Pleito

As pedras no caminho que complicam cenário para Sergio Moro nas eleições 2022

Na última semana, Moro foi considerado parcial ao condenar o ex-presidente Lula no processo do triplex do Guarujá. Para analistas políticos, decisão do STF pode prejudicar possíveis pretensões políticas do ex-juiz

Cássio Oliveira
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Cássio Oliveira
Publicado em 28/03/2021 às 9:00
LEOPOLDO SILVA/AGÊNCIA SENADO
TIMING Para especialistas, Moro devia ter sido candidato no auge da Lava Jato, quando movia manifestações de rua - FOTO: LEOPOLDO SILVA/AGÊNCIA SENADO
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Após sofrer uma derrota no Supremo Tribunal Federal, na última semana, Sergio Fernando Moro vê mais obstáculos no caminho para disputar a Presidência da República. Depois que a Segunda Turma da Corte declarou que o ex-juiz federal agiu com parcialidade ao condenar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no caso do triplex do Guarujá, especialistas ouvidos pelo JC apontam que o paranaense pode acabar sendo, no máximo, um coadjuvante na eleição de 2022. Por outro lado, políticos enxergam na decisão do STF uma forma de Moro se fortalecer e se colocar no páreo.

Defensor da Lava Jato, o senador Alvaro Dias (Podemos -PR) criticou a decisão do Supremo e disse que Moro deve avaliar se continuará com a carreira política. "A possibilidade depende do interior do Sergio Moro. Se fosse comigo, creio que ficaria mais forte, me sentiria convocado para o enfrentamento, mas isso vai depender da avaliação que ele fará. Ele está ouvindo a família. A política é um rio que deságua no mar e não tem retorno, ele já teve conhecimento de que a política é uma selva e isso aconteceu porque ele passou de juiz a ministro. Isso foi utilizado no Supremo. Ele sabe das consequências de estar na política", comentou Alvaro em entrevista à Rádio Jornal.

Para a deputada estadual Janaína Paschoal (PSL-SP), a decisão pode ser vista como uma forma de minar a possível candidatura do ex-ministro da Justiça à Presidência em 2022. Por isso, ela defendeu, em entrevista à Jovem Pan, a necessidade de um posicionamento claro de Moro sobre a disputa eleitoral. “Ele precisa sair da toga do juiz e começar a tratar de outros temas. Deve se manifestar como pré-candidato, seja à Presidência, se entender que ainda não é o momento, seja ao Senado Federal. Com conhecimento jurídico que ele tem seria grande nome no Senado. Na medida que ele se manifestar, vai ficar mais claro que movimentos todos têm o intuito de miná-lo como potencial candidato para 2022.”

Na entrevista, ela ainda  elencou possíveis dificuldades enfrentadas por Moro para a conquista de um eleitorado. Para a jurista, Moro é odiado por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro, assim como por defensores do ex-presidente Lula, o que dificulta o cenário. “O ex-ministro está em uma situação difícil porque ele é odiado pelos petistas pelo seu papel brilhante na Lava Jato e, hoje, é odiado de maneira injusta pelos bolsonaristas porque não conseguiu conviver com presidente. As pessoas têm que entender que o presidente é uma pessoa difícil, gente. Ele é uma pessoa difícil. Sai uma criatura da magistratura para trabalhar com uma criatura como Bolsonaro é difícil dar certo”, disse, citando que, pelas situações, há uma “resistência” a Moro na política. “Ou o ex-magistrado se manifesta, percebe que ele não é mais juiz, que pode falar e deve falar, ou a situação dele vai ficar muito difícil.”

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A suspeição de Moro ataca diretamente sua credibilidade, no entanto, segundo o doutor em Ciência Política Adriano Oliveira, o ex-juiz já vinha sofrendo com esse problema antes da decisão da Segunda Turma. "Politicamente, Moro já sofre descredibilização faz muito tempo, por conta da Lava Jato. Parte dos políticos não confia nele e condena seu comportamento e isso limita seu alcance para formar alianças políticas com outros partidos".

