Inversão de prioridades

Em Olinda, enquanto vereadores gastam R$ 500 mil com celulares, população sofre com falta de estrutura

Legislativo Municipal lançou um edital para a contratação de 75 linhas e celulares para os 17 vereadores da Câmara Municipal. Cada aparelho custará, em média, R$ 7 mil aos cofres públicos

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Renata Monteiro

Publicado em 21/07/2021 às 18:20 | Atualizado em 21/07/2021 às 18:25
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Enquanto os vereadores de Olinda, no Grande Recife, aprovam uma licitação de quase R$ 500 mil para comprar celulares de última geração e contratar serviços de telefonia e internet, a cidade sofre com antigos problemas nas mais diversas áreas. O edital foi lançado em no último mês de junho e tem valor total de R$ 470.672,40. Nele, fica estabelecida a contratação de 75 linhas e celulares para os 17 vereadores da Câmara Municipal. Cada aparelho custará, em média, R$ 7 mil aos cofres públicos.

Não é preciso circular muito na Marim dos Caetés para dar de cara com os problemas que a acompanham já há muitos anos. Na Avenida Presidente Kennedy, em Peixinhos, pertinho do limite da cidade com o Recife, é possível identificar vários buracos, lixo e capinação por fazer.

No bairro de São Benedito, ainda hoje muitos moradores vivem em palafitas às margens do Rio Beberibe. O Sr. Eraldo, de 61 anos, por exemplo, vive na localidade e se queixa que na região falta de tudo, até mesmo o básico para a subsistência da população. "A gente não recebe uma cesta básica, uma roupa, nem colchão eu tenho", lamentou.

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A notícia da compra dos celulares pelos vereadores revoltou uma parcela significativa dos olindeses. "Ele pega o dinheiro dele e em vez de ajeitar a cidade, quer investir em celular. Enquanto isso a gente fica aqui num barraco cheio d'água, na beira do rio", declarou um morador da cidade à Rádio Jornal.

"Quem paga é a gente, né? Esse dinheiro do celular poderia estar vindo para a população que precisa. Em uma pandemia dessas, muita gente não tem um saco de arroz na despensa, muita gente só tem água na geladeira", argumentou outro munícipe.

Ao JC, o secretário geral da Câmara de Olinda, Júnior Lira afirmou na última segunda-feira (19) que a licitação não implica em prejuízo aos cofres públicos porque a despesa já estava prevista no orçamento da Casa. Vale salientar que a previsão orçamentária do Legislativo municipal é definida na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e precisa ser aprovada pelo Executivo.

Isso quer dizer que, após a provação da LDO, mesmo que a Câmara desista de usar esse valor para comprar celulares, esse dinheiro não poderia, ao menos por enquanto, ser aplicado em ações voltadas à melhoria da cidade, ele não sairia do Legislativo.

É importante ressaltar, também, que ações de manutenção da cidade como pavimentação de ruas, capinação, limpeza urbana, entre outras, são atribuições do prefeito da cidade. Os vereadores têm a obrigação de legislar e fiscalizar o trabalho feito pelo Executivo.

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