“Graças a Deus”. Esta é, sem dúvida, a frase mais comum usada pelos atletas brasileiros nas Olimpíadas sempre que vem uma conquista, sobretudo de medalhas. Como não é citada em microfones, ficando restrita ao alcance das pessoas vizinhas, não há punição. Coisa bem diferente acontece quando algo assim vem a público como ocorreu com a skatista Raissa, medalha de bronze esta semana em Paris. Antes de realizar a manobra que lhe garantiu a medalha de bronze, ela se expressou na língua brasileira de sinais, voltada para as pessoas surdas, transmitindo a frase “Jesus é o caminho, a verdade e a vida”. Como os gestos da brasileira para fazer sua frase ser compreendida foi transmitida pela TV e redes sociais, Raissa está ameaçada de sofrer punição.
Na verdade, isso não é novo. O artigo 50, da Carta Olímpica, escrita há dezenas de anos estabelece que “ não é permitido, em qualquer instalação olímpica, qualquer manifestação de propaganda religiosa ou política”. Isso tem sido obedecido pelo menos pelos brasileiros mas este ano o caráter religioso talvez tenha ultrapassado as proibições olímpicos depois que uma das mais comentadas imagens da festa de abertura dos jogos, em Paris, mostrava a reprodução da Última Ceia, muito cara aos cristãos, em caráter profano, logo associada a um desrespeito à figura de Jesus Cristo e aos cristãos. O fato levou os bispos franceses a se manifestarem dizendo que a cena “foi um escárnio” e uma “zombaria ao cristianismo”. Houve uma resposta dos organizadores informando em comunicado “assumimos que ultrapassamos a linha”. Mas ficou por isso mesmo.
Mas, além do caso de Raissa, outros atletas brasileiros fizeram questão de manifestar sua crença religiosa, se não abertamente mas nos corredores da festa ou em suas redes sociais. A cena olímpica mais vista na Internet esta semana foi uma foto incrível do surfista brasileiro Gabriel Medina que, após fazer uma manobra em onda gigantesca, foi reproduzido, em pleno ar, com a prancha presa a seu pé por um cordão nas lentes do fotógrafo francês Jerome Brouillet, da AFP. Medina colocou de imediato a foto em seu instagran e escreveu a seguinte mensagem: “Tudo posso naquele que me fortalece”(Filipenses 4,13), uma passagem bíblica. Em menos de 24 horas seu post já tinha mais de 5 milhões de visualizações.
Outra atleta brasileira, Larissa Pimenta, que conquistou a medalha de bronze no judô derrotando a italiana Odette Giufrida, foi às lágrimas e acabou consolada pela adversária. Ao ser indagada pela imprensa como sentia o fato de ter sido abraçada pela pessoa que acabara de derrotar, ela falou: “eu a ajudei a conhecer Jesus e então agora ela me falou Toda glória você tem que dar para ele”.
O surfista carioca João Chianca conheceu o rigor das Olimpíadas a respeito de manifestações religiosas antes mesmo de deixar o Brasil quando recebeu dos organizadores brasileiros uma ordem para raspar as imagens do Cristo Redentor que mandara reproduzir em suas pranchas. Mesmo alegando que as imagens não iriam mostrar apenas sua fé mas também a importância da imagem do Cristo Redentor para o Rio de Janeiro e o turismo carioca, Chianca teve que raspar tudo que tinha sido pintado.
A postura do Comitê Olímpico a respeito de propagandas políticas ou religiosas tem razão de ser. Na festa Olímpica há todas as nações e crenças reunidas e qualquer coisa que envolva crenças e paixões (politicas) pode causar atropelos. Só que este ano o Comitê só cuidou de podar os atletas. Não verificou antes – pelo menos é o que se presume – o que os franceses estavam, nos detalhes, se preparando para mostrar ao mundo como a imagem Última Ceia, considerada ofensiva pelos cristãos, já citada acima. Na Internet, os responsáveis pela festa em Paris foram xingados de forma escancarada por cristãos enfurecidos e muitos disseram que queriam ver os europeus fazerem o mesmo com Maomé, o profeta dos muçulmanos. A França, que já foi a nação mais católica do mundo, hoje abriga milhões de mulçumanos em seu território.