repercussão

Por que o antigo casamento de Bolsonaro com Ana Cristina Valle virou assunto?

O motivo é uma entrevista publicada pelo site Metrópoles com um homem que diz ter trabalhado durante 14 anos para a família do presidente

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Amanda Azevedo, Estadão Conteúdo

Publicado em 03/09/2021 às 18:30 | Atualizado em 03/09/2021 às 19:01
Ana Cristina e Bolsonaro estiveram juntos por cerca de 16 anos - REPRODUÇÃO

O segundo casamento do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que chegou ao fim em 2007, virou um dos assuntos mais comentados nas redes sociais nesta sexta-feira (3). O motivo é uma entrevista publicada pelo site Metrópoles com um homem identificado como Marcelo Luiz Nogueira dos Santos, que diz ter trabalhado durante 14 anos para a família do presidente e ter sido assessor parlamentar do senador Flávio Bolsonaro (Patriota). Segundo o veículo, Nogueira teria implicado a família Bolsonaro em 'rachadinhas' e dito que Bolsonaro se divorciou da advogada Ana Cristina Siqueira Valle ao descobrir uma traição.

O ex-assessor disse que começou a trabalhar com a família Bolsonaro após um pedido de seu namorado, que era cabeleireiro de Ana Cristina, então mulher do presidente, em 2002. Nogueira afirmou ao site que começou a trabalhar na campanha eleitoral de Flávio Bolsonaro, que concorria pela primeira vez a deputado estadual no Rio. Flávio se elegeu, e Nogueira foi convidado a se tornar assessor parlamentar de nível quatro, com salário bruto oficial de R$ 7.326.

Mas havia uma condição, exposta por Ana Cristina: ele teria de devolver 80% do salário, no esquema conhecido como "rachadinha", o que é crime. Nogueira diz que aceitou a proposta e que trabalhou de 19 de fevereiro de 2003 a 6 de agosto de 2007. Nesse período, segundo ele, outros funcionários também devolviam ao gabinete porcentuais de seus vencimentos. Ana Cristina era a responsável pelo recolhimento. Nogueira afirmou ao Metrópoles que o esquema vigorava tanto no gabinete de Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) como no de Carlos Bolsonaro, vereador na capital fluminense desde 2001. A advogada só teria deixado de exercer a função ao se separar de Jair Bolsonaro, em 2007.

Segundo o Metrópoles, Nogueira disse que Bolsonaro pediu a separação porque descobriu que a então esposa o traía com seu segurança, um bombeiro militar que fazia a escolta do clã no Rio de Janeiro. "Foi ali que teria se rompido a confiança de Bolsonaro em Ana Cristina, e o presidente, então, teria autorizado que os filhos passassem a tocar eles mesmos o recolhimento dos valores desviados de salários de seus assessores parlamentares. Segundo o ex-empregado, o comando da rachadinha saía então das mãos de Ana Cristina e passava a ser de responsabilidade direta de Flávio e Carlos Bolsonaro", diz trecho do texto publicado pelo site.

Após a separação, em 6 de agosto de 2007, Nogueira foi exonerado do cargo. Teria passado então a trabalhar no escritório de advocacia de Ana Cristina. Ele diz ter sido então procurado por Jair Bolsonaro, que teria lhe pedido para passar a morar na casa de Ana Cristina, para cuidar de Jair Renan, na época com 9 anos. Nogueira aceitou a proposta e trabalhou como empregado doméstico de Ana Cristina até 2009, quando ela se mudou para a Noruega, onde se casou novamente, com o norueguês Jan Raymond Hansen. Embora tenha deixado de trabalhar para a família, Nogueira afirmou ter se tornado amigo de Ana Cristina, a ponto de ir visitá-la na Europa.

Em 2014, Ana Cristina voltou a morar no Brasil e contratou Nogueira para trabalhar na casa dela, em Resende, na região sul fluminense. Ali ficou até fevereiro deste ano, quando a advogada decidiu se mudar para Brasília. Começava aí, segundo Nogueira, a desavença entre ele e Ana Cristina.

Marcelo Nogueira sustenta que aceitou se mudar para Brasília e seguir trabalhando para a ex-mulher de Jair Bolsonaro pelo salário de R$ 3 mil. Mas a advogada, embora tenha se comprometido a pagar esse valor, só pagou R$ 1.300 mensais, alegando falta de dinheiro. O funcionário protestou. "Falei para ela: ‘Cristina, não sou obrigado a morar na sua casa. Trabalho para ter meu canto e em Brasília tudo é caro. Você pensa que vou ficar na sua casa e ser seu escravo? A escravidão já acabou. Você é racista. Isso é racismo. Você me tirou lá do Rio só porque em Brasília eu não tenho ninguém e não conheço nada? Acha que vou aceitar o que quer fazer comigo?'", disse ao site Metrópoles.

Em junho, segundo Nogueira, ele teve ajuda de Jair Renan para deixar a casa da advogada e se hospedar, por algumas semanas, em um apartamento de Jair Bolsonaro em Brasília. Nogueira, então, fez uma denúncia de violações trabalhistas contra a advogada ao Ministério Público do Trabalho no Distrito Federal (MPT-DF). Em agosto, voltou para o Rio de Janeiro.

O MPT-DF confirmou ao Metrópoles que o empregado, de fato, fez a denúncia e uma investigação foi aberta para apurar o caso. Em nenhum dos momentos em que trabalhou para Ana Cristina ou para Jair Bolsonaro (para ser babá de Jair Renan), Nogueira foi registrado como empregado.

Ele afirmou ainda que Ana Cristina comprou a casa onde passou a morar com o filho Jair Renan - ela disse à imprensa ter alugado o imóvel. Segundo o ex-funcionário, a advogada comprou a mansão, que tem 1.200 m2 de área total e 395 m2 de área construída, piscina de 50 m2, aquecimento solar e quatro suítes, por meio de dois "laranjas", com quem teria firmado um contrato "de gaveta". Trata-se de um documento não registrado em cartório para que eles repassem o imóvel a Ana Cristina ao final do financiamento. Segundo Nogueira, o objetivo seria não chamar a atenção da imprensa para a compra de mais um imóvel de luxo pela família Bolsonaro.

O ex-funcionário afirmou não saber qual foi o preço pago pela mansão, mas disse que a casa estava sendo negociada por um valor entre R$ 2,9 milhões e R$ 3,2 milhões. O Metrópoles informou não ter conseguido contato com Ana Cristina Valle. Jair Bolsonaro e Carlos Bolsonaro não responderam aos questionamentos do site. Flávio Bolsonaro afirmou que desconhece as acusações de Santos e que nunca praticou irregularidades na Alerj.

 

 

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