VOTAÇÃO

CPI da Covid adia relatório por impasse na forma de indiciar Bolsonaro por homicídio

Um dos pontos que levaram ao adiamento do parecer, é justamente a decisão de Renan de indiciar Bolsonaro por homicídio qualificado

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Estadão Conteúdo

Publicado em 18/10/2021 às 19:04 | Atualizado em 18/10/2021 às 19:06
Agora o embate se dá entre a extinta Comissão Parlamentar de Inquérito da Pandemia no Senado Federal e a Procuradoria-Geral da República - EDILSON RODRIGUES/AGÊNCIA SENADO
 
O relator da CPI da Covid, senador Renan Calheiros (MDB-AL), disse que o adiamento da apresentação do relatório final da comissão foi uma decisão do presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM). Inicialmente, a leitura do documento estava marcada para esta terça-feira (19) com votação no dia seguinte. Agora, a leitura será nesta quarta-feira (20) e a votação, na próxima terça-feira (26) conforme informou Aziz nesta tarde ao Estadão/Broadcast.
Um dos pontos que levaram ao adiamento do parecer, de acordo com fontes ouvidas pelo Estadão/Broadcast, é justamente a decisão de Renan de indiciar Bolsonaro por homicídio qualificado, revelada pela reportagem do jornal. Foi apurado que o presidente teria reclamado com o presidente da CPI, Omar Aziz, dessa intenção de Renan. O senador Aziz, no entanto, negou enfaticamente à reportagem a existência de qualquer conversa com Bolsonaro sobre o relatório. Interlocutores de Bolsonaro afirmam que homicídio é algo que todas as pessoas entendem o que é que, se isso for adiante, o presidente ficará marcado como assassino, o que seria muito difícil de ser revertido na opinião pública.
O relatório final da CPI conclui que o governo de Jair Bolsonaro agiu de forma dolosa, ou seja, intencional, na condução da pandemia e, por isso, é responsável pela morte de milhares de pessoas. "O governo federal criou uma situação de risco não permitido, reprovável por qualquer cálculo de custo-benefício, expôs vidas a perigo concreto e não tomou medidas eficazes para minimizar o resultado, podendo fazê-lo. Aos olhos do Direito, legitima-se a imputação do dolo", diz trecho da peça, que tem 1.052 páginas e ainda pode ser alterada até a sua apresentação formal na CPI.
Em uma mudança de entendimento, o texto passou a imputar a Bolsonaro e ao ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello o crime de homicídio qualificado. Até então, o relatório atribuía aos dois o crime de homicídio comissivo - praticado por omissão. O argumento do relator da comissão parlamentar é de que Bolsonaro sabia dos riscos que oferecia à população e os assumiu.
O Estadão apurou que, apesar das reclamações, Renan pretende manter essa definição, a menos que isso prejudique a aprovação do relatório. O senador disse que da sua parte "está tudo definido" no texto e que agora é avaliar o que seus companheiros pensam a respeito do texto.
Outro ponto de impasse no colegiado é o indiciamento do ministro da Defesa, Walter Braga Netto. Nesse caso, é o próprio relator que resiste a essa conclusão. Renan considera que, durante os trabalhos da CPI não houve apoio nem mesmo para ele prestar depoimento, quanto mais para o indiciamento. Braga Netto, que chefiou a Casa Civil no início da pandemia, era o coordenador do grupo interministerial criado pelo Palácio do Planalto para conduzir a gestão da pandemia.

'CAUTELA'

O presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM), afirmou ao Estadão/Broadcast que o adiamento não está relacionado a eventuais discordâncias sobre pontos do relatório, mas ao vazamento de seu conteúdo. "Não é discordância. É porque o que vazaram, vazaram pontualmente, e só as tipificações. A gente não tem o embasamento", disse ele, que afirma não ter tido acesso ao relatório até o momento. "Nenhum senador viu o documento ainda", afirmou.
De acordo com Aziz, a data da leitura do relatório foi alterada por uma questão de cautela. O presidente da CPI foi aconselhado por vários juristas a conceder um período maior de tempo entre a leitura do parecer e a votação do relatório, disse o senador.
"Fui aconselhado por vários juristas a ter a cautela necessária para que alguém não entre na Justiça dizendo que não teve direito de defesa porque o prazo é muito exíguo. Relatório com mais de mil páginas você não analisa em minutos. Apenas em um dia as pessoas ainda não teriam dados suficientes para questionar pontualmente alguma coisa", afirmou o senador.
Renan Calheiros disse ao Estadão que não se opõe ao adiamento da leitura e da votação do relatório. "Ajudará muito termos mais tempo para conversar, afinal o parecer é da maioria. É coletivo. Não é individual", afirmou. Para ele, no entanto, o texto do relatório já está "definido" e agora serão feitos apenas ajustes de redação. Mesmo assim, disse Renan, é importante saber o que os colegas dele na CPI avaliam do documento.
Depois de aprovado, o relatório com a conclusão dos trabalhos e as sugestões de punição será encaminhado aos órgãos de controle, que poderão abrir processos sobre os supostos crimes apontados. Isso ocorre porque a CPI tem poderes de investigação, mas não de punição.
 

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