A hora de dormir na casa de dona Maria Cristina dos Santos é um desafio às leis da física. É preciso ‘espremer’ 16 crianças e jovens, além de quatro adultos para caber em dois vãos. Todos precisam se acomodar em uma cama de casal, um sofá e no piso de cimento grosso sem colchão, forrado apenas com lençol.
O espaço é tão apertado que, para organizar a dormida, é necessário colocar para fora de casa duas cadeiras (com os encostos quebrados) e uma pequena mesa da sala.
“Depois eu varro o chão, forro os lençóis e eles deitam. Meus netos ficam reclamando que é duro, que as costas doem, mas dormem assim mesmo. O pior é quando chove, que a casa fica alagada e o chão todo molhado", conta.
Além desta sala, o outro cômodo funciona como quarto e cozinha. Um fogão e a geladeira quebrada dividem espaço com a única cama box de casal, que está com o colchão de cima bastante rasgado e desgastado, além da parte de baixo com a estrutura furada. Ali também é preciso dormir no chão sem colchão e se imprensar em todos os cantinhos do cômodo para caber todo mundo.
O relatório sobre insegurança alimentar da Rede Penssan demonstra que os impactos da fome são mais severos em lares com moradores de até 10 anos de idade. Nesses casos, a falta de comida no prato dobrou de 9,4% para 18,1% da população entre 2020 e 2022.
Na casa de dona Cristina são 12 crianças com idades de até 10 anos e quatro adolescentes com idades entre 12 e 14 anos.
Para além do Poder Público, a sociedade civil e as empresas têm mostrado a importância de agir imediatamente no combate à falta de comida, porque quem tem fome não pode esperar.
"Tem gente com fome, dá de comer", como bem disse o poeta pernambucano radicado em São Paulo, Solano Trindade.
Na casa de dona Cristina, tem gente com fome, precisando de colchões, lençóis e tantos outros itens. É doloroso ver crianças e jovens condenados a esta realidade.
Quem quiser e puder contribuir pode enviar e-mail para a repórter, autora desta reportagem, (adrianaguarda@jc.com.br) e obter o contato da família para fazer doação.
A fome é um problema de todos nós.