Milhares de brasileiros voltaram às ruas neste sábado (3) para protestar contra o presidente Jair Bolsonaro, que será investigado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) por supostamente não ter denunciado suspeitas de irregularidades na negociação de vacinas anticovid.
É o terceiro dia de manifestações contra o governo, que vem enfrentando um aumento de pressões por conta da investigação parlamentar sobre supostas omissões no gerenciamento da pandemia, que já deixou mais de 500 mil mortos no país.
Para a médica Patrícia de Lima Mendes, de 47 anos, que participava de um evento no centro do Rio de Janeiro, o governo é o principal responsável pelo alto número de mortes.
"São mais de 500.000 vidas assassinadas por este governo, por decisões espúrias, fake news, mentiras e agora aquele escândalo de corrupção absurdo em relação às vacinas", afirma Mendes à AFP.
Outras capitais como Belém, Recife e Maceió também registraram manifestações com faixas com dizeres como: "Bolsonaro genocida", "Impeachment já" e "Sim às vacinas".
Nos dois primeiros meses de audiências, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), instalada pelo Senado, focou principalmente no atraso do governo em fechar acordos com empresas farmacêuticas para a compra de vacinas, ao mesmo tempo em que promoveu o uso de medicamentos ineficazes contra a covid-19 - como a hidroxicloroquina- e com Bolsonaro crítico às medidas de distanciamento social.
Mas desde a semana passada o depoimento de um funcionário do Ministério da Saúde mudou o foco das investigações depois de contar que em março desse ano sofreu "pressão atípica" para concluir a compra de três milhões de doses da vacina indiana Covaxin que, em sua compreensão, apresentava indícios de irregularidades, inclusive com preço muito superior ao pago pelo Brasil por qualquer outro imunizante.
O funcionário afirmou ter levado pessoalmente as suspeitas para Bolsonaro, que teria prometido encaminhar o caso à Polícia Federal, o que aparentemente não fez.
Isso resultou, na sexta-feira, na abertura de uma investigação da Procuradoria-Geral da República contra o presidente, que vai apurar se Bolsonaro cometeu ou não o crime de "prevaricação", ao supostamente não denunciar as suspeitas de irregularidades.
Outras denúncias que a CPI investiga e que causaram polêmica esta semana vieram de um empresário que alegou ter recebido um pedido de suborno de um diretor do Ministério da Saúde enquanto supostamente negociava com o governo a venda de vacinas, algo que o funcionário - que foi retirado do cargo - nega.
Bolsonaro nega que tenha ocorrido qualquer ato de corrupção em seu governo e garante que a comissão parlamentar seja um "palhaçada" para tirá-lo do poder.
A oposição apresentou esta semana um "superpedido de impeachment", que reúne uma centena desses pedidos já apresentados à Câmara dos Deputados, com mais de 20 denúncias diferentes contra o presidente.