Grupos de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tomaram a Avenida Boa Viagem, na Zona Sul do Recife, na manhã deste 7 de setembro. Convocados pelo chefe do Executivo federal, manifestantes em verde e amarelo pediram liberdade de expressão, apelaram por intervenção militar e gritaram pelo fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal (STF), flertando com ações que aconteceram durante a ditadura militar no Brasil.
Dois atos aconteceram no local: a passeata liderada pela Aliança por Pernambuco e pelo Movimento Direita Pernambuco, e a carreata da "Independência Dia 07/Dia D pela nossa liberdade". A dispersão começou por volta das 14h.
"O Brasil da gente é uma nação unida. O Brasil da gente é democrático. O Brasil da gente tem uma Constituição e nós queremos cumpri-la dentro das quatro linhas, como diz o nosso presidente. E hoje, dia 7 setembro, nós vamos libertar o nosso País, o nosso País vai levantar a bandeira da vitória e dizer não à corrupção, não ao comunismo e não ao socialismo que tem destruído e saqueado a nossa nação. Fora corruptos, fora Lula!", afirmou um dos manifestantes, ao se pronunciar em cima de um carro de som.
A Avenida Boa Viagem foi interditada pela Autarquia de Trânsito e Transporte Urbano do Recife (CTTU) a partir do encontro com a Antônio Falcão, mas, horas depois, a viatura saiu do local. Muitos manifestantes estavam com faixas, camisas e cartazes com frases como "Meu partido é o Brasil", "Brasil acima de tudo, Deus acima de todos", além de fotos do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
Vários manifestantes se aglomeraram e não usavam máscaras. Um deles, que falava em cima de um carro de som, afirmou que se fosse questionado sobre os protocolos utilizados durante o ato diria que eram os mesmos usados pelo Governo de Pernambuco nos ônibus do Estado. A fala é uma crítica à superlotação verificada nos coletivos da Região Metropolitana do Recife ao longo da pandemia.
Os apoiadores de Bolsonaro ainda criticaram figuras da politica nacional, como o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM), a quem chamaram de "traidor". No trio, a principal faixa dizia: "Lutamos com o presidente Bolsonaro pela nossa democracia", e pediam "liberdade", além de afirmar que grupos ligados à esquerda, "quase terroristas", estão censurando a população através de decisões do STF. Representantes das Forças Armadas, aparentemente todos da reserva, também participam do ato - alguns fardados.
Muito embora parte dos políticos bolsonaristas pernambucanos - como o deputado estadual Alberto Feitosa (PSC) e o presidente do PTB-PE, Coronel Meira - tenha ido para Brasília e São Paulo acompanhar as manifestações nestas cidades, não foi difícil encontrar outros apoiadores do presidente da República na manifestação de Boa Viagem. A deputada estadual Clarissa Tércio (PSC) e o seu marido, o vereador Júnior Tércio (Podemos) fizeram registros em suas redes sociais em meio ao povo. O deputado estadual Joel da Harpa (PP) e o presidente estadual do PSL, Frederico França, também marcaram presença no local.
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Grito dos Excluídos é contraponto
Além dos dois atos pró-Bolsonaro, a capital pernambucana também recebeu, no Centro, a 27ª edição do Grito dos Excluídos e das Excluídas, com o tema "Vida em Primeiro Lugar", realizado pelo Fórum Dom Helder Camara e com a participação de movimentos ligados à esquerda e à defesa dos direitos humanos.
A organização estima que cerca de 50 mil pessoas participaram do evento, levando em consideração que a passeata chegou a "ocupar" 13 mil metros quadrados ao mesmo tempo. Em vários momentos da passeata, os diversos grupos se distanciavam para não ficarem muitos próximos. "O grito nunca foi tão necessário. Queremos um Brasil mais inclusivo e neste ano estamos fazendo um apelo pela democracia. A vida se tornou pior nos últimos dois anos com 14 milhões de desempregados e 55 milhões de pessoas que só comem uma vez ao dia", comentou o diretor estadual da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Paulo Ubiratan. A entidade apoiou a iniciativa que é realizada pelo Fórum Dom Helder Câmara. O tema do Grito este ano foi "Vida em Primeiro Lugar, na luta por participação popular, saúde, comida, moradia, trabalho e renda".
Sem ocorrências policiais
Foram destinados 150 homens e mulheres da Polícia Militar apenas para fazer a segurança dos três principais pontos de concentração: Boa Viagem, Imbiribeira e Centro do Recife. A passeata e a carreata pró-Bolsonaro aconteceu na praia de Boa Viagem, enquanto o 27° Grito dos Excluídos e das Excluídas aconteceu na Praça do Derby. Segundo a Secretaria de Defesa Social (SDS), as manifestações aconteceram dentro da normalidade. Veja nota completa, encaminhada à imprensa:
"A Secretaria de Defesa Social informa que as manifestações ocorridas neste Sete de Setembro, no Recife e demais cidades pernambucanas, transcorreram dentro da normalidade, sem ocorrências policiais. Somente nos três principais pontos de concentração (Centro do Recife, Imbiribeira e Avenida Boa Viagem) foram empregados 150 homens e mulheres da Polícia Militar, com apoio das demais forças de segurança. Os trabalhos continuam de modo a acompanhar a total dispersão e volta para casa, além da garantia da paz social para o restante da população neste feriado".