Preso na manhã desta terça-feira (22) durante uma operação que mira um suposto esquema de propinas na Prefeitura do Rio de Janeiro, o prefeito carioca Marcelo Crivella (Republicanos) chegou a pedir, durante sua campanha à reeleição, que os eleitores não votassem no seu adversário, o ex-prefeito Eduardo Paes (DEM). A justificativa do bispo licenciado da Igreja Universal era que o democrata seria preso por corrupção, em virtude de menções em delações de executivos de empreiteiras no âmbito da Operação Lava Jato. Apesar do pedido de Crivella, Paes foi eleito com 1.629.319 votos válidos, um percentual de 64,07%.
"Eduardo Paes vai ser preso e digo isso com coração partido, porque ele cometeu os mesmos erros que [os ex-governadores do Rio, Sérgio] Cabral e [Luiz Fernando] Pezão", afirmou Marcelo Crivella no último debate entre ele e Paes na disputa pela Prefeitura do Rio, na TV Globo.
O republicano disse ainda que o democrata é mencionado em "dezenas de delações" e que "não tem como escapar da prisão".
Eduardo Paes, por sua vez, revidou e citou o suposto "QG da Propina", que motivou a prisão de Crivella nesta terça-feira. "Ele morre de medo de ser preso quando aquele Rafael Alves, do QG da Propina, começar a falar", ironizou Paes, fazendo referência ao empresário apontado pelo Ministério Público do Rio como operador do prefeito.
Nas redes sociais, os internautas relembraram o episódio, quando o prefeito preso nesta manhã também afirmou que já tinha disputado eleições com "pessoas do grupo do Eduardo" e eles foram presos.
"Eu já disputei eleições contra pessoas do grupo do Eduardo, como o Sergio Cabral e Pezão, e eles ganharam. Mas ganharam mesmo? Eles foram presos. Vai ser a mesma coisa com o Eduardo Paes, ele vai ser preso", disse ele.
A 'profecia' de Crivella, até o momento, não se concretizou. Paes foi alvo de busca e apreensão em setembro, acusado pelo Ministério Público Eleitoral do Rio de Janeiro (MPE-RJ) de receber propinas de operadores financeiros do grupo Odebrecht em 2012, mas não há mandado de prisão contra ele.
Marcelo Crivella foi preso na manhã desta terça-feira (22) em uma operação conjunta entre Polícia Civil e o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ). Além do mandatário, o empresário Rafael Alves e aposentado Fernando Moraes, o ex-tesoureiro da campanha de Crivella, Mauro Macedo e o empresário Adenor Gonçalves dos Santos também foram presos. A ação é um desdobramento da Operação Hades, que investiga um suposto "QG da Propina" na Prefeitura do Rio.
O prefeito, que está a nove dias de concluir o mandato, foi preso em sua casa, na Barra da Tijuca, de onde foi levado para a Cidade da Polícia, na Zona Norte do Rio de Janeiro. Para lá também seguiram os outros alvos da operação, onde irão, primeiro, para a delegacia Fazendária.
Ao chegar na delegacia Fazendária do Estado, poucos minutos após ser preso, Crivella afirmou que foi "o governo que mais atuou contra a corrupção" na cidade. Ele disse ainda que a ação deflagrada pela Polícia Civil e o Ministério Público do Rio é "perseguição política".
"[Esta operação] é uma perseguição política. Lutei contra o pedágio ilegal, tirei recursos do carnaval, negociei o VLT, fui o governo que mais atuou contra a corrupção no Rio de Janeiro", disse Crivella, que também afirmou que sua expectativa é que a justiça seja feita.
Como o vice-prefeito Fernando Mac Dowell morreu em 2018, quem assume a Prefeitura do Rio nos últimos dias é Jorge Felippe (DEM), presidente da Câmara de Vereadores carioca.
O ex-senador Eduardo Lopes (Republicanos), que era suplente de Crivella até a posse dele na Prefeitura, também é alvo da operação. Ele também já foi secretário de Pecuária, Pesca e Abastecimento do governador afastado Wilson Witzel e Ministro da Pesca no Governo Dilma, também em substituição a Crivella. No entanto o ex-parlamentar, não foi encontrado em casa pelos policiais. A informação é que ele teria se mudado para Belém, no Pará, mas deve se apresentar às autoridades.
A investigação teve como ponto de partida a delação premiada do doleiro Sérgio Mizrahy, preso no âmbito da operação "Câmbio, Desligo", um dos desdobramentos da Lava Jato fluminense. Veio dele a expressão "QG da Propina" para se referir ao esquema, que teria como operador Rafael Alves, irmão do ex-presidente da Riotur, Marcelo Alves - os dois foram os principais alvos dos mandados de março, e Marcelo foi exonerado logo depois.
O suposto QG funcionaria assim, de acordo com o delator: empresas interessadas em trabalhar para o Executivo carioca entregavam cheques a Rafael, que faria a ponte com a Prefeitura para encaminhar os contratos. O esquema também funcionaria no caso de empresas com as quais o município tinha dívidas - aqui, o operador mediaria o pagamento.
Durante a primeira fase da operação, um vídeo mostra um delegado atendendo a suposta ligação de Crivella para o celular de Rafael. Segundo o relatório da polícia, na tela do celular apareceu a identificação da pessoa que estava ligando: “Prefeito Crivella Novo 2”. Ao atender, o delegado identificou a voz do interlocutor como sendo do prefeito, que disse: “Alô, bom dia Rafael. Está tendo uma busca e apreensão na Riotur? Você está sabendo?”.
Por causa disso, em setembro, a Polícia Civil do Rio de Janeiro e o MP-RJ cumpriram mandados de busca e apreensão na Prefeitura do Rio, no Palácio da Cidade, e na casa de Crivella. À época, o político teve o celular apreendido.