Pobreza em Pernambuco: o chão, forrado apenas com lençol, é a cama das crianças na casa dos 16 netos de dona Cristina

Família de dona Cristina vive em situação de pobreza, sem cama para dormir, sem água e sem saneamento, na comunidade do Bode, no Pina, Zona Sul do Recife
Adriana Guarda
Publicado em 19/08/2022 às 22:04
Crianças não têm colchão para dormir e deitam no chão sobre os lençóis Foto: Gabriel Ferreira/JC Imagem


A hora de dormir na casa de dona Maria Cristina dos Santos é um desafio às leis da física. É preciso ‘espremer’ 16 crianças e jovens, além de quatro adultos para caber em dois vãos. Todos precisam se acomodar em uma cama de casal, um sofá e no piso de cimento grosso sem colchão, forrado apenas com lençol.

O espaço é tão apertado que, para organizar a dormida, é necessário colocar para fora de casa duas cadeiras (com os encostos quebrados) e uma pequena mesa da sala.

“Depois eu varro o chão, forro os lençóis e eles deitam. Meus netos ficam reclamando que é duro, que as costas doem, mas dormem assim mesmo. O pior é quando chove, que a casa fica alagada e o chão todo molhado", conta.

Dona Cristina divide a cama já bastante quebrada e com o colchão rasgado com mais três netos. Golpe no bem-estar e na dignidade das pessoas - Gabriel Ferreira/JC Imagem

Quarto e cozinha no mesmo espaço

Além desta sala, o outro cômodo funciona como quarto e cozinha. Um fogão e a geladeira quebrada dividem espaço com a única cama box de casal, que está com o colchão de cima bastante rasgado e desgastado, além da parte de baixo com a estrutura furada. Ali também é preciso dormir no chão sem colchão e se imprensar em todos os cantinhos do cômodo para caber todo mundo.

O relatório sobre insegurança alimentar da Rede Penssan demonstra que os impactos da fome são mais severos em lares com moradores de até 10 anos de idade. Nesses casos, a falta de comida no prato dobrou de 9,4% para 18,1% da população entre 2020 e 2022.

Na casa de dona Cristina são 12 crianças com idades de até 10 anos e quatro adolescentes com idades entre 12 e 14 anos.

DOAÇÕES

Para além do Poder Público, a sociedade civil e as empresas têm mostrado a importância de agir imediatamente no combate à falta de comida, porque quem tem fome não pode esperar.

"Tem gente com fome, dá de comer", como bem disse o poeta pernambucano radicado em São Paulo, Solano Trindade.

Na casa de dona Cristina, tem gente com fome, precisando de colchões, lençóis e tantos outros itens. É doloroso ver crianças e jovens condenados a esta realidade.

Quem quiser e puder contribuir pode enviar e-mail para a repórter, autora desta reportagem, (adrianaguarda@jc.com.br) e obter o contato da família para fazer doação.

A fome é um problema de todos nós.

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