ELEIÇÕES 2022

Um casebre de taipa no Agreste de Pernambuco, o ponto de partida da trajetória de Lula

Tudo começou em uma casa de taipa nos arredores de Caetés, onde Lula, o sétimo de oito irmãos, nasceu em uma família de agricultores analfabetos

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Amanda Azevedo

Publicado em 25/09/2022 às 16:53 | Atualizado em 25/09/2022 às 17:05
Réplica da casa em que Lula nasceu - CARL DE SOUZA / AFP

Por Joshua Howat Berger, da AFP

Em um piscar de olhos, Eraldo dos Santos mostra o interior do diminuto casebre de barro, muito parecido com aquele em que seu primo, Luiz Inácio Lula da Silva, começou sua improvável trajetória ao Palácio do Planalto.

Mobiliado com simplicidade, com uma cama de palha, um forno à lenha e uma imagem de Jesus na parede, o casebre marrom, às margens de uma estrada empoeirada de Caetés, no Agreste pernambucano, é réplica de outro, destruído há tempos, onde nasceu o ex - e talvez futuro - presidente do Brasil.

Enquanto se aproxima a definição de uma eleição polarizada, em outubro, Santos, primo em segundo grau de Lula, diz que queria reconstruir a casa de três cômodos estreitos para recordar as origens humildes do líder histórico da esquerda.

Eraldo dos Santos, primo de Lula - CARL DE SOUZA / AFP

Amando ou odiando Lula - e atualmente há muitos brasileiros dos dois lados -, pelo menos existe consenso sobre sua trajetória excepcional.

Ele ascendeu da pobreza profunda até chegar à Presidência da República (2003-2010), pelo Partido dos Trabalhadores (PT).

Mas sofreu um declínio espetacular, ao ser preso por acusações de corrupção (2018-2019), antes que a Justiça anulasse suas condenações, embora não o tenha absolvido.

Agora, aos 76 anos, pode estar prestes a voltar ao Planalto, derrotando, se as pesquisas se confirmarem, o presidente Jair Bolsonaro.

Família de agricultores

Tudo começou em uma casa de taipa nos arredores de Caetés, onde Lula, o sétimo de oito irmãos, nasceu em uma família de agricultores analfabetos.

Na época, "nem hospital a gente tinha" na região, diz Dos Santos, de 68 anos, que assim como o primo famoso abandonou muito jovem o semiárido para trabalhar em São Paulo, onde ambos se tornaram metalúrgicos e dirigentes sindicais.

Pela manhã, Lula visitou réplica da casa onde nasceu, em Caetés - Ricardo Stuckert/Divulgalção

"O povo pobre, o agricultor, só tinha condições para fazer esse tipo de casa, uma casinha muito simples, um teto para dormir", explica.

Na verdade, esta é a segunda réplica da casa onde Lula nasceu.

A primeira, erguida no começo de sua Presidência por um irmão já falecido e o prefeito, também desabou, assim como a original. Resta apenas uma pilha de terra e paus.

Dos Santos, um "nordestino" orgulhoso que voltou à região há 25 anos, construiu a nova versão com uma estrutura de ferro e cimento, e jogou barro por cima.

"Tive que adaptar o passado", diz, mostrando em meio à barba grisalha um sorriso que lembra o de Lula.

Ele terminou a "Casa da Dona Lindu", assim nomeada em homenagem à mãe de Lula, há uns três meses, com a ajuda de outro primo e aliados do ex-presidente.

Lula, que deixou o nordeste aos sete anos, a visitou em julho e foi visto sorrindo e tirando fotos na janela da frente.

"Acredito que passou um filme muito importante na cabeça dele", diz Dos Santos, que se refere ao primo como "um cara fantástico".

Os seguidores de Lula são muitos nesta região, uma das mais beneficiadas pelo auge econômico e as políticas sociais de seus mandatos.

Do outro lado da casinha, um vizinho, Paulo Gomes Bizerra, de 50 anos, compôs uma música em sua homenagem: "O Lula voltou como herói", canta no estribilho.

Na cidade vizinha de Garanhuns, Tiago Azevedo, um vendedor ambulante de 42 anos, lembra da presidência de Lula como um marco para os pobres e a classe trabalhadora.

"Ele trouxe energia para o pessoal que não tinha eletricidade, ele deu mais chance para o pessoal fazer faculdade. A gente vê muito pobre que antes do Lula nunca teve condições de ter uma motocicleta, um carro, e depois do governo dele conseguiu", afirma.

Mas até mesmo aqui, Lula tem seus detratores.

Em "Lulão", bairro de casas construídas durante o governo do ex-presidente, as vizinhas Maria e Renata da Silva discutem acaloradamente.

"Lulão", bairro de casas construídas durante o governo do ex-presidente Lula - FLORIAN PLAUCHEUR / AFP

"Ele (Lula) foi ótimo. Ele foi um bom presidente, ajudou muita gente", diz Renata, de 30 anos, mãe de três filhos. "Com o Bolsonaro, as coisas só aumentaram. Está tudo caro", acrescenta.

Maria, uma mãe solteira de 38 anos, mãe de dois filhos, responde com uma gargalhada.

"O PT só foi roubar. Deixou um buraco no Brasil", contra-ataca.

"Não vou mentir... Eu vou votar no Bolsonaro", revela.

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