem filas imensas para se fazer consultas e exames, muita gente dorme na fila", disse Marília. 

A candidata criticou as promessas feitas por João Campos, que segundo ela, não tem credibilidade junto à população. "Há oito anos Geraldo chegava prometendo fazer, prometendo resolver, prometendo fazer upinha, hospital, que fez algumas coisas com o dinheiro que o governo federal mandou na época, o governo do nosso partido, mas o Recife não acredita mais nesse tipo de promessa!, afirmou. 

Ela rechaçou a proposta de João de construir um Hospital da Criança - que não está prevista no seu programa de governo - enquanto a Casa da Criança de Afogados, está fechada. A gente tem que cuidar do que já tem na cidade e não está funcionando, que está sucateado, e é isso que a gente vai fazer. A gente vai colocar para funcionar o que já existe no Recife, colocar médicos nas equipes. Até o final do ano passado 28 equipes não tinham médicos ainda, as enfermeiras estão lá lutando para colocar essa equipe para funcionar. Então, nós vamos resolver esse problema, ampliar a atenção básica e colocar para funcionar o que não funciona", prometeu Marília. 

"Diretrizes e programas são coisas diferentes. As diretrizes foram apresentadas e o programa é feito ouvindo as pessoas, sendo consolidado ao longo da candidatura. Fizemos só propostas e projetos responsáveis, entendendo as demandas e o que é possível ser feito", rebateu João

Sobre a mobilidade, Marília acusou o PSB de negligenciar o transporte público, quando João Campos perguntou a sua opinião sobre a Faixa Azul, exclusiva para ônibus, implementada na gestão de Geraldo Julio. "A Faixa Azul existe? Existe, mas não contempla para quem realmente precisa ir trabalhar", disse Marília, que questionou a posição dele em relação a dupla função dos motoristas, proibida em lei aprovada recentemente pela Câmara Municipal do Recife. "Mas sabe porque não funciona com vocês a mobilidade, não prioriza o transporte coletivo? Porque vocês falam fino com empresário e falam grosso com trabalhador. Com a gente vai ser diferente", disse. 

"Além da ampliação das faixas exclusivas, na nossa gestão, as ciclovias e ciclofaixas não vão ser um caminho de rato não que ninguém sabe para onde vai. Vai contemplar aquele trabalhador que precisa usar a bicicleta para ir até o seu trabalho e economizar a passagem", explicou Marília. 

João respondeu que sempre foi contra a dupla função, e que o projeto de lei que prevê a proibição "foi aprovado com os votos do PSB na Câmara e o prefeito sancionou a lei". 

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