Eleições 2022

Veja quais são os temas que vão tomar conta das eleições de 2022 em Pernambuco

Especialistas apontam que será inevitável trazer questões nacionais para os palanques estaduais

Mirella Araújo
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Mirella Araújo
Publicado em 30/01/2022 às 8:00
YACY RIBEIRO/JC IMAGEM
Com a crise econômica agravada pela pandemia da covid-19, presidenciáveis devem explorar a temática da transferência de renda destinada às famílias de baixa renda - FOTO: YACY RIBEIRO/JC IMAGEM
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O ano era 2018 e os temas em voga naquelas eleições foram desde a luta contra a corrupção, a retomada do crescimento econômico, o armamentismo e as pautas de costumes, a bandeira do antipetismo, até a classe política sendo colocada em xeque. Quase quatro anos depois, o que ninguém esperava era ter que lidar com uma pandemia, cujo vírus da covid-19 já matou mais de 625 mil brasileiros. Presidenciáveis, governadores e parlamentares não terão como deixar de abordar a Saúde como um dos principais temas das eleições de 2022.

“Então não tem como dissociar as eleições de 2022 da pandemia. Ainda que outros temas venham com muita força, como desemprego, inflação. No caso das pautas de costumes, elas perdem força em relação a 2018, mas não morrem”, explica a cientista política e professora da Faculdade de Ciências Humanas de Olinda (Facho), Priscila Lapa.

A retomada econômica e, por consequência, a capacidade de recuperação que os governos tiveram ao enfrentar a recessão provocada pelo coronavírus, também será uma temática central. “Existe uma tendência muito forte de, nos momentos de crise, se aumentar o grau de responsabilização que os eleitores fazem em relação à performance dos governantes”, avalia a cientista política.

O aumento da energia elétrica, dos combustíveis e no gás que incidem na elevação da inflação, por exemplo, já faz parte da guerra de narrativas entre os gestores. Diante das sucessivas alterações no valor da gasolina, o presidente Jair Bolsonaro (PL) tem culpado os governadores por não abrirem mão do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços).

Nessa quinta-feira (27), o Comitê Nacional de Política Fazendária (Confaz), que representa as 27 unidades federativas,  aprovou a prorrogação do congelamento do ICMS cobrado sobre os combustíveis, por mais dois meses, ou seja, até o dia 31 de março. Os chefes do Executivo estadual, defendem que essa medida não seria suficiente para impedir os reajustes dos combustíveis, que estão ligados diretamente a variação do dólar e a política de paridade com o mercado internacional do petróleo.

Para o professor de Economia e Finanças da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFPE), Luiz Maia, a pauta referente as políticas assistencialistas bancadas pelo estado podem ter, em certa medida, destaque nas discussões sob o ponto de vista econômico social. “Vai existir uma disputa de quem oferece mais ações assistencialistas, quem oferece mais ‘bolsa’ disso e aquilo, programas de habitação e quem ajuda ao piso. Cada um vai propor mais transferências de recursos. O problema é que algumas ações são populistas e assistencialistas, que não resolvem a causa do problema”, disse o docente.

 

O programa de transferência de renda Auxílio Brasil, que substituiu o Bolsa Família, vai ser uma temática bem explorada, entretanto, o professor de Economia e Finanças , afirmou que é difícil neste momento saber qual será o real impacto disso entre os postulantes. “Quem hoje recebe R$ 400, vai dizer que foi por causa de Bolsonaro, mas terão outras pessoas afirmando que quem criou esse auxílio foi o ex-presidente Lula (PT)”.

E no Nordeste, principalmente, este tema vai estar diretamente ligado aos palanque estaduais que irão fazer a defesa dentro dessa polarização entre o líder petista e o líder bolsonarista.  De acordo com os especialistas ouvidos pelo JC, o debate nestas eleições em Pernambuco tende a ser nacionalizado, porque as questões que envolvem a pandemia da covid-19 não são restritas apenas aos estados e municípios, mas também é de responsabilidade do governo federal.

O PSB está prestes a completar 16 anos à frente do Governo do Estado e deverá anunciar nesta semana seu candidato à sucessão do governador Paulo Câmara. Aliados apontam que o nome escolhido pelo partido será do deputado federal Danilo Cabral. Apesar de sua militância histórica dentro do PSB, experiência nas gestões municipal e estadual como secretário de governo e ser líder da bancada socialista na Câmara Federal, o parlamentar precisará do apoio de Lula para se tornar amplamente conhecido.

