ROMEU ZEMA:governadores do Nordeste criticam declarações de Romeu Zema e defendem união nacional

Romeu Zema afirmou que os estados do Sul e do Sudeste devem se unir para evitar o protagonismo das outras regiões no Congresso Nacional
Roberta Soares
Publicado em 06/08/2023 às 19:33
Governador de Minas Gerais voltou a dizer que quer protagonismo político para as Regiões Sul e Sudeste contra os demais estados do País Foto: Foto: Assembleia Legislativa de Minas Gerais/ Divulgação


Os governadores que representam os nove estados do Nordeste criticaram as declarações do governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), neste fim de semana, na qual o gestor defende uma frente Sul-Sudeste contra o Norte e o Nordeste brasileiros.

Os governadores consideraram a entrevista separatista e, por isso, defendem uma união nacional. O posicionamento veio numa nota oficial do Consórcio Interestadual de Desenvolvimento Sustentável do Nordeste (Consórcio Nordeste), divulgada neste domingo (6/8).

Na entrevista, o chefe do Executivo mineiro voltou a defender o protagonismo político para as Regiões Sul e Sudeste. "Sempre vamos estar em desvantagem", disse o chefe do Executivo mineiro ao mencionar que o grupo tem apenas sete das 27 unidades federativas.

Lembrando que o slogan do Consórcio Nordeste é “o Brasil que cresce unido, negando qualquer tipo de lampejo separatista”, os governadores regionais defendem “um Brasil, democrático, inclusivo e, portanto, de união e reconstrução”.

Destacam, ainda, que a entrevista de Zema “parece aprofundar a lógica de um País subalterno, dividido e desigual”. E seguem afirmando que o governador mineiro demonstra “uma leitura preocupante do Brasil que, ao defender o separatismo do Sul e Sudeste, indica um movimento de tensionamento com o Norte e Nordeste, sabidamente regiões que vêm sendo penalizadas, ao longo das últimas décadas, dos projetos nacionais de desenvolvimento”.

A nota é assinada pelo atual presidente do Consórcio Nordeste, o governador da Paraíba, João Azevedo (PSB). “É importante reafirmar que a união regional dos estados Nordeste e, também, os do Norte, não representa uma guerra contra os demais estados da federação, mas uma maneira de compensar, pela organização regional, as desigualdades históricas de oportunidades de desenvolvimento", declarou João Azevêdo.

Em junho, durante encontro do Consórcio de Integração Sul e Sudeste (Cosud), em Belo Horizonte, Zema teve que se retratar depois de dizer que estes estados concentram mais trabalhadores que no restante do Brasil.

RAQUEL LYRA SE POSICIONA NAS REDES SOCIAIS

LANÇAMENTO PROGRAMA JUNTOS PELA SEGURANÇA RAQUEL LYRA - Governadora Raquel Lyra foi às redes sociais defender o Nordeste

Além de integrar a nota do Consórcio Nordeste, a governadora de Pernambuco, Raquel Lyra (PSDB), foi às redes sociais para criticar a fala de Zema e lembrar que o Nordeste deve, sim, receber atenção do País para compensar os históricos descaso e indiferença.

“O Nordeste é parte da solução do País e deve receber atenção nas discussões federativas por tanto tempo de descaso e indiferença. Nossos pleitos não vão além do que é justo diante de uma construção histórica tão conhecida. Não construiremos o Brasil que sonhamos c/ + desigualdade”, afirmou no Twitter.

 

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CONFIRA A NOTA OFICIAL DO CONSÓRCIO NORDESTE NA ÍNTEGRA:

“O governador de Minas Gerais, em entrevista publicada no jornal O Estado de São Paulo em 05 de agosto, demonstra uma leitura preocupante do Brasil. Ao defender o protagonismo do Sul e Sudeste, indica um movimento de tensionamento com o Norte e o Nordeste, sabidamente regiões que vem sendo penalizadas ao longo das últimas décadas dos projetos nacionais de desenvolvimento.

O Consórcio Nordeste, assim como o da Amazônia Legal, valendo-se da profunda identidade regional, cultural e histórica, foram criados com o objetivo de fortalecer essas regiões, unindo os estados em torno da cooperação e compartilhamento de melhores práticas e soluções de problemas comuns, buscando contribuir com o desenvolvimento sustentável e a mitigação de nossas desigualdades regionais.

