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Em meio à crise do MBL, movimentos de renovação trabalham para manter relevância e crescer nas urnas

Movimentos de renovação política tiveram o seu apogeu no Brasil a partir dos protestos de junho de 2013, e ao longo dos anos seguintes conseguiram crescer e ocupar diversos espaços de poder, como o Congresso Nacional

Renata Monteiro
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Publicado em 24/03/2022 às 17:22 | Atualizado em 28/03/2022 às 18:19
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Em maio, o ex-deputado Arthur do Val foi cassado por dizer que as mulheres ucranianas são "fáceis" por serem pobres - FOTO: DIVULGAÇÃO/ALESP
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Matéria atualizada às 18h15 do dia 28 de março de 2022 com o posicionamento do MBL sobre o tema

A recente crise desencadeada no MBL pelo vazamento de áudios sexistas do deputado estadual Arthur Do Val (SP), uma das lideranças mais destacadas do grupo, tem feito o coletivo se desdobrar para evitar um desgaste irreversível da sua imagem pública. Ao mesmo tempo em que isso ocorre, outros movimentos criados para fomentar a renovação e formação de quadros na política vêm encarando seus próprios desafios e lutam para - em um contexto completamente diferente daquele no qual eles surgiram - manter a relevância e obter conquistas eleitorais.

Movimentos de renovação política tiveram o seu apogeu no Brasil a partir dos protestos de junho de 2013, e ao longo dos anos seguintes conseguiram crescer e ocupar diversos espaços de poder, como o Congresso Nacional. Hoje, há quem defenda o eleitor passou a para esses grupos com outros olhos, pois com o passar do tempo as práticas dos seus líderes mostraram-se diversas dos discursos que defendiam.

"Nos últimos anos esses coletivos ficaram estagnados em novas lideranças. O MBL continuou com o Kim Kataguiri e com o Arthur Do Val, a Tábata (Amaral) se estabeleceu no PSB, por exemplo. Mas precisamos considerar que esse tipo de movimentação é cíclica, sempre vão surgir ideias novas, movimentos novos e líderes desses grupos serão sugados pelo sistema", observou Roberto Gondo, professor de comunicação política da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

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Na visão de Elton Gomes, cientista político da Faculdade Damas, esse tipo de grupo também acabou prejudicado pela estrutura do sistema político brasileiro, que impossibilita um candidato sem partido de disputar um mandato, o que os torna uma espécie de reféns das organizações que eles tanto criticaram. Além disso, o docente frisa que, de 2018 para cá, as prioridades do eleitorado mudaram, mas os movimentos de renovação acabaram não acompanhando essas mudanças.

"Com o passar do tempo, a principal pauta que tornou esses movimentos possíveis, que foi a luta contra a corrupção, se arrefeceu um pouco por conta de problemas econômicos, da pandemia, e acabaram se esvaziando. Mais do que isso, eles acabaram sendo engolidos por algo muito sério, que foi a incapacidade de quebrar a tendência do eleitorado brasileiro à demagogia populista, ao messianismo político, representado pelas figuras do presidente Bolsonaro e do ex-presidente Lula. Eles não conseguiram se articular para criar a chamada terceira via", pontuou Gomes.

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Lideranças de parte desses coletivos de renovação temem, ainda, que a crise no MBL acabe respingando em outros grupos, já que muitos deles surgiram na mesma época. "Quando nossos grupos nasceram, havia vários políticos que acreditavam numa forma de fazer política mais clientelista, mais populista. Aí vieram várias lideranças que trouxeram uma narrativa, digamos assim, de renovação política. Mas se a gente, que disse que faria a nova política, não fez, então as pessoas vão voltar ao que era antes. Por exemplo, Bolsonaro veio com uma forma nova de fazer política, não fez e agora o povo está voltando para Lula, que faz clientelismo, mas que pelo menos mantinha os preços em outro patamar. O que a gente deveria fazer é mostrar distinção. A gente precisa ser liberal por inteiro e ter a pauta de renovação política por inteiro", declarou Izaque Costa, diretor de políticas do UJL - Juventude Liberdade PE.

