O senador Jorge Kajuru (Cidadania-GO) disse não estar arrependido de gravar uma conversa que teve com o presidente da República, Jair Bolsonaro. A conversa foi divulgada pelo próprio Kajuru, no último domingo (11), e tratou da comissão parlamentar de inquérito (CPI) que investigará eventuais omissões do governo federal no combate à pandemia. "Não me arrependo de nada, não recuo nem para tomar impulso, sou mais louco do que você imagina", disse Kajuru em entrevista ao UOL, nesta quarta-feira (14).
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No áudio divulgado, Bolsonaro defendeu a ampliação da investigação e disse temer um “relatório sacana” da comissão caso a apuração se concentre apenas no governo federal, conforme previsto no pedido original. "Olha só o que você tem que fazer. Tem que mudar o objetivo da CPI, tem que ser ampla. Daí você vai fazer um excelente trabalho para o Brasil", afirmou Bolsonaro a Kajuru. “Se mudar, [nota] dez para você, porque nós não temos nada a esconder”, disse ao senador sobre o objetivo da CPI.
Kajuru explicou que Bolsonaro não pediu para que o áudio fosse editado. "O maior amor que a gente tem é a mãe. Eu juro pela minha mãe, que eu fique cego se ele reagiu. Ele (Bolsonaro) disse não ter medo de nada, disse para eu colocar o que quisesse", comentou o senador. "Ele tinha tanta consciência de que estava sendo gravado que ele não falou palavrão", completou.
Impeachment
Por mais que enxergue "erros gravíssimos" da gestão Bolsonaro na pandemia, Jorge Kajuru disse não acreditar que esse seria o momento para um impeachment. "Erros gravíssimos foram cometidos. Basta lembrar de declarações feitas como gripezinha, não tomar vacina para não virar jacaré, que não compraria vacina chinesa. Ele (Bolsonaro) não respeitou a ciência, era uma tragédia anunciada, ele não respeitou especialistas. Mas, creio que ainda não há um motivo cabal para um impeachment", comentou. Ainda segundo o senador, o "desastre" começou com a troca de ministros da Saúde. Na visão de Kajuru, Henrique Mandetta deveria ter permanecido no cargo.
Eleição 2022
Questionado se Bolsonaro pode mudar seu comportamento, Kajuru disse que sim, pois o presidente "pasosu a ouvir mais pessoas". "Ele passou a respeitar mais a opinião de outros. E ele tem pesquisas encomendadas por ele, pois não acredita em pesquisas como Datafolha, e as pesquisas dele mostram que na eleição de 2022 ele tem risco de não ir ao segundo turno em função do desgaste. Então, ou ele melhora ou não vai ao segundo turno", afirmou. Para Kajuru, se a eleição fosse hoje, Bolsonaro perderia para Lula (PT) ou para algum candidato que representasse uma terceira via.
Conselho de ética
Por conta da divulgação, o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do presidente, protocolou uma representação contra Kajuru no Conselho de Ética. De acordo com Flávio, Kajuru infringiu a Constituição ao gravar uma conversa que teve com o presidente da República. Segundo Flávio, Kajuru “infringiu direito constitucional básico, que é do sigilo das comunicações”.
Em resposta à atitude de Flávio, Kajuru já afirmou não ter cometido crime algum. “Eu aprendi que contrário do amor não é o ódio, é a indiferença, o desprezo. E que o esquecimento é a única vingança e o único perdão. Eu vou comentar o que sobre Flávio Bolsonaro? O Senado tem 81 pessoas. Logo quem vem me pedir Conselho de Ética?”, disse, em vídeo divulgado por sua assessoria de imprensa.