Para Adriano, Sergio Moro pode ter perdido o 'time' de disputar a eleição. Em 2016, atos pelo Brasil traziam pixulecos, bandeiras e faixas exaltando Moro, então juiz da Lava Jato no Paraná, como um herói nacional. Cartazes com os dizeres "Vai Moro", "Somos todos Moro" e "Eu amo Moro" estavam presentes em manifestações e fortaleceram  politicamente a imagem do magistrado entre os que tinham como principal bandeira o combate à corrupção e a saída do PT do poder. Assim, ele viu brecha para se lançar à política e para alguns poderia ter disputado a eleição. Mas ele deixou a toga de lado para se tornar ministro da Justiça do Governo Jair Bolsonaro. Mesmo assim, ele seguiu cotado para disputar a Presidência da República em eleições futuras.

LEOPOLDO SILVA/AGÊNCIA SENADO
Manifestantes fizeram bonecos infláveis gigantes em apoio a Sergio Moro em 2019 - LEOPOLDO SILVA/AGÊNCIA SENADO

"Sergio Moro poderia ser um candidato extremamente competitivo se tivesse disputado logo após o auge da Lava Jato. Mas hoje, mesmo que haja apoio à operação, há decisões que descredibilizam. Moro participou de um governo que vem sendo reprovado, de Jair Bolsonaro, e a decisão do Supremo beneficiando Lula, pode passar para alguns a impressão de que ele fez política para obter benefícios", afirmou o especialista.

Formar alianças pode ser realmente um empecilho para o ex-juiz. Hoje, no espectro de centro, diversos nomes buscam se emplacar como opção para enfrentar uma polarização entre Bolsonaro e Lula. "Alguns falam que ele (Moro) será apoiado por forças sociais, por aqueles que defendem a Lava Jato, mas é difícil. Ele precisa de um partido e de um apoio político. Para quem nunca disputou uma eleição já seria difícil e agora com o desgaste no Supremo fica mais problemático. Como a eleição é em outubro de 2022, há chance de um candidato de centro quebrar a polarização de hoje, um nome como João Dória, Ciro Gomes, ou até Sergio Moro, é possível que pelo tempo seja viabilizado um candidato competitivo de centro e Moro poderia aparecer neste cenário", explicou o cientista político da PUC-Rio, Ricardo Ismael.

O especialista, no entanto, pondera que ainda existem chances de uma candidatura do ex-juiz. "A decisão no Supremo pode ir a plenário. Então há chance de ser revertida. Essa ressalva é importante. Além disso, há um eleitorado que não quer Bolsonaro nem Lula e para esse eleitorado ele pode falar. A população brasileira continua rejeitando essa questão da corrupção. A bandeira da anticorrupção fragiliza o discurso do PT, por conta dos problemas na Petrobras, e fragiliza também o Bolsonaro, porque (em seu governo) ele de fato deixou isso de lado, praticamente não fez nada. Esse discurso de combate à corrupção, para vários segmentos, é ainda importante é algo que ainda dá voto", disse Ricardo Ismael.

O deputado federal pernambucano Daniel Coelho comentou o assunto. Seu partido, o Cidadania é um dos partidos que tenta se descolar de Lula e Bolsonaro e pode apostar em Luciano Huck, em 2022, caso o apresentador resolva se lançar e ingressar na legenda. Para Daniel, mesmo com desgastes, Moro se sai bem em pesquisas e isso não pode ser descartado. "Pelas suas movimentações públicas não parece que ele deseje disputar algum cargo eletivo. Contudo, as pesquisas mostram que ele é competitivo. Não acho que um julgamento polêmico, decidido por 3 x 2 mude significativamente suas chances. Ele é atacado de forma sistemática pelo petismo há bastante tempo e mais recentemente pelo bolsonarismo também. Mesmo assim, mantém índice relevante de intenção de voto", comentou.

