Um dia após se envolver em um bate-boca público nas redes sociais com a ex-presidente Dilma Rousseff, por causa da afirmação, feita ao Estadão Notícias, de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva teria conspirado pelo impeachment de sua sucessora, o pré-candidato do PDT, Ciro Gomes, se manteve no embate, desta vez com o líder petista. Lula reagiu às afirmações do ex-ministro de seu governo sugerindo que ele estaria com "sequelas" da covid no cérebro. Ciro rebateu afirmando que "trágico mesmo seria ter uma sequela moral, como a do notório Lula."
Em entrevista à rádio Grande FM, de Dourados (MS), Lula disse nesta quinta-feira (14) que Ciro foi "banal e grosseiro" nas críticas a Dilma. "O que ele fez ontem foi tão banal, tão grosseiro, que às vezes eu fico pensando quando Jesus Cristo, na cruz, dizia: 'Pai, perdoai os ignorantes, eles não sabem o que fazem'. Eu às vezes fico pensando nessa frase", disse o petista. "Não sei se Ciro teve covid ou não, mas me disseram que quem tem covid tem problemas de sequelas, alguns têm problema no cérebro. Não é possível que um homem que pleiteia a Presidência da República possa falar as baixarias que ele falou".
Em nota, Ciro afirmou que teve covid em outubro do ano passado e que não ficou com sequelas. E retrucou afirmando que Lula, "com este comentário infame, acaba de agredir milhões de mortos e sobreviventes da covid." Após a entrevista de Lula, o ex-governador do Ceará publicou um vídeo no Twitter no qual refaz os ataques. Ele acusou o PT de tentar esconder "o pior de sua história" e chamou o petista de "falso titã". Disse que a corrupção do governo Lula e a incompetência do governo Dilma foram os principais responsáveis pelo surgimento do bolsonarismo, e criticou o que chamou de "egocentrismo político" do ex-presidente.
"A corrupção do governo Lula e a incompetência do governo Dilma. Duas pragas que o PT semeou porque repetiu o mesmo modelo econômico, o mesmo tipo de governança, a mesma cumplicidade com os corruptos profissionais, o mesmo recrutamento de técnicos incompetentes e pouco criativos de governos anteriores", disse. "A mesma coisa, aliás, que está fazendo a cria nojenta e involuntária deles, esta praga chamada bolsonarismo."
No vídeo, Ciro também repetiu a afirmação de que Lula teria atuado voluntária e involuntariamente pela queda de Dilma. "Repito: Lula, sim, foi o maior fator de desestabilização do mandato de Dilma. Ele fez isso de forma às vezes consciente e de forma às vezes inconsciente. Fez isso tanto no passado remoto como nos momentos finais de agonia dela."
Na véspera, em reação às acusações do pedetista, Dilma afirmou que ele "mente de maneira descarada" para ganhar popularidade, e lamentou ter "em algum momento, dado a Ciro Gomes a minha amizade".
Desde o início da pré-campanha, Ciro tem adotado a estratégia de dirigir ataques à candidatura de Lula, que lidera as pesquisa de intenção de votos, numa tentativa de atrair o eleitorado antipetista. Na última manifestação em prol do impeachment de Bolsonaro, que tinha o objetivo de reunir lideranças de esquerda, Ciro foi vaiado e foi alvo de uma tentativa de agressão por parte de manifestantes.
Após o incidente, o pedetista sugeriu uma "trégua de natal" com o PT para temas relativos ao impeachment de Bolsonaro. Mas a "trégua" não durou uma semana.
'Vou decidir no ano que vem', diz Lula sobre ser candidato
Na entrevista à rádio de Dourados, Lula evitou comentar o mandato de Dilma, mas admitiu ter havido desajuste fiscal após o "excesso de desoneração" praticado pela petista em 2014. O ex-presidente também voltou a criticar o ex-juiz Sérgio Moro e a Operação Lava Jato, chamados por ele de "criações da imprensa". Apesar do tom eleitoral da entrevista, disse não ter decidido se será candidato. "Eu vou decidir no começo do ano (que vem)", afirmou.
Ao ser questionado sobre as eleições de 2022, Lula salientou que a decisão sobre candidatura não é apenas sua, mas de seu partido "Na hora que aparecer alguém com mais viabilidade de ganhar, obviamente o PT tem toda a liberdade de escolher outra pessoa", disse.
Em seguida, o ex-presidente mencionou nomes que se colocam ou já se colocaram como possíveis representantes da "terceira via" e questionou suas viabilidades políticas. "Candidato à Presidência não é uma coisa que você acha assim, não é uma coisa que você vai no programa da Globo e encontra um (Luciano) Huck, um Faustão, um Datena", disse. "Toda vez que o Brasil escolheu um presidente assim, não deu certo".