Apesar de achar que outros movimentos possam ser prejudicados pela situação do MBL, o coordenador do Livres em Pernambuco, Francisco Layon, diz que a falta de assertividade do grupo de Arthur Do Val em meio a esse imbróglio tem potencial para prejudicá-los muito mais internamente do que fora. "O MBL colocou panos quentes na atitude incorreta, incoerente, que não tem nada a ver com movimentos de renovação, que não tem nada a ver com liberalismo de um dos seus membros. As declarações do deputado podem, sim, afetar outros movimentos de renovação, mas no Livres não deve fazer diferença. O Livres se coloca contrário esse tipo de atitude, sempre se colocou contrário e representa uma forma muito diferente de fazer política", cravou.

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Para o representante do Livres, o mais importante papel que esses grupos de renovação terão no pleito deste ano será o posicionamento contrário à polarização que se estabeleceu entre Lula e Bolsonaro. "Esse binarismo que divide o Brasil faz mal e não tem nada a ver com renovação. São projetos pessoais, dos seus grupos, e que não representam a maior parcela da sociedade, que se abraça com esses projetos pela conveniência do que está acontecendo na política. Se você for para o dia a dia, as pessoas gostariam de ter uma alternativa, e eu acho que o papel do movimento de renovação é esse, representar anseios diferentes da sociedade", frisou Layon.

OUTRO LADO

Em nota enviada nesta segunda-feira (28) para o Jornal do Commercio, o coordenador do MBL Pernambuco, Victor Pradines, afirmou que, diferentemente do que representantes de movimentos liberais "que tentam tomar o espaço ganho pelo MBL a nível nacional" dizem, o grupo não minimizou o caso do deputado Arthur do Val. Segundo ele, o MBL lançou diversas notas a respeito do ocorrido, seus principais líderes repudiaram as falas do parlamentar e o próprio deputado retirou a pré-candidatura ao Governo de São Paulo.

"Ainda que realmente tenham sido erradas as falas ditas pelo deputado, e foram, ninguém nega isto, isso em nada tem a ver com questões ideológicas do liberalismo, como tentam afirmar os outros, posto que a fala não diz respeito à sua atuação política, que deve-se ressaltar, não há igual ou melhor por parte de ninguém dos outros movimentos. Arthur cumpriu com excelência sua finalidade na Alesp e infelizmente foi inconsequente em suas falas, que nada tiveram de ilegais, sendo apenas reprováveis", afirma Pradines, no texto.

O coordenador do MBL diz, ainda, que o grupo é contra "a destruição de reputação que figuras da esquerda e direita tentam fazer" por questões que não envolvem o áudio do deputado, contra o não reconhecimento do principal motivo da viagem que Do Val fez, e contra a "quantidade de fake News disparadas contra o MBL nesses últimos dias".

"Enquanto isso, movimentos que deveriam unir forças pela pauta fora Lula e Bolsonaro, atacam de forma deliberada o principal ator politico nessa construção, que é o Movimento Brasil Livre, tentando ganhar espaço em cima do erro ao qual houve retratação e consequências. Estão contribuindo para prejudicarem a si mesmos com a exposição incessante do ocorrido, já que acreditam que isto os afeta. Não nos parece ser uma estratégia muito inteligente, e a superação desse assunto é fundamental para seguir no propósito maior que é a derrocada de pessoas corruptas do poder. Renovação por renovação não ajuda em nada, a renovação pela renovação pode trazer novos corruptos pra dentro do jogo. Ou seguimos juntos com o que temos de melhor para acabar com o populismo barato de Lula e Bolsonaro, ou em 2023 teremos mais do mesmo", finaliza Pradines.

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