Negando qualquer tipo de lampejo separatista, o Consórcio Nordeste imediatamente anuncia em seu slogan que é uma expressão de “O Brasil que cresce unido”. Enquanto Norte e Nordeste apostam no fortalecimento do projeto de um Brasil democrático, inclusivo e, portanto, de união e reconstrução, a referida entrevista parece aprofundar a lógica de um país subalterno, dividido e desigual.

Já passou da hora do Brasil enxergar o Nordeste como uma região capaz de ser parte ativa do alavancamento do crescimento econômico do país e, assim, contribuir ativamente com a redução das desigualdades regionais, econômicas e sociais. É importante reafirmar que a união regional dos estados Nordeste e, também, os do Norte, não representa uma guerra contra os demais estados da federação, mas uma maneira de compensar, pela organização regional, as desigualdades históricas de oportunidades de desenvolvimento.

Agnelo Câmara/Divulgação - Presidente do Consórcio Nordeste e governador da Paraíba, João Azevedo, assinou carta repudiando declarações de Romeu Zema

Nesse contexto, indicar uma guerra entre regiões significa não apenas não compreender as desigualdades de um país de proporções continentais, mas, ao mesmo tempo, sugere querer mantê-las, mantendo, com isso, a mesma forma de governança que caracterizou essas desigualdades.

A união dos estados do Sul e Sudeste num Consórcio interfederativo pode representar um avanço na consolidação de um novo arranjo federativo no país. Esse avanço, porém, só vai se dar na medida em que todos apostarmos num Brasil que combate suas desigualdades, respeita as diversidades, aposta na sustentabilidade e acredita no seu povo.

Assim, nós, governadoras e governadores da Região Nordeste, além de defendermos um Brasil cada vez mais forte e próspero, apelamos pela união nacional em torno da reconstituição de áreas estratégicas para o nosso país, a exemplo da economia, segurança pública, educação, saúde e infraestrutura. Nordeste do Brasil, 06 de agosto de 2023”.

JOÃO AZEVÊDO Presidente do Consórcio Nordeste Governador do Estado da Paraíba

ENTENDA O QUE AFIRMOU ROMEU ZEMA

Em entrevista exclusiva ao jornal O Estado de São Paulo, o governador - que tem planos para a presidência em 2026 - defendeu a união do consórcio formado pelos estados do Sul e do Sudeste (chamado Cossud) para barrar propostas no Congresso Nacional que possam causar perdas econômicas para as duas regiões.

A declaração foi dada em resposta às propostas que têm sido apresentadas e beneficiado o Norte e o Nordeste pela atual gestão federal, agora pela terceira vez sob o comando do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), nordestino de nascença e alma.

“Outras regiões do Brasil, com estados muito menores em termos de economia e população, se unem e conseguem votar e aprovar uma série de projetos em Brasília. E nós, que representamos 56% dos brasileiros, mas que sempre ficamos cada um por si, olhando só o seu quintal, perdemos. Ficou claro nessa reforma tributária que já começamos a mostrar nosso peso”, declarou Zema.

Opositor público do governo de Lula, o chefe do Executivo de Minas defendeu o Consórcio Sul-Sudeste (Cossud), que é presidido pelo governador do Paraná, Ratinho Júnior (PSD). Zema, que já fez declarações e postagens nas redes sociais que remetem ao facismo, afirmou ser necessário defender o Sul e Sudeste em medidas apresentadas na reforma tributária.

Isso porque, segundo ele, os estados das duas regiões sempre vão estar em desvantagem. “Temos feito o mesmo trabalho com os senadores de nossos estados. O que nós queremos é que o Brasil pare de avançar no sentido que avançou nos últimos anos – que é necessário, mas tem um limite – de só julgar que o Sul e o Sudeste são ricos e só eles têm que contribuir sem poder receber nada”, disse Zema.

“Está sendo criado um fundo para o Nordeste, Centro-Oeste e Norte. Agora, e o Sul e o Sudeste não têm pobreza? Aqui todo mundo vive bem, ninguém tem desemprego, não tem comunidade…Tem, sim. Nós também precisamos de ações sociais. Então Sul e Sudeste vão continuar com a arrecadação muito maior do que recebem de volta? Isso não pode ser intensificado, ano a ano, década a década”, completou o governador de Minas Gerais.

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