Matéria atualizada as 17h53
O ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta (DEM), afirmou em seu depoimento na CPI da covi-19, que o presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), teria defendido a contaminação em massa da população pelo novo coronavírus. Ao responder o questionamento feito pelo senador pernambucano Humberto Costa (PT), o ex-ministro confirmou que a fala do presidente ocorreu em um evento em Águas Lindas de Goiás, em abril de 2020. Ele teria dito ao governador do estado, Ronaldo Caiado (DEM): "vamos contaminar todo mundo logo de uma vez".
A frase teria sido dita em tom de brincadeira pelo presidente, e nesse momento o governador teria o de retirado do bolso um tubo de álcool em gel e passou nas próprias mãos, assim como deu também a Bolsonaro. "Foi uma coisa pontual", justificou Mandetta.
A série de depoimentos da CPI da covid-19 foi aberta, nesta terça-feira (4), pelo primeiro ministro da Saúde do governo Bolsonaro, exonerado em abril 2020. Mandetta deu início à sua fala com uma exposição sobre o período que passou no ministério.
Segundo Humberto Costa, a informação trazida pelo ex-ministro, pode corroborar com estudos técnicos que dizem que o governo teria investido na tese da chamada imunidade de rebanho, reprovada por cientistas desde o início da pandemia. Para o senador, o governo federal agiu ativamente para disseminar o vírus da covid-19, estimulando a crença de que a sociedade atingiria a imunização coletiva.
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"Houve uma política criminosa de Estado com a finalidade de expandir o vírus. Isso ficou muito claro hoje, com o reconhecimento do próprio Mandetta sobre isso. Ele atestou a tese de que, escorado em alguns alienados, Bolsonaro defendia essa linha da imunidade de rebanho e queria o maior número de contaminação de brasileiros possível. O resultado é essa catástrofe que vivemos hoje", afirmou Costa.
"A CPI vai ter de chegar aos responsáveis diretos por isso.", complementou. Membro titular da comissão, Humberto Costa também rebateu o discurso de isenção de Mandetta e afirmou que o ex-ministro também é responsável pela tragédia que já matou 410 mil brasileiros.
Cloroquina
O ex-ministro da Saúde disse também que um parecer da Advocacia-Geral da União (AGU), vinculada ao Ministério da Saúde, alertou que a compra de medicamentos para tratar a covid-19 sem comprovação científica, como a cloroquina, implicaria em improbidade administrativa.
"Esses gastos foram feitos sem passar pela incorporação da comissão técnico-científica, portanto a minha AGU colocou claramente que aquilo não seria correto do ponto de vista da probidade administrativa", disse Mandetta em resposta ao questionamento feito pelo senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), que perguntou se o ex-ministro alertou o presidente que realizar gastos públicos relevantes com medicamentos como a cloroquina poderia ser enquadrado como crime de responsabilidade.
Mandetta explicou que o ministério não pode simplesmente decidir comprar um medicamento, e que para avaliar a aquisição existe uma comissão de incorporação técnico-científica (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS-Conitec). Segundo Mandetta, o medicamento não teria como ter aval desse comitê, uma vez que um dos principais pontos analisados era a evidência científica.
"É que quando ministro vai fazer compra de qualquer item, tem que passar pela comissão de incorporação técnico-científica, não posso como ministro decidir comprar remédio qualquer porque eu quero. Tem que passar por comitê técnico. Esse medicamento não passava no comitê porque o primeiro item do comitê é (a pergunta) 'onde está a evidência científica?'", relatou Mandetta