Pesquisa Real Big Data, da CNN, divulgada no início de março, colocou Sergio Moro com 10% das intenções de voto para 2022. Ele ficou atrás de Lula, que ficou em 21%, e Bolsonaro que pontuou 31%. O ex-juiz está tecnicamente empatado, por conta da margem de erro de três pontos percentuais para mais ou para menos, com Ciro, Huck e Doria, que pontuaram 9%, 7% e 4%, respectivamente.

Em seguida, pesquisa do PoderData, divulgada no último dia 17, apontou Lula com 34%, Bolsonaro com 30%. Moro pontuou 6%, na ocasião, ficando empatado com Ciro (5%), Huck (4%), Doria (3%) e João Amoêdo (3%). Nesse levantamento, a margem de erro foi de 1,8 pontos percentuais para mais ou para menos.

O ex-senador Armando Monteiro (PSDB), por sua vez, disse acreditar que Moro é "uma peça fora do leque de alternativas para 2022" desde que abriu mão da sua carreira paraintegrar o governo Bolsonaro como ministro da Justiça. "A pecha de suspeição sobre um juiz é algo grave, é uma coisa que descredibiliza, é uma nódoa, uma cicatriz muito forte. Mas, a meu ver, Sergio Moro foi perdendo ao longo do tempo a aura de ser alguém que tinha o perfil de uma pessoa que se comporta como um magistrado, ele foi assumindo um papel político absolutamente desastrado que começou quando ele renunciou à carreira de magistrado para ser ministro de Bolsonaro. Para mim, ele começou ali o seu processo de perda de credibilidade", observou o tucano.

Adriano Oliveira descarta as chances de uma candidatura de Moro. "A corrupção não será a pauta principal de debate em 2022. Vislumbro um debate forte pautado na saúde pública, recuperação econômica e defesa da democracia. Não vejo chances de Moro ocupar o centro. O centrão pode ocupar o centro em aliança com Bolsonaro e o PT também busca ocupar o centro. A verdade é que, hoje, qualquer espaço eleitoral está muito fechado. O enfraquecimento de Bolsonaro pode até abrir espaço para candidato de centro como Ciro ou outro. Mas, pelo cenário atual, vejo Moro atuando nos bastidores, não como vice ou candidato", afirmou o professor.

No meio político, houve quem criticasse e quem defendesse a decisão no Supremo contra Moro. Um dos possíveis candidatos à Presidência, o governador de São Paulo, João Doria, prestou solidariedade ao paranaense. "Minha solidariedade ao juiz Sergio Moro. A Lava Jato foi um divisor de águas em nossa longa história de impunidade. Esse esforço de cidadania e avanço civilizatório não pode ser esquecido. A lei é para todos", afirmou Doria, em sua conta no Twitter. Para Adriano Oliveira, Doria faz esse movimento como forma de mostrar sua postura antipetista.

O próprio Moro se manifestou e afirmou que tem “absoluta tranquilidade" sobre as decisões que tomou no âmbito da Lava Jato. “Tenho absoluta tranquilidade em relação aos acertos das minhas decisões, todas fundamentadas, nos processos judiciais, inclusive quanto aqueles que tinham como acusado o ex-presidente”, afirmou Moro por meio de nota. 

"Por enquanto, Moro deve ficar na espera e não fazer nenhum movimento político como entrar em partido político, deve apenas ficar lançando notas. Depois disso, ele precisa avaliar, conversando com outras forças que não querem apoiar Bolsonaro nem Lula. Uma opção seria o próprio Podemos, partido que lhe deu apoio", concluiu Ricardo Ismael.

PEDRO FRANÇA / AGÊNCIA SENADO
Não é a primeira vez que o ex-juiz tem seu nome envolvido em polêmica relacionada ao Telegram - FOTO:PEDRO FRANÇA / AGÊNCIA SENADO

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