Bolsonaro vai ou não vai para o PL? Presidente coloca em xeque sua filiação, por conta de disputa nos Estados

Entrada no partido será adiada, em função de questionamentos sobre o PL sobretudo nos estados do Nordeste, como Pernambuco, Bahia e Piauí. Filiação deveria acontecer na sua volta de Dubai, onde está em viagem atualmente
Adriana Guarda
Publicado em 14/11/2021 às 17:30
RECUO. PL divulgou nota, ontem, cancelando evento de filiação do presidente Jair Bolsonaro, que está em Dubai Foto: GIUSEPPE CACACE / AFP


A filiação do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) no PL já não é mais tão certa quanto se acreditava na semana passada. Neste domingo (14), ele colocou em dúvida sua ida para o partido, graças a divergências do PL nas composições estaduais para as eleições de 2022. Um evento de filiação chegou a ser marcado da o dia 22, depois que Bolsonaro retornasse de Dubai, mas foi adiado. 

Dias após ter dito que sua ida ao PL estava 99,9% acertada, Bolsonaro anunciou que ela ainda dependerá de mais conversas com a sigla comandada há décadas pelo ex-deputado Valdemar da Costa Neto (SP). Valdemar confirmou, em nota, que a decisão de adiamento foi tomada em acordo com o presidente da República "após intensa troca de mensagens na madrugada deste domingo".

"O casamento tem que ser perfeito. Se não for 100%, que seja 99%. Se até lá nós afinarmos pode ser, mas eu acho difícil essa data, 22. Tenho conversado com ele [Valdemar], estamos de comum acordo que podemos atrasar um pouco esse casamento, para que ele não comece sendo muito igual aos outros", afirmou Bolsonaro, que deu as declarações durante visita à Dubai Air Show, feira aérea no emirado do Golfo Pérsico.

PANORAMA ESTADUAL

A situação de São Paulo é um dos principais entraves para a filiação de Bolsonaro. É no Estado onde o PL tem a intenção de apoiar a candidatura de Rodrigo Garcia (PSDB) ao governo. Os bolsonaristas descartam essa hipótese, já que Garcia terá o apoio do atual governador, João Doria (PSDB), um dos principais adversários do presidente.

Bolsonaro pretende lançar para o governo o atual ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas. "A gente não vai aceitar em São Paulo o PL apoiar alguém do PSDB. Não tenho candidato em São Paulo ainda, talvez o Tarcísio aceite esse desafio. Seria muito bom para São Paulo e para o Brasil, mas temos muita coisa a afinar ainda", afirma o presidente.

HÁ 2 ANOS SEM LEGENDA

O presidente está sem partido há cerca de dois anos, desde que rompeu com o PSL, legenda pela qual se elegeu. Neste período, ele tentou várias alternativas, a começar da criação de um novo partido, a Aliança pelo Brasil, mas a empreitada fracassou.

Também chegou a conversar com diversas legendas, como PTB, PRTB, Patriota e PP, até definir-se pelo PL, mas com a condição de que pudesse ter controle total sobre o partido, incluindo a definição dos palanques estaduais.

Na última quarta-feira (10), após uma reunião com Bolsonaro, Valdemar havia anunciado a filiação do mandatário ao partido em um ato no dia 22 de novembro, em Brasília. Em entrevista a uma rádio do Espírito Santo no dia 10, ele disse que pretendia concluir algumas negociações sobre São Paulo para bater o martelo.

"Se eu vier a disputar a reeleição, eu quero ter um candidato ao governo do estado em São Paulo, um candidato ao Senado e uma boa bancada de indicados", disse. "Está faltando acertar esse pequeno detalhe com o Valdemar, que eu acredito que a gente acerte no dia de hoje", afirmou na última quarta.NORDESTE

NORDESTE DESAGRADA

Além de São Paulo, há problemas também em estados do Nordeste, que tendem a apoiar o PT. Segundo o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ), que acompanha o pai na viagem, os maiores entraves estão nos estados da Bahia, Pernambuco e Piauí.

"Isso é inegociável para nós, o nosso eleitor jamais entenderia se o nosso partido apoiasse candidatos de esquerda", declarou o senador. Ele disse que seu pai está disposto a apoiar candidatos do PL ao Senado em vários locais, como Romário no Rio de Janeiro e Wellington Fagundes em Mato Grosso.

Flávio afirmou que o presidente está em contato permanente com Valdemar e que um acordo ainda é possível. "É contornável. O Valdemar é uma pessoa muito pragmática", declarou. O chefe do PL já teve alianças bastante díspares em sua longa trajetória na política. Em 2002, por exemplo, ele apoiou a primeira eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), indicando inclusive o candidato a vice, o então senador José Alencar (MG).

Outro complicador para a situação em São Paulo é a aproximação entre Lula e o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB). Alckmin era um dos possíveis aliados identificados pelo bolsonarismo no maior colégio eleitoral do País.

 

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