Pouco mais de um mês após o fim da campanha eleitoral de 2020, o PT pernambucano decidiu desembarcar do governo Paulo Câmara (PSB) e adotar uma posição "independente" na Assembleia Legislativa (Alepe). De acordo com o presidente estadual do partido, Doriel Barros, o principal motivo para o rompimento seria o modo "desrespeitoso" e "inaceitável" como, segundo ele, os petistas foram tratados pela campanha do então candidato João Campos (PSB) na eleição de 2020, deixando claro que a agremiação não possui "divergências administrativas" com o governo.
"Nosso posicionamento não decorre de divergências administrativas com o governo que consideramos estar cumprindo os compromissos celebrados no programa de governo referendado em 2018 pela população pernambucana. É uma consequência política do acirrado enfrentamento eleitoral municipal de 2020, especialmente no Recife, onde recebemos da campanha do PSB tratamento inaceitável, desrespeitoso e incompatível com o histórico de relacionamento de nível elevado entre nossas siglas", diz trecho da nota que Doriel Barros divulgou nesta quinta-feira (14).
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Durante a campanha do ano passado, o então candidato do PSB à Prefeitura do Recife, João Campos, não hesitou em criticar duramente o PT em debates e no seu guia, sobretudo no segundo turno. O fato levou algumas alas do partido a pressionarem a cúpula petista no Estado para o desembarque do governo Paulo Câmara (PSB), onde a sigla ocupava a Secretaria de Desenvolvimento Agrário, mas a decisão acabou saindo apenas agora, cerca de um mês e meio após o fim do pleito.
O descontentamento com a permanência do PT no governo levou até mesmo à criação de um abaixo-assinado por militantes da sigla, conforme noticiou o Blog de Jamildo nesta semana. De acordo com a reportagem, a mobilização começou ainda no mês de dezembro e já contava com mais de 300 assinaturas quando a matéria foi publicada. Ao apresentarem a coleta de assinaturas, os filiados contrários à manutenção da aliança diziam concordar com nota da Secretaria da Juventude do PT, que, em 16 de dezembro, solicitou o rompimento com os pessebistas no plano estadual.
“Nós, abaixo-assinado, militantes filiados ao Partido dos Trabalhadores, temos plena concordância com os termos da nota emitida pela Secretaria da Juventude do PT e vimos solicitar da Direção Estadual que todas as providências sejam tomadas para encaminhamento das seguintes questões: 1. Entrega imediata dos cargos comissionados ocupados nas gestões do PSB, estadual e municipal do Recife; 2. Abertura de processos disciplinares contra filiados e filiadas que praticaram infidelidade partidária nas eleições municipais do Recife, sobre os quais existe amplo material comprobatório”, diz o documento.
Na texto encaminhado hoje à imprensa, Doriel conta, ainda, que foi determinante para a decisão da legenda o fato de que a direção nacional do PT não se manifestou contra o rompimento nem demonstrou interesse com a manutenção da aliança em Pernambuco. "(Nosso posicionamento) Decorre também da posição da direção nacional do PT, que não produziu nenhuma manifestação pública ou reservada que demonstrasse o interesse em preservar nossa participação no governo como espaço facilitador de conversas entre as duas siglas em nível nacional. A partir de agora, assumimos um posicionamento de independência em relação ao governo estadual que pautará também a nossa conduta na Assembleia Legislativa de Pernambuco. Esperamos ainda a continuidade de um diálogo respeitoso com o governo estadual e com a própria Frente Popular", declarou o parlamentar.
Confira, na íntegra, a nota de Doriel Barros:
Como resultado de debates internos sobre a continuidade da participação do Partido dos Trabalhadores no Governo do Estado, decidimos deixar os cargos que o PT ocupa na atual gestão(PSB-PE).
Nossa participação na gestão foi uma decorrência natural da aliança que celebramos com o PSB em 2018 e que teve resultados extremamente positivos para ambos os partidos, entre os quais as reeleições do governador Paulo Câmara no primeiro turno e do senador Humberto Costa, além da significativa contribuição ao desempenho eleitoral de Fernando Haddad no primeiro e segundo turnos das eleições presidenciais.
Ao longo desses dois anos, o PT contribuiu de forma decisiva para o sucesso da administração estadual, desenvolvendo políticas públicas com criatividade, competência e compromisso com a maioria da população, especialmente no segmento da agricultura familiar. Implantamos um trabalho que, se continuado, permitirá a colheita de importantes frutos para a gestão estadual e mudanças estruturais nesses setores.
Nosso posicionamento não decorre de divergências administrativas com o governo que consideramos estar cumprindo os compromissos celebrados no programa de governo referendado em 2018 pela população pernambucana. É uma consequência política do acirrado enfrentamento eleitoral municipal de 2020, especialmente no Recife, onde recebemos da campanha do PSB tratamento inaceitável, desrespeitoso e incompatível com o histórico de relacionamento de nível elevado entre nossas siglas.
Decorre também da posição da direção nacional do PT que não produziu nenhuma manifestação pública ou reservada que demonstrasse o interesse em preservar nossa participação no governo como espaço facilitador de conversas entre as duas siglas em nível nacional.
A partir de agora, assumimos um posicionamento de independência em relação ao governo estadual que pautará também a nossa conduta na Assembleia Legislativa de Pernambuco.
Esperamos ainda a continuidade de um diálogo respeitoso com o governo estadual e com a própria Frente Popular.
Recife, 14 de janeiro de 2021.
Doriel Barros
Presidente do Partido dos Trabalhadores de Pernambuco.