“A melhor maneira de você lidar com um governo fatigado, carregando falhas e alguns sucessos, é a tentativa de nacionalizar a disputa. Basicamente, agarrar-se com a imagem de Lula, para que esse candidato seja jogado no campo de visão das classes mais baixos do Estado, onde Lula transita com mais facilidade”, pontuou o cientista político e professor da Asces-Unita, Vanuccio Pimentel.

No caso da oposição que conta com nomes como a prefeita de Caruaru, Raquel Lyra (PSDB), o prefeito de Petrolina, Miguel Coelho (MDB), o prefeito de Jaboatão dos Guararapes, Anderson Ferreira (PL), e a deputada estadual Clarissa Tércio (PSC), que tem sido cotada pela ala bolsonarista no Estado, primeiro seria necessário uma organização das suas plataformas. Com exceção da parlamentar social-cristã, os prefeitos já pertenceram à Frente Popular de Pernambuco, liderada pelo PSB.

“Os temas que eles abordam ainda são muito genéricos, falam de desenvolvimento, uma parte fala da segurança pública, outra fala da questão da saúde, mas não construíram ao longo desse pouco tempo, uma plataforma consistente de discussão de oposição. Além do que, nenhum deles pode retroagir tanto, porque se fizerem isso, vão encontrar eles mesmos no governo”, afirmou Pimentel.

A oposição deverá se concentrar nos escândalos envolvendo a gestão do PSB, alvo de sete operações da polícia federal. Uma delas se refere à aquisição de 500 ventiladores pulmonares pela Secretária de Saúde do Recife, na gestão do então prefeito Geraldo Julio, que não tinham autorização para serem comercializados, e haviam sido testados em porcos.

Por outro lado, os governistas devem usar o discurso sobre o alinhamento dos candidatos às pautas bolsonaristas, apostando na rejeição dos eleitores ao presidente Bolsonaro. Outra aposta do candidato a governador do PSB, será a defesa do plano Plano Retomada com um pacote de investimentos de R$ 5 bilhões em infraestrutura por todo o Estado.  

Para o professor da UFRPE, Luiz Maia, quando se trata das discussões com base nos temas econômicos, a nível estadual, “ela é bastante pobre”. “Nos estados e municípios devem prevalecer as questões relativas às desigualdades sociais e regionais. E claro, ainda vai ter a discussão sobre quem está aliado com quem. Então, muito da discussão econômica se perde em função de uma leitura ideológica”, afirmou o docente.

FILIPE JORDÃO/JC IMAGEM
A pandemia será um dos principais temas nas eleições de 2022 - FILIPE JORDÃO/JC IMAGEM

Presidenciáveis

 Com a nacionalização das temáticas eleitorais, a corrupção ainda estará fortemente presente nestas eleições. Bolsonaro tem adotado um discurso de que nestes quatros anos não houve casos de corrupção em seu governo, e que tem livrado o Brasil da "ameaça do comunismo”.

Quem também deverá incorporar essa temática é o ex-juiz e ex-ministro da Justiça, Sérgio Moro (Podemos). Sem experiência política, Moro trará com mais intensidade os desdobramentos da Operação Lava Jato, para atacar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ao mesmo tempo que irá atacar o presidente, afirmando que ele quis interferir nas investigações sobre denúncias que envolvem seus filhos - Carlos, Eduardo, Flávio e Renan Bolsonaro - na Justiça e na Polícia Federal.

“O próprio Lula vai esquecer o governo Dilma (Rousseff), e isso podemos em grande medida mencionar, porque o governo dele foi um desastre do ponto de vista econômico. Então ele deve focar mais do ponto de vista do seu governo, que foram anos auspiciosos de crescimento econômico vigoroso, e dizer que o Brasil precisa ser refundado, recuperar sua imagem internacional", avalia o professor de Ciência Política da Unicap, Antonio Henrique Lucena.

“A pauta de Ciro Gomes (PDT) é majoritariamente econômica, ele sempre tem esse foco, digamos assim, desenvolvimentista. Ele deve focar na construção de um bom evento de cunho nacional”, complementa o